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2938 DIÁRIO DAS SESSÕES N.° 145

premente de, paralelamente, incrementar mais toda a actividade produtiva e de se reduzirem os gastos supérfluos e de se procurar investir conscienciosamente, quer nos serviços públicos, quer nos privados, de modo a não desperdiçar dinheiro em empresas aventurosas que não tenham um mínimo de viabilidade económica. Devemos capacitar-nos todos de que é preciso dinamizar cada vez mais toda a actividade produtiva e evitar fazer gastos não prementes ou até supérfluos, para poder ocorrer a necessidades imprevistas, porventura imperiosas, Muito embora pese aos arautos da sociedade de consumo, o velho lema do «produzir e poupar» tem, nos dias de hoje, uma flagrante actualidade, sobretudo para fazer frente à doença inflacionista que tenta corroer o corpo da Nação, doença que tão difícil torna a vida ao comum dos portugueses e à sombra da qual floresce «toda uma classe parasitária de oportunistas sem escrúpulos», como ainda não há muito tempo observou o Chefe do Governo, Prof. Doutor Marcelo Caetano.

Mas o que observamos nós? Sem que nos mova o gosto amargo de dizer mal ou o pendor para um criticismo despudorado e malévolo que tanto por aí grassa e, por vezes, com um manifesto propósito de minar a resistência da retaguarda política, não podemos deixar de repisar criticas que, por outras ocasiões de discussão da lei de meios e das contes públicas, a minha consciência me impôs. Em tais documentos se apontam sempre aos serviços rígidas normas de austeridade, sempre moralizadoras, e que as actuais circunstâncias plenamente justificam.

Por isso é que, sem me desviar do caminho da sinceridade que prometi a mim mesmo seguir e impondo como único limite a algumas desilusões e desgostos o risco da dignidade, não podemos deixar de referir a existência de um ambiente geral de relaxamento, de deixar correr, com a cumplicidade, consciente ou inconsciente, de muitos que tinham especial dever de reagir e que, impávidos e serenos, a tudo assistem. E, por um lado, topamos com uns que parecem andar esquecidos de certas verdades elementares, como a de que a verdadeira fonte de riqueza é o trabalho do homem e que, sem riqueza, não há prosperidade individual e colectiva, pensando apenas em encher as algibeiras com pouco ou nenhum trabalho, com acumulação de lugares chorudos e exageradas remunerações, aos quais cabe perfeitamente a observação do nosso padre António Vieira: «Não pergunto quando vivem nem como vivem. Não pergunto como acodem a suas obrigações, nem quando acodem a elas. Só pergunto como se confessam»; e, por outro lado, há aqueles que, em vez de tudo fazerem para tentar elevar o nível da produção, antes procuram diminuir o esforço sem preocupação pelo que possa acontecer quanto à produtividade, não obstante esta ser factor de todo o desenvolvimento.

E por tudo são festas, homenagens, banquetes, deslocações de entidades oficiais ou oficializadas com séquitos lautamente compostos, concessão de suicídios avultados para viagens de grupos ao estrangeiro, sem uma imediata necessidade e duvidoso proveito para o País, distribuição a granel de luxuosas publicações que, a maior parte dais vezes, nem lidas são, obras sumptuosas, o uso e abuso dos automóveis do Estado, dos organismos corporativos e corpos administrativos que, pela autuação despudorada de muitos servidores e falta de sensibilidade social, fazem recair sobre a Administração críticas justas e comentários d desprestigiantes.

Ora, todas estas manifestações e outras mais que ficam por referir, atentatórias das normas de austeridade, de parcimónia e severidade nos gastos públicos, constituem afronta para os portugueses mais necessitados, que podem julgar que «nadamos na abundância de recursos humanos e materiais», quando a verdade é não estarmos em tempos fáceis, antes vivermos «horas muito críticas, horas em que a agudeza dos problemas nacionais é agravada por inquietantes condições da economia e da política internacionais» .

Ainda recentemente o secretário provincial do Planeamento de Angola, num colóquio sobre produtividade administrativa, pronunciava palavras que constituem uma chamada à razão e ao bom senso dos Portugueses para o grave risco que se corre se nos mantivermos alheios a toda uma política de austeridade e seriedade com contornos que escandalizam pelo «comodismo, e apatia e a indiferença de alguns», pelo que aquele alto funcionário, em certo passo, afirmou: «Austeridade que, infelizmente, anda um tanto esquecida, não só da parte de alguns serviços e funcionários, como também da parte de alguns responsáveis do sector privado, austeridade que não é de modo algum conciliável com certa vida social mais ou menos fútil, austeridade que, no entanto, gritantemente reclamam as situações cambial, financeira e militar, para não falar já na justiça social.»

E num lúcido e acutilante comentário pedia ler-se no Diário dc Lisboa, de 9 do mês passado:

Também por cá, no que nos cerca, não faltam razões para se dar conta do despegado culto da futilidade, como se vivêssemos no melhor dos mundos, como se não houvesse motivos de preocupação, como se não houvesse dificuldades e cada um entendesse que isso não é consigo, mas com os outros. E possível falar em sacrifícios, é possível pedi-los ao País, ao mesmo tempo que tantos são os que no mesmo país estadeiam o gosto pela vida fácil?

Verdades como punhos se contêm nas palavras do secretário provincial de Angola, bem como nas do comentarista do referido vespertino.

A hora é, na verdade, de sacrifício, tal como quando Salazar iniciou a obra redentora para a Nação. E fazendo apelo a quem o quisesse acompanhar na tarefa salvadora, ele, que, corajosa e duramente, prometera sacrifícios e restrições, não se esqueceu de anunciar a glória que nos esperaria ao fim do caminho encetado.

E fê-lo, como sempre, em página digna de uma antologia:

Teremos de sofrer em vencimentos diminuídos, em aumentos de impostos, em carestia de vida. Sacrifícios, e grandes, temos nós já feito até hoje, e infelizmente perdidos para a nossa salvação; façamo-los agora com finalidade definida, integrados em plano de conjunto, e serão sacrifícios salutares. É a ascensão dolorosa de um calvário. Repito: é a ascensão dolorosa de um calvário. No cimo podem morrer os homens, mas redimem-se as pátrias!

Também o actual Chefe do Governo, ainda em 27 de Setembro passado, alertava os portugueses «que pensam que tudo lhes é devido e nada lhes leve ser exigido» ao afirmar que «só uma gestão cuidadosíssima dos dinheiros públicos permite fazer o esforço que estamos a fazer com as forças armadas e ao mesmo tempo atender ao mais preciso à conservação e ao progresso da vida nacional. Gestão cuidadosíssima dos dinheiros públicos . . . para que os cidadãos não reclamem a cada passo novas despesas e para que os funcionários tomem consciência do seu dever de não delapidar o que há».