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5 DE ABRIL DE 1972 3487

Actividades agro-industriais, contribuindo cumulativamente para a produção de bens alimentares, devem concertar-se em termos de melhor servirem o interesse da comunidade nacional.
Não iremos apreciar - importará menos a discussão, mas mais a acção - onde reside a força motriz dos modernos "economias alimentares": se na agricultura atricto scnsu, que lhe dá o ser, se na indústria, que mais e mais a transforma, se no comércio, que prospecta os mercados e demanda- os produtos de acordo com as novos solicitações da procura.
O que importa, sobretudo, é que se proceda a urgente coordenação destes sectores da actividade alimentar, no sentido de encontrar soluções compatíveis com o progresso simultâneo do conjunto, quer no aspecto técnico, quer no económico e social.
É óbvio que situações de 'privilégio, porventura adquiridas- e mantidas por certos sectores da actividade económica nacional em detrimento dos demais, haveriam de introduzir sempre elementos de injustiça e até de fragilidade no conjunto da economia e sociedade portuguesas - que o digam o milhão de rurais que se pôs em marcha entre os recenseamentos de 1960 e de 1970 dos meios agrários metropolitanos.
Facto é que à medida que evoluem as técnicas de transformação dos produtos alimentares e aumentam as exigências do consumo, os exclusivamente produtores de bens primários (os "agricultores" tradicionais) auferem uma parte progressivamente menor de preço pago no consumidor pelos (produtos vegetais ou animais transformados, acondicionados, distribuídos.
Assim: o concentrado de tomate vendido em mercados exigentes atinge preço" no consumidor em relação aos quais a matéria-prima (tomate fresco) não representa mais que 16 por cento do valor; em contrapartida, o custo da embalagem ascende frequentemente a Sá por cento.
Na azeitona de conserva, recheada, quando em embalagens de vidro bem apresentadas e de marcas consagradas, o custo da matéria-prima situa-se geralmente entre 5 e 10 por cento do preço do produto embalado.
A incidência da matéria-prima, como o malte, o lúpulo, a fruta ou os produtos hortícolas, o amendoim ou o cacau, nos preços finais da cerveja, sumos de fruta, sopas confeccionadas, óleos alimentares ou chocolates, tal incidência vem extraordinariamente atenuada ou diluída pelas parcelas de custo real ou atribuído da transformação, acondicionamento, embalagem, transporte, distribuição, publicidade, crédito e venda.
É certo que a disparidade dos diferentes estádios de progresso entre a produção e a transformação ou distribuição de bens alimentares e o alongamento do seu círculo produtivo justifica muito do desfasamento entre um e outros valores, mas não explica totalmente a ampla parcela que se esvai da parte do produtor ao valor final do bem alimentício, agravando desequilíbrios sectoriais e regionais de repartição de rendimentos que deveriam ser algo contrariados ou corrigidos em sua distorção.
Perante a lavoura tradicional põe-se, portanto, o seguinte dilema: ou entra como "parceiro" efectivo na actividade de transformação de produtos agrícolas através de uma "integração vertical" ou mediante esquemas de colaboração com a indústria, ou apenas lhe resta a alternativa de permanecer como fornecedora de matérias-primas, não participando no "valor acrescentado" trazido pela transformação e acabamento final dos produtos.
Nesta última circunstância haverá de permanecer como o "parceiro pobre" do circuito económico e todas essas demissões se pagam em termos da deserção de mão-de-obra e de empresários agrícolas, em termos de valorização das suas produções e nível de vida - mas também o sente a comunidade nacional, através das importações maciças de géneros alimentares, e fuga de trabalhadores para países que souberem alongar, acrescer, o ciclo produtivo da sua economia.
Sem territórios de além-mar, não é célebre a indústria suíça de chocolates? Tendo perdido as "colónias" (assim reconhecidas), não persiste poderosa a indústria holandesa de cafés solúveis e outros? Sem produção de tomate em quantidades industriais, não é mundialmente considerada a indústria inglesa de molhos ketchup? E que dizer da indústria de cornes, de lacticínios, de produtos hortícolas e frutícolas industrializados, de bolachas e biscoitos, de oleaginosas, estrangeiras, que invadem tantos dos nossos mercados e fazem a delícia de vistas (e mais do que isso ...) de quem percorra os nossos melhores estabelecimentos comerciais no campo da alimentação?
Mas voltemos ao agro e à sua transformação ...
Como movimento de defesa dos agricultores, não dispondo isoladamente de suficiente "força contratual" no mercado de produtos alimentares, surge, na generalidade dos países, o caminho do associativismo agrário para, congregando esforços, técnica e capitais, conseguirem criar as condições necessárias à transformação de matérias-primas agrárias em bens alimentares.
As cooperativas e outras formas de associativismo dos agricultores tendem a entrar assim abertamente no domínio da transformação dos produtos da terra, em competição com quem quer que se arvore industrial ou já exerça actividade transformadora no campo das indústrias alimentares agrárias.
Tal não exclui que por outras vias, nomeadamente de acordos colectivos de comercialização, se tente resolver o problema de uma melhor retribuição dos factores de produção agrícola e de mais equitativa repartição do "valor acrescentado", bem como da partilha de responsabilidades de riscos assumidos por agricultores e industriais.
Substituir a desconfiança que tem lavrado entre os dois sectores: agricultura e indústria, pela solidariedade na tarefa comum de produzirem e transformarem géneros agrícolas em bens alimentares de qualidade e preços competitivos, é meritória tarefa que deve empolgar quantos se encontram a frente dos destinos destes dois sectores da actividade económica nacional, e particularmente dos seus empresários.
Será possível removerem-se tão profundas e longínquas razões de desconfiança?
Estamos confiantes que sim, já que ambos as partes começam a denotar a consciência da sua interdependência, quer pelo retrocesso de explorações agrícolas a que faltou o apoio do mercado que actividades de transformação poderiam representar, quer pelos fracassos de unidades industriais que viram comprometido o seu labor por carência de abastecimento de matérias-primas na quantidade, qualidade e tempos desejados.
Tal leva-nos a pensar se não é de prosseguir agora mais aceleradamente a instalação de estabelecimentos industriais no campo, no qual parte dos tarefas de pré-transformação ou mesmo de transformação e condicionamento são deixadas a cargo de agricultores e suas associações agrárias.
Efectivamente, quando se pensa em indústrias alimentares agrícolas, o problema que imediatamente se levanta ó o da garantia do seu abastecimento em condições de satisfazer a capacidade instalada, as suas exigências em qualidade e custo de matéria-prima, o que tudo isso requer