O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

16 DE JANEIRO DE 1973 4191

Existem em Lisboa estabelecimentos hospitalares (Hospitais Civis, Instituto de Oncologia, etc.) e centros de investigação biológica e médica (Centro de Biologia da Fundação Gulbenkian, Instituto de Rocha Cabral e outros) completamente desaproveitados para a formação escolar. Há longo tempo que podiam ter-se utilizado, com grandes vantagens para o ensino, se a indolência, os interesses e as resistências não se opusessem a isso.
O Conselho da Faculdade de Medicina de Lisboa, na reunião de emergência do passado dia 11, autorizou que o ensino das clínicas passasse também a ser ministrado nos Hospitais Civis de Lisboa.
Mais vale tarde do que nunca! Uma medida deste alcance executada em tempo competente evitaria as angústias que nos dilaceram e os prejuízos causados aos estudantes e à Universidade.
Diz-se, com verdade, que as Universidades não se auto-reformam, e as Faculdades também não. O influxo reformador provirá das novas Universidades. Mas é preciso cuidar escrupulosamente de que os professores sejam jovens de alma inovadora. Para se mudar as coisas tem de se mudar os homens.
Sr. Deputado Almeida Cotia, V. Ex.ª deseja a palavra?

O Sr. Almeida Cotta: - Isso é uma afirmação, mas que resta demonstrar, e cuja demonstração se me afigura muitíssimo difícil!

O Orador: - Peço ao Sr. Deputado Almeida Cotta que me forneça o exemplo de uma Universidade que se tenha auto-reformado em Portugal.

O Sr. Almeida Cotta: - Todas! Todas! Sr. Professor Miller Guerra!

O Orador: - Faz o favor de me nomear uma?

O Sr. Almeida Cotta: - Todas as Universidades se vão auto-reformando ou vão evolucionando sucessivamente, mais lentamente ou mais apressadamente, aliás como todas as instituições, Sr. Professor Miller Guerra. Não há nenhuma instituição que fique estática a olhar para as estrelas, ou a olhar para o Sol, ou a olhar para V. Ex.ª

O Orador: - Muito bem! Então peço a V. Ex.ª que me designe que Universidade e em que época histórica se auto-reformou. Todas, como V. Ex.ª disse, é vago, Sr. Doutor, desejo uma resposta concreta. Faz o favor de me dizer: foi a Universidade tal, no ano tal.

O Sr. Almeida Cotta: - Bom, eu reconheço que posso ter tanta dificuldade como V. Ex.ª em fazer a demonstração.

O Orador: - Quer dizer, V. Ex.ª não sabe?

O Sr. Almeida Cotta: - Neste momento não sei, não tenho elementos concretos. Tanto mais que já fiz a afirmação de que em todas se opera a evolução.

O Orador: - V. Ex.ª não sabe, não é verdade?

O Sr. Almeida Cotta: - Sei! Sei!

O Orador: - Então tenha a bondade de dizer.

O Sr. Almeida Cotta: - Sei, pois, como já disse, é um princípio que se ajusta a qualquer instituição. Não há nenhuma que não se vá reformando. O que V. Ex.ª pode muito bem pôr em dúvida é se a reforma que sai da própria instituição é boa ou má. Mas não há instituições estáticas. Não há instituições, como não há homens, como não há pessoas; tudo vai evoluindo.

O Orador: - Sr. Doutor, V. Ex.ª não é capaz de me citar uma Universidade portuguesa que se tenha auto-reformado em qualquer época histórica.

O Sr. Almeida Cotta: - Em questão de ensino, isso é evidente. Quer fosse na Universidade de Lisboa, quer de Coimbra, em toda a parte. Penso que quando V. Ex.ª entrou para a Universidade se calhar até introduziu esse sopro novo na instituição que foi servir!

O Orador: - Eu nessa ocasião não introduzi coisa nenhuma. Sofri e sofro, que é coisa diferente.

Pausa.

O Orador: - Todas as Universidades se têm reformado por acção externa, quer do Governo, quer da sociedade. Não há nenhuma Universidade que se tenha auto-reformado. Esse é que é o drama da Universidade e de todas as instituições históricas.
Reafirmando: diz-se com verdade que as Universidades não se auto-reformam, e as Faculdades também não. O influxo reformador provirá das novas Universidades. Mas é preciso cuidar escrupulosamente que os professores sejam jovens de alma inovadora. Para mudar as coisas tem-se de mudar os homens.

O Sr. Moura Ramos: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Ocorreu no passado dia 1 de Janeiro o 6.º Dia Mundial da Paz, cuja celebração se fica devendo a feliz iniciativa do Papa Paulo VI e tomada com o propósito de que «[...] a exaltação do ideal da paz não seja entendida como um favorecer a ignávea daqueles que têm medo de dedicar a vida ao serviço da própria pátria e dos próprios irmãos, quando se acham empenhados na defesa da justiça e da liberdade».
Este ano, e com p lema «A paz é possível», procurou-se, tal como nos anos anteriores, inspirar as mentalidades e levar os corações, as consciências e as almas a promover e a praticar a paz.
Pois, apesar de assim ser, tanto bastou para que os responsáveis pela Comissão Diocesana Justiça e Paz, do Porto, pretextando a preparação desse dia, elaborassem e fizessem circular um «comunicado», contra o qual - e com o empenho posto sempre em servir, com fé e as forças que Deus me deu, os princípios em que alicerço a minha formação moral, política e religiosa - não posso nem devo dispensar-me de manifestar nesta Assembleia Nacional o meu protesto veemente e declarar a minha estranheza e o escândalo por algumas das despudoradas afirmações nele produzidas.
Decerto, no convencimento morbidamente estranho de que só assim conseguem ser adultos, conscientes e responsáveis e que darão mais vivamente testemunho de Cristo dentro do espírito pós-conciliar, os autores de tal «comunicado» não tiveram pejo algum em escrever frases agravantes para Portugal e a