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1 DE FEVEREIRO DE 1973 4483

Ora, não só a preservação dos valores próprios da cultura e da espiritualidade desses povos requer respeito, como, por outro lado, também a sua promoção social, embora rápida, não pode nem deve fazer-se arrancando-os bruscamente a um mundo sem os haver preparado primeiro para que possam viver felizes em outro.
Compreendem-se, assim, os difíceis e complexos problemas a encarar para que a TV possa ajustar-se a esses territórios, o que parece na verdade recomendar estudos cuidadosos e alguma prudência.
Todavia, quando ao mesmo tempo se verifica que os progressos tecnológicos nesta matéria levam já a considerar como aperfeiçoamento próximo a possibilidade de os utentes recolherem directamente nos receptores de suas casas as transmissões de televisão via satélite; quando as video-cassettes se estão desenvolvendo enormemente e já diversas firmas as produzem; parece não oferecer dúvidas que a técnica, ao permitir estas novas formas de contacto entre os povos, cria, por isso mesmo, novas zonas de fronteira entre as nações e, portanto, os Estados que quiserem acautelar a sua soberania deverão preocupar-se em ocupar devidamente o seu espaço nacional, também nestes domínios. Na verdade, se pensarmos - como se escreveu já - que assim como a década dos anos 50 foi a década da televisão a preto e branco e a dos anos 60 a da televisão a cores, a dos anos 70 será a década das video-cassettes, creio que imediatamente se concluirá do grande interesse que existe em encontrar prontamente para este problema as ajustadas soluções, por forma que a televisão no ultramar em breve se possa tornar uma realidade.
9. Cheguei ao final sem haver conseguido abordar muitos outros pontos do mais alto interesse: um, porém, não desejava esquecer.
Como disse já, os écrans da televisão - e de certo modo os do cinema - constituem novas dimensões do espaço nacional, que teremos de saber ocupar também, se verdadeiramente quisermos ser uma nação do futuro.
Todavia, já quase nem nos damos conta da invasão pacífica e subtil dos filmes estrangeiros no cinema e na televisão, e de tal modo o hábito se vai criando que o ouvido já quase estranha quando se assiste a um filme falado em português.
Compreendo bem as dificuldades que existem para multiplicar os programas nacionais, para produzir filmes ou para os dobrar e nada tenho contra o mais estreito convívio com o estrangeiro, pois julgo até esses contactos extremamente favoráveis à abertura dos espíritos a novas ideias, à compreensão mútua e ao estabelecimento de mais apertados laços entre toda a humanidade.
Os grandes espaços económicos aparecem como solução evidente para o futuro próximo, mas creio que a diversidade das línguas e os particularismos de cultura dos povos não são meros caprichos ou criação artificial dos homens, mas sim expressões bem mais profundas do seu ambiente físico e espiritual.
Essa a razão pela qual eu entendo que preservar e desenvolver uma cultura própria não é fechar-se ao convívio internacional - é apenas querer. ser alguém nesse mundo maior.
Penso, pois, que será do mais alto interesse tudo que se faça para promover e apoiar a realização de filmes e programas nacionais que possam correr o mundo - e principalmente ò mundo português - e penso também que aqui a comunidade luso-brasileira podia e deveria ter uma das suas grandes afirmações práticas: conseguirmos, Brasileiros e Portugueses, encontrar formas de activa colaboração que levassem à produção de muitos e bons filmes para cinema e para televisão, que assegurassem, neste campo também, à nossa língua e à nossa cultura uma presença condigna com as legítimas ambições que podemos alimentar quanto à sua projecção no futuro.
10. Estas as considerações que me sugeriu o presente aviso prévio - e todas elas foram ditadas pela ideia de que a autêntica dimensão de um homem, como a de uma nação, não é a do seu corpo, nem a dos seus haveres, mas sim a da sua alma e que, por isso, são os valores do espírito os que acima de tudo importa preservar.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Presidente; - Srs. Deputados: Vou encerrar a sessão.
Amanhã haverá sessão à hora regimental, tendo como ordem do dia a continuação da apreciação do aviso prévio sobre os meios de comunicação e problemática da informação em Portugal.
Está encerrada a sessão.

Eram 17 horas e 55 minutos.

Srs. Deputados que entraram durante a sessão:

João António Teixeira Canedo.
João Duarte de Oliveira.
Joaquim José Nunes de Oliveira.
José João Gonçalves de Proença.
Manuel José Archer Homem de Mello.
D. Maria Raquel Ribeiro.
Ramiro Ferreira Marques de Queirós.
Rogério Noel Peres Claro.
D. Sinclética Soares dos Santos Torres.
Ulisses Cruz de Aguiar Cortês.

Srs. Deputados que faltaram à sessão:

Albano Vaz Pinto Alves.
Alberto Marciano Gorjão Franco Nogueira.
Alexandre José Linhares Furtado.
António Bebiano Correia Henriques Carreira.
António Fausto Moura Guedes Correia Magalhães Montenegro.
Armando Júlio de Roboredo e Silva.
Armando Valfredo Pires.
Artur Augusto de Oliveira Pimentel.
Augusto Domingues Correia.
Augusto Salazar Leite.
Carlos Eugénio Magro Ivo.
Delfino José Rodrigues Ribeiro.
Deodato Chaves de Magalhães Sousa.
Fernando de Sá Viana Rebelo.
Francisco José Pereira Pinto Balsemão.