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20 DE OUTUBRO DE 1982 11

por excesso da ingestão de lípidos, outros sofrem mazelas terríveis devido a carências alimentares.
Enquanto uns se dão ao luxo de fazer planeamento familiar, baseando a demografia em termos científicos, outros têm um descontrole de natalidade que os torna cada vez mais carecidos.
Porém, num mundo em que todos os dias se avança no campo tecnológico, um dos principais problemas continua a existir perante a indiferença e a passividade de todos.
É triste verificar-se que, muito embora se saiba que o desequilíbrio se acentua, a Humanidade não desperta para a fome que avassala o mundo em todos os continentes.
Como se justifica que, morrendo diariamente à fome muitos milhares de pessoas, a Humanidade não sinta vergonha de continuar indiferente ao desrespeito de um dos seus mais elementares direitos - a alimentação?
Como se justifica que os países ricos continuem obcecados com a produção e aquisição de armas gastando verbas astronómicas - 90 milhões de contos por minuto - em vez de utilizarem essas verbas em bens reprodutivos que fariam a felicidade de tantos?
Permita-se-me, Sr. Presidente e Srs. Deputados, fazer aqui um apelo aos poderosos para que em vez de utilizarem a sua força e ciência na produção de meios de destruição as utilizem na realização equilibrada e racional dos recursos da natureza e que deles façam uma distribuição mais equitativa e justa.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Sabendo das dificuldades sentidas nos nossos dias, é bem sombrio o futuro se algo não se modificar, pois se em 1982 já estamos a pisar terrenos de equilíbrio crítico, como será a vida no ano 2000, prevendo-se, como se prevê, um aumento de 40% em termos demográficos?
Sr. Presidente e Srs. Deputados: Não é, porém, só a fome que leva ao sofrimento e que aniquila o ser humano, muito embora se saiba que ela tem matado mais gente que a própria guerra. Mas o número dos que assim morrem ainda é pequeno em comparação com os que vivem num regime alimentar inadequado para manter a saúde, sofrendo em maior ou menor grau de doenças de nutrição.
Sendo a luta contra a fome o mais antigo combate da Humanidade, a esse se vieram juntar tantos outros que se, não se completassem, não sei se não seriam dramáticos e mais complexos.
Abstraindo-me da fome física que o mundo desenvolvido relega para plano secundário, se nos quedarmos no mundo fisiológico, verificamos que o drama aumenta e de que maneira.
Sem termos necessidade de nos determos em qualquer análise, basta-nos referir a fome de toda a ordem dos nossos irmãos de Timor-Leste e quase que palavras não são necessárias para que a realidade fale por si.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Um povo que nunca conheceu no seu vocabulário as palavras fartura, alimentação racional, etc., etc.
Agora, porém, desde Dezembro de 1975, não só continua a não as conhecer, como sente, o morticínio, a destruição dos seus parcos recursos naturais, etc., etc.
Em suma, sente a verdadeira fome. Fome de alimentos, de tranquilidade, de liberdade, de justiça e de paz. Se à fome física juntarmos tudo isto, não será fome, mas sim miséria.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Permita-se-me remexer as águas, perturbar o clima de laxismo que tem sido criado sobre o quadro mais negro da história de um povo que se orgulha de ter dado ao mundo lições de honra e dignidade.
Creio, porém, não ser justo vir aqui falar no povo que, desta como de outras matérias, sabe só o que lhe dizem.
É certo que até há pouco tempo pouco ou nada se dizia sobre o genocídio timorense. Em boa hora este hemiciclo aprovou, por unanimidade, em Março passado, a criação de uma Comissão Eventual para Acompanhamento do Problema de Timor, composta por representantes de todas as forças políticas.
Creio que foi o momento decisivo para que, de uma forma ordenada, os diversos Órgãos de Soberania assumissem nesta matéria as suas responsabilidade.
Finalmente, parece que se desenterrou a cabeça que tínhamos metida na areia e se começaram a encentar diligências para que, de uma vez por todas, o problema de Timor seja falado, os invasores sejam denunciados e o povo português tome consciência, reassumindo com a honra e a nobreza que lhe é peculiar as suas responsabilidades.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Na sequência do que foi decidido por esta Assembleia, foram à Austrália e aos Estados Unidos 3 deputados, que puderam recolher elementos que lhes permitem com propriedade dizer que Timor é um verdadeiro holocausto.
Tendo sido invadido um território que estava e continua sobre administração portuguesa, não podemos deixar de censurar tão hedionda posição por parte de um sanguinário invasor, como pela passividade de um mundo que tanto proclama a paz e a liberdade e tão pouco faz por elas.
Hoje, em Portugal, sobre esta matéria, já se fala, já se ouvem notícias, já se começa a sentir a consciência de um povo que se orgulha de ter feito das suas colónias povos livres e independentes. Liberdade e independência que não chegaram ao infeliz e martirizado Timor.
Não havendo regra sem excepção, não a aceitamos por imperativos de dignidade nacional. Timor tem direito a escolher o seu destino em paz e liberdade.
Paz e liberdade que a maioria dos países que formam as Nações Unidas tiveram para se autodeterminarem, o que lhes permitiu ocupar naquele areópago mundial um lugar de pleno direito como países livres que são.
Muito embora saibamos que hoje, como ontem, a palavra liberdade significa sacrifícios, assim não entendem os tiranos de hoje, ainda mais refinados e déspotas que os de ontem.
Lamentavelmente, os opressores de hoje depressa se esqueceram que já foram oprimidos e quanto lutaram para se libertarem.
Enfim, como estão pervertidas as palavras, santo Deus!
Dizendo-se um país livre, a Indonésia invade um território que não lhe pertence, viola todas as normas internacionais, massacra homens, mulheres e crianças, faz torturas, prisões, praticam-se crimes sexuais, fazem-se julgamentos arbitrários, execuções sumárias, destrõem-se culturas, fomenta-se a fome, etc., etc. Em