O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

8 I SÉRIE-NÚMERO 1

nista Português, não me levem a mal que diga que ele pertence a todos nós e que a sua voz e a sua obra são já parte integrante do património cultural do povo português. E todos compreenderão, por certo, que eu termine dizendo que é imperioso que, pelo menos em Coimbra e em Lisboa, haja, muito em breve, uma rua com o nome daquele que amou e cantou essas cidades.
Como do mesmo modo todos compreenderão também que eu faça daqui um apelo para que a voz de Adriano Correia de Oliveira deixe de ser definitivamente discriminada e para que a rádio e sobretudo na Televisão, a horas a que todos vejam e não de maneira envergonhada, se possa ver e ouvir cada vez mais aquele que foi, sem dúvida, um grande trovador da liberdade, um grande trovador de Portugal.

Aplausos do PS, do PSD. do PCP, da ASDI, da UEDS, da UDP e de alguns senhores deputados do CDS.

O Sr. Presidente: - Para uma declaração política, tem a palavra o Sr. Deputado Lemos Damião.

A Sr.ª Natália Correia (PSD): - Sr. Presidente, eu também desejava intervir.

O Sr. Presidente: - Está inscrita, Sr.ª Deputada?

A Sr.» Natália Correia (PSD): - Sr. Presidente, sem querer, evidentemente, tirar a palavra ao meu colega de bancada - que a usará de uma forma muito ilustre - recordo que me inscrevi logo a seguir ao Sr. Deputado Manuel Alegre. Deve, portanto, haver um erro por parte da Mesa.

O Sr. Presidente: - Sr.ª Deputada, a Mesa tem a indicação de que V. Ex.ª se inscreveu para fazer uma intervenção e não uma declaração política.
Como estamos ainda no período das declarações políticas, esse é o motivo por que dei a palavra ao Sr. Deputado Lemos Damião.

A Sr.ª Natália Correia (PSD): - Sr. Presidente, inscrevi-me para intervir sob qualquer forma regimental. Se quiserem, chamem-lhe declaração política. É que, penso, se estabeleceu um clima que não deve ser quebrado.

O Sr. Presidente: - Sem dúvida, Sr.ª Deputada.
Se o Sr. Deputado Lemos Damião e a bancada do PSD não vêem inconveniente, dou agora a palavra à Sr.ª Deputada Natália Correia para fazer a intervenção, dando-a a seguir ao Sr. Deputado.

O Sr. Lemos Damião (PSD): - Com certeza, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: - Nesse caso, tem a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada Natália Correia.

A Sr.ª Natália Correia (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Comovidamente manifestamos o nosso grande pesar pelo desaparecimento de Adriano Correia de Oliveira. Adriano, assim o tutelo, pois que o seu canto era universalmente português, fosse qual fosse o quadrante político em que se situava, foi a última voz emocionada que, perpetuando a tradição do fado de Coimbra - sabem os amigos que a sua apurada aspiração era dar uma oitava acima de Edmundo de Bettencourt -, renovou a canção coimbrã, numa mensagem de resistência que mitigou os desesperos dos que em prisões, exílios e perseguições padeceram os rigores da ditadura. O seu cantar vibrante deu asas à palavra daqueles que possuem a liberdade e, por isso, são poetas. Desses que, em tempos sombrios, nos acenaram com uma esperança, clamando como Manuel Alegre na sua «Trova do vento que passa», tão sentidamente interpretada pelo falecido cantor:

Há sempre alguém que resiste.
Há sempre alguém que diz não.

Disse Alfred de Musset (e considero apropriado associar um poeta romântico à emoção que em Adriano Correia de Oliveira se exprimiu num canto de alma enternecida pelos que são privados da luz da liberdade) que aqueles que sabem cantar sabem chorar. E assim foi. O trovador agora desaparecido pranteou, nos estremecimentos da sua voz comovida, a dor dos que engoliam as lágrimas no silêncio e nas sombras em que leis liberticidas enclausuravam os seus anseios de liberdade e, quer queiram quer não, os que, rendendo culto a um utilitarismo imbecilizante, desdenham do que no ser humano ainda è capaz de chorar em canto, em poema ou seja no que for que do coração brote, é o sentimento que ainda nos dá notícias seguras de sermos Portugueses.
Por isso magoadamente sentimos o silêncio com que a morte calou a voz de Adriano Correia de Oliveira, que, sendo um cantor dos sentimentos que dão calor à nossa cultura, foi, a cantar, uma alma portuguesa de grande alcance.

Aplausos do PSD, do PS, do PCP, do PPM, da ASDI, da UEDS, do MDP/CDE, da UDP e de alguns senhores deputados do CDS.

(Durante esta intervenção, tomou lugar na bancada do Governo o Sr. Ministro para os Assuntos Parlamentares Marcelo Rebelo de Sousa.)

O Sr. Presidente: - Creio que os Srs. Deputados estarão de acordo que, para terminar a homenagem que está a ser prestada a Adriano Correia de Oliveira, dê agora a palavra ao Sr. Deputado José Manuel Mendes.
Tem V. Ex.ª a palavra, Sr. Deputado José Manuel Mendes.

O Sr. Manuel Mendes (PCP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: «Um homem nunca devia mandar noutro homem, todos juntos é que vamos mandar na terra». Estas palavras pertencem a uma das últimas canções que o Adriano Correia de Oliveira gravou em disco e são bem uma síntese clarividente dos seus 2 percursos associados: o percurso afectivo e o percurso militante.
Percursos que, de alguma maneira, passam também por dentro da nossa própria experiência de vida, por dentro do nosso próprio coração.
Na realidade, desde muito jovem ligado a formas de renovação da canção popular portuguesa, dando voz aos grandes poetas da resistência e aos poetas portugueses que mais fundamente cantaram a liberdade, Adriano guindou-se a um lugar altíssimo no panorama musical português.
Cantor da esperança, mensageiro do amor e da fraternidade, foi ele um aedo dos tempos novos umbilicalmente ligado às aspirações do seu povo, militante e