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23 DE OUTUBRO DE 1982 53

Vozes do PCP: - Muito bem!

O Orador: - Deste vazio, propicio a vagabundagem dos jovens, se aproveitam os pescadores de águas turvas para lançar os seus tentáculos de droga e corrupção sobre os mais incautos ou mais indefesos.
Não é segredo para ninguém que a droga circula em Aveiro com relativo à-vontade e tem acesso fácil aos estabelecimentos de ensino, sem que, até agora, as entidades competentes tenham mostrado capacidade ou vontade de atalhar a cabeça do dragão.
De resto, não é só a droga que vem preocupando a população da cidade. Outras formas de marginalidade e até de criminalidade vêm assumindo ultimamente uma cada vez maior expressão nos jornais e nas preocupações dos cidadãos.
Em boa verdade, nem outra coisa seria de esperar. A cidade, pela dinâmica de desenvolvimento que lhe vem sendo imposta - assente em modelos de crescimento apenas virados para o lucro mais desenfreado -, é um espaço em desumanização crescente.

Vozes do PCP: - Muito bem!

O Orador: - Para os mentores do projecto AD, os valores de fraternidade, de cooperação e de convívio são pura e simplesmente objectos de chacota. Aveiro pode transformar-se, a curto prazo, na consumação emblemática dessa filosofia.
Será isso, finalmente, o que se entende por libertação da sociedade civil?
A partir daqui, que valores sobram para propor à nossa juventude?
Como estranhar, pois, a violência, a marginalidade, a insolência e a agressividade dos jovens, se sabemos que tais comportamentos são apenas a contrapartida para a condição de abandono e desprezo a que foram lançados por este governo AD?

O Sr. Jorge Lemos (PCP): - Muito bem!

O Orador: - Na realidade, que fez a AD dos anseios juvenis, das expectativas que ela mesmo ajudou a criar em campanhas eleitorais incendiárias? Quantos milhares de jovens à procura do primeiro emprego? Quantos milhares à espera de um apartamento para constituir família? Quantos milhares para quem se fecha todos os anos e sucessivamente a porta de acesso ao ensino superior?
Sr. Presidente, Srs. Deputados: O Governo e a sua maioria têm tentado convencer os Portugueses de que o principal obstáculo ao cumprimento das suas promessas estava na Constituição de 1976. O Governo e a sua maioria continuam a declarar que a revisão que foi alcançada fica aquém do desejável. Apavorado com o descalabro económico que provocou, confrontado com a capacidade de luta do povo português, o Governo prepara-se para continuar a fazer da Constituição, já revista, o bode expiatório da sua política de desastre. Isso significa, Sr. Presidente, Srs. Deputados, que o Governo não aceita limites para o seu arbítrio, que o Governo só governaria bem se pudesse impor sozinho a sua vontade. O que significa que direita e democracia em Portugal são termos cada vez mais incompatíveis.

Vozes do PCP: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Os problemas dos Portugueses, em que se inscrevem solidariamente os problemas das gentes de Aveiro, são tão profundos e instantes que não se compadecem com os jogos de diversão dos políticos da AD, como ainda ontem aqui verificámos.

Vozes do PCP: - Muito bem!

O Orador: - Os problemas dos Portugueses não se resolvem com as "competências" da AD que têm desfilado tão olímpica como inutilmente pelos corredores do poder. Os problemas dos Portugueses resolvem-se com o empenhamento responsável dos Portugueses que trabalham e que acreditam que o fruto do seu trabalho vai ser a raiz de um futuro melhor para si e para a grande maioria do povo português e não para reforçar o poder dos monopólios, como o governo da AD desesperadamente pretende.
Para isso, demitir este Governo é uma medida liminar de higiene nacional, um imperativo moral inadiável, a condição indispensável ao renascer da esperança.

Aplausos do PCP.

Entretanto, assumiu u presidência o Sr, Vice-Presidente José Vitoriano.

O Sr. Presidente: - Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Oliveira e Sousa.

O Sr. Oliveira e Sousa (CDS): - Sr. Deputado Manuel Matos, antes de mais, queria, como deputado de Aveiro que sou e que me orgulho de ser, saudar um colega das minhas terras - que tanto prezo e que julgo também preza - e que fez hoje a sua primeira intervenção de fundo nesta Assembleia. Agrada-me muito ver pessoas de Aveiro aqui presentes!
Simplesmente, devo dizer-lhe, Sr. Deputado, que tive uma desilusão com a sua intervenção...

Vozes do PCP: - É normal!

O Orador: - ... porque V. Ex.ª está perfeitamente desiludido em relação à terra que representa, o que me coloca dúvidas sobre a eficácia do seu trabalho aqui.
V. Ex.ª é um pessimista numa terra que nunca se caracterizou como tal.

Vozes do CDS: - Muito bem!

O Orador: - Aveiro, a sua terra e as suas gentes, sempre se caracterizou - e já aqui o disse várias vezes - por um espírito de iniciativa, por uma capacidade de tomar nas suas mãos os problemas que lhe dizem respeito e por tentar resolvê-los sem estar à espera do Governo ou, como V. Ex.ª referiu no final da sua intervenção, sem estar à espera da demissão do Governo, da dissolução da Assembleia e da nomeação de um governo de gestão, como vários colegas seus aqui costumam dizer.
E pergunto-lhe, Sr. Deputado, se não está convencido de que Aveiro, a sua terra, o seu distrito e as suas gentes se caracterizaram sempre por uma defesa do espírito de liberdade, de autêntica democracia, não admitem