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278 I SÉRIE - NÚMERO 10

3.º caso - Sou engenheira-química e sou solteira. Tenho 26 anos. Por descuido, Dois nesse mês não tomava nada e apesar dos cuidados do meu companheiro, fiquei grávida.
Não tenho felizmente, nem ele, dificuldades económicas mas não queria ter 1 filho por 3 razões: primeira, a minha vida profissional; segunda, meus pais não compreendiam; terceira, a sociedade não aceita ainda uma mãe solteira.
Recorri a um consultório, com um certo nervosismo mas fui bem recebida e foram carinhosos comigo.
Logo de entrada e fui recebida por uma enfermeira, que soube contornar a questão.
Fui observada, deram-me uma injecção na veia e só acordei passado uma hora numa outra sala. Disseram-me que tinha feito um aborto por aspiração. Acordei um pouco tonta e com ligeiras dores no ventre. Passado duas horas fui para casa depois de ter pago 15000$ em notas. «Não aceitavam cheques». Confesso que não estou arrependida, mas julgo que não voltarei a ter relações sem estar protegida, a não ser quando desejar mesmo ter 1 filho.

4.º caso - Fiz um aborto de 2 meses e meio. Não podia nem queria ter um filho. Tudo correu muito mal e julguei que morria. Estive internada num hospital. Tive que levar muito sangue e nunca mais fiquei boa. Estou convencida que não voltarei a fazer nenhum aborto. Talvez seja melhor ter um filho.

5.º e último caso - Fiz 2 abortos e tudo correu bem.

Sou casada já tinha 3 filhos e não queríamos mais nenhum, mas tive a pouca sorte de ficar grávida. Fui à parteira que já me tinha feito os 2 abortos, e saí de lá com algumas dores e a perder sangue. Passados 3 ou 4 dias as dores desapareceram e o sangue parou. Passado algum tempo como a menstruação não viesse, fui a um médico que me disse que estava grávida de 4 meses.
Fiquei desgostosa pois não queria ter o filho. No entanto, tive medo de voltar à parteira porque o médico me tinha dito que um aborto de 4 meses era muito perigoso.
O filho nasceu. Tem agora 4 anos. Gosto de todos mas talvez mais deste, não sei bem porquê. Ainda bem que tal me aconteceu, pois sou feliz, embora reconheça que são filhos a mais.
Que cada um tire dos casos apontados inibições que entender.
Para terminar perguntar-me-ão: afinal, qual é a minha posição em relação ao aborto?
Confesso que a minha posição não decorre de juízo de certezas. Sou médico e como tal respeito a vida em todas as suas formas. Sou contra as guerras, e lamento que em vez do dinheiro que se gasta nelas, além das vidas que se perdem, não se utilize essa verba para matar a fome a milhares de seres neste mundo.
Sou contra a pena de morte, sou profundamente humano e julgo que todos têm direito à vida.
Quanto ao aborto, reconheço que há valores opostos. Mas a experiência tem-me ensinado que, em certos casos, o realismo deve prevalecer, pelo que o meu grupo parlamentar irá votar favoravelmente os projectos de lei apresentados.

Aplausos do PS, do PCP, da UEDS, do MDP/CDE, da UDP e da Deputada Natália Correia (PSD).

O Sr. Presidente: - Para um pedido de esclarecimento, tem a palavra a Sr." Deputada Luísa Raposo.

A Sr.ª Luísa Raposo (CDS): - Era para perguntar ao Sr. Deputado porque razão tem tanto horror a que os pais dos menores saibam que eles, em situações difíceis, tenham que consultar um médico ou a que sejam informados sobre certos aspectos a que V. Ex.ª chama planeamento familiar.
Uma mãe solteira ou uma rapariga de 16 anos precisa de muito mais ajuda dos pais - mas muito mais ajuda, mesmo - do que um adulto, não é verdade?
Portanto, acho que nós, pais e mães, devemos saber o que os nossos filhos fazem e precisam, e não demitirmo-nos, desresponsabilizarmo-nos. Devemos tomar parte na vida deles e não dizer-lhes, largando-os: «vão lá tratar da vossa vida».

Risos do PCP.

É isto que não percebo. Sr. Deputado. Gostaria, portanto, que me esclarecesse porque é que tem tanto horror em saber as necessidades dos seus filhos.
Era só isto que lhe queria perguntar.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado Verdasca Vieira, se desejar responder, tem a palavra.

O Sr. Verdasca Vieira (PS): Sr.ª Deputada Luísa Raposo, fico. sinceramente, um bocado aparvalhado com a pergunta. A senhora parece viver num mundo totalmente diferente daquele em que nós vivemos. A realidade é tão diferente. A senhora, se contacta com a juventude, com certeza sabe que ela não diz ao pai porque o pai é tabu. porque foge sistematicamente aos problemas; sabe que a rapariga, a partir dos 13 anos, pode ter ou não ter relações sexuais. Eu tenho dezenas de raparigas no meu consultório, porque os pais não as ouvem; tenho que lhes dar contraceptivos, porque senão elas vão fazer o aborto. Até sei onde os vão fazer; sei as responsabilidades que, por isso mesmo, tenho; sei o que lhes vou fazer a seguir, Sr.ª Deputada.
É por isso que tenho receio. Quero que as mulheres façam a vida sexual que entenderem. E se os pais acharem que lhes devem dar indicações, então que lhes dêem - acho muito bem, acho que é correcto, acho que é positivo. Mas, como médico, não posso, não quero, nem devo abdicar daquilo que considero mais justo, que é, precisamente, o planeamento familiar.
E a Sr.ª Deputada vai ver que o planeamento familiar bem feito irá conduzir à diminuição substancial, acentuadíssima (não digo acentuada, digo acentuadissima) do aborto.
Tenho, no meu consultório, dezenas de raparigas com 15 e 16 anos, alunas do liceu, de escolas, umas grávidas que vão abortar não sei onde, outras que me vão ter às mãos no hospital. Sei o que é que elas passam, sei o desgaste psíquico que elas sofrem...

A Sr.ª Luísa Raposo (CDS): - Dá-me licença, Sr. Deputado?

O Orador: - Faça favor.

A Sr.ª Luísa Raposo (CDS): - Mas se V. Ex.ª, ao preencher a ficha, fica a saber quem é o pai ou a mãe. porque não os chama em particular?

Risos do PCP.

O Orador: - Sr.ª Deputada, queria dizer-lhe uma coisa: nunca fui delator de situações nenhumas.