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22 DE DEZEMBRO DE 1982 981

que nas minhas declarações sobre as eleições à Rádio Comercial, à RDP e à Rádio Renascença pequei por falta de honestidade, faça V. Ex.ª o favor de me apontar onde e como.

O Sr. César de Oliveira: (UEDS): - Sr. Presidente, peço a palavra para responder ao Sr. Deputado Amândio de Azevedo.

O Sr. Presidente: - Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. César de Oliveira: (UEDS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr. Deputado Amândio de Azevedo: Terei muitos defeitos, mas há uma virtude que eu julgo que tenho e que é a de dizer aquilo que penso, afrontar aquilo que digo e ter a coragem de quando cometo erros afirmar publicamente que os cometi e assumir essa responsabilidade. Poderei ter muitos defeitos, mas esse não tenho de certeza absoluta.
Sr. Deputado Amândio de Azevedo, deixe-me dizer-lhe o seguinte: não quis ofender o Professor Freitas do Amaral na minha intervenção, com quem, aliás, trabalhei na Comissão de Defesa durante 8 ou 10 dias, e disse, e continuo a repetir, que a sua intervenção no dia das eleições era politicamente vertical e politicamente honesta. Não estou a denegrir pessoalmente ninguém e já agora, que estamos com a mão na massa, posso adiantar que a sua intervenção na Televisão, que ouvi no dia seguinte às eleições, foi politicamente, simulada. O que é que isto quer dizer? Quer dizer que escamoteou a questão de fundo posta pelo Professor Freitas do Amaral e tentou tirar a água do seu capote dizendo que as eleições tinham sido uma grande vitória do PSD. Isso é uma afirmação que eu considero politicamente, e não pessoalmente, como menos vertical e simulada. E lembro que quem teve neste país a coragem de, pela primeira vez, fazer um discurso político não simulado - e eu já lhe prestei a homenagem e já o escrevi - foi o Dr. Francisco Sá Carneiro.
O Professor Freitas do Amaral, na noite das eleições, e o CDS, posteriormente, continuam a fazer um discurso politicamente não simulado, ao contrário de toda a gente do PSD e inclusivamente do Sr. Dr. Pinto Balsemão, que fez um discurso politicamente simulado- porque repete uma coisa que eu não percebo e que ninguém aqui nesta Câmara explicou e que é o facto de em Agosto de 1981 se ter demitido, ter ido embora com um grande estardalhaço, ter reunido a Comissão Nacional do PSD com o Engenheiro Eurico de Melo, do Porto, à pressa para tentar resolver a questão e, no fim de contas, voltar a ocupar, de novo, o lugar de Primeiro-Ministro e ninguém ficar a perceber patavina do que se passou.
Agora, mais uma vez, demite-se, volta para o Governo ...

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado, o seu tempo chegou ao fim, mas dou-lhe a palavra para terminar as suas declarações.

O Orador: - Muito obrigado, Sr. Presidente.
O Expresso, ao interrogar o Sr. Primeiro-Ministro sobre a hipótese de ter que escolher entre a liderança do PSD e chefia do Governo, obtém a resposta de que não aceitará qualquer delas, mas depois vem dizer o contrário. É a isto que eu chamo discurso politicamente simulado, que não tem nada a ver com a honestidade e a verticalidade pessoal, mas tem a ver com a honestidade e a verticalidade política. Este país precisa que alguém chame os bois pelo nome e diga: «Quero isto, porque é esta a minha estratégia e é este o meu caminho.» É disso que nós todos estamos fartos e é disso que o Dr. Pinto Balsemão não deu o mínimo exemplo.

O Sr. Jorge Lemos (PCP): - Muito bem!

O Sr. Amândio de Azevedo (PSD): - Sr. Presidente, peço a palavra para fazer um protesto.

Protestos do PCP.

Srs. Deputados, eu exerci o direito de defesa e quero agora fazer um protesto. Tenho, o direito de o fazer e é a Mesa que vai dizer se o posso fazer ou não.

Vozes do PSD e do CDS: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado, a Mesa concede-lhe a palavra para fazer um protesto, para o que dispõe de 2 minutos.

O Sr. Amândio de Azevedo (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Eu lamento profundamente que o Sr. Deputado César Oliveira não tenha a noção da gravidade das coisas que diz. Procura proteger-se com a capa do adjectivo político, mas para mim a honestidade é uma só e não se distingue em política nem em pessoal. Tenho tanto a obrigação de ser honesto na política como pessoalmente, e não admito a ninguém que me diga que, eu estou na política de uma forma não honesta e não vertical.
Sr. Deputado César Oliveira note bem o sentido das suas palavras!
V. Ex.ª disse que eu tive falta de verticalidade e que usei de simulação. Ora a simulação é necessariamente a intenção de dizer uma coisa que se sabe contrária à verdade. O Sr. Deputado não tem o direito de dizer isso em relação a ninguém e muito menos em relação a mim.

O Sr. António Vitorino (UEDS): - Não se irrite tanto!

O Orador: - Fiz uma análise que pode não lhe agradar, que, aliás, não reteve correctamente, e que mantenho em toda a sua linha e estou disposto a discutir com quem quer que seja a sua razoabilidade. Não exijo a ninguém que tenha a minha opinião, mas não admito a ninguém, e muito menos a si, que diga que tenho falta de verticalidade e que ando a actuar com simulação. Na política, como em tudo, ou há honestidade ou as pessoas são desonestas.
As pessoas são obrigadas a ser honestam em ioda a sua vida e em todos os seus actos. Esse é o meu lema e não admito a ninguém que ponha isso em causa e muito menos ao Sr. Deputado César Oliveira, a quem eu, aliás, interpelei em termos perfeitamente correctos, não lhe atribuindo uma intenção que agora não pode ser ocultada nas palavras que acabou de proferir.