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21 DE JANEIRO DE 1983 1247

No próximo dia 1 de Fevereiro lá vamos nós ter manobras conjuntas entre os Estados Unidos da América e as Honduras na fronteira da Nicarágua, envolvendo 5000 homens hondurenhos e 1600 americanos, numa manobra provocatória contra a Nicarágua!
Não é de desprezar uma referência interessante que tem que ver com o papel atribuído pelos Estados Unidos da América às Honduras. As Honduras são consideradas pedra-chave para a estratégia norte-americana na região e são o terceiro país da América Latina a receber a maior ajuda militar dos Estados Unidos da América.
Também em terceiro lugar -pelas mesmas razões, mas noutra região do globo - está Portugal, na hierarquia das prioridades de auxilio americano, depois do Egipto e de Israel.
O papel que os Estados Unidos da América atribuem a Portugal, aceite e reivindicado pela AD e pelo general Eanes, tem a ver com a penetração dos Estados Unidos da América em África, em especial na África Austral, no seu confronto com o imperialismo soviético. A este propósito está a abater-se uma espessa cortina de fumo e de silêncio sobre a possibilidade da ida de tropas portuguesas para o Líbano, havendo movimentações claras nesse sentido, quer .políticas, quer militares, assim como nada se diz sobre as afirmações da possibilidade já aventada da ida de tropas portuguesas para Angola e Namíbia.
É necessário esclarecer esta questão e a UDP vai fazer um requerimento nesse sentido.
É dever de todos os democratas e patriotas, de todos os lutadores pela paz, oporem-se às manobras e movimentações deste tipo e exigirem uma clara e inequívoca posição pública das autoridades, exigindo-se, sem ambiguidades, que essa posição sirva os interesses da paz e do nosso povo.
E, Sr. Presidente e Srs. Deputados, os interesses da paz não são decerto salvaguardados no desenvolvimento da estratégia imperialista americana na qual se insere, sem rebuço nem pudor, a nossa política externa ao mais elevado nível - e refiro-me também, para além do governo AD, ao papel do general Eanes.
A paz e a liberdade dos povos está longe; está no campo oposto ao das negociatas das superpotências. Está na luta revolucionária e consequente dos povos.
É esse o caminho que seguem hoje os povos da América Latina, onde tantos exemplos existem dos falhanços das «transições pacíficas para o socialismo» e não nos esqueçamos da tragédia do Chile e da experiência militar «progressista» peruana falhada; só os oportunistas aceitam a mudança do carácter reaccionário dos militares, das burguesias e oligarquias, como na Argentina ou na Bolívia, e só os traidores entregam as armas para se integrarem na «ordem pacífica», a mando dos exploradores, esquecendo os exemplos trágicos que abundam.
A coexistência pacífica entre estados é desejável, mas não deve impedir a luta democrática e revolucionária dos povos para se libertarem, não só das garras do imperialismo, mas também da exploração do homem pelo homem.
É por isso que saudamos na luta heróica do povo de El Salvador, dirigido pelo FDR/FMLN, a luta de todos os povos do mundo, em especial a do povo Maubere e da FRETILIN, que persiste gloriosamente, apesar de todas as tentativas brutais ou pseudo democráticas de a silenciarem.
Amanhã, no Coliseu, a solidariedade não será uma palavra vã.

O Sr. Amândio de Azevedo (PSD): - Nunca o foi!

Entretanto, assumiu a presidência o Sr. Vice-Presidente Tito de Morais.

O Sr. Presidente: - Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Corregedor da Fonseca.

O Sr. Corregedor da Fonseca (MDP/CDE): - Sr. Deputado Mário Tomé, segui com atenção a sua intervenção, nomeadamente a referência que fez ao Congresso dos Jornalistas, a qual me agradou muito particularmente.
Na realidade, o Congresso dos Jornalistas é um momento oportuno para reflexão e balanço de todos os jornalistas portugueses, principalmente numa altura em que a imprensa, nomeadamente todos os jornalistas, sofrem as investidas deste governo, como está a acontecer no Jornal de Notícias, do Porto.
Gostaria também de relembrar ao Sr. Deputado que não é de estranhar o facto de ontem, na sessão inaugural do Congresso dos Jornalistas, não terem estado presentes o Sr. Dr. Pinto Balsemão nem o Secretário de Estado Alfaia. Porém, aconteceu que a comissão organizadora do Congresso dos Jornalistas decidiu não convidar nem um nem outro, por os considerar os maiores inimigos da classe actualmente existente no País.

Vozes do PCP: - Muito bem!

O Orador: - Mais concretamente, Sr. Deputado, gostaria de lhe fazer uma pergunta, em relação à qual responderá, se assim o entender: qual acha que deve ser a posição de Portugal face aos países não alinhados - os chamados países do Terceiro Mundo -, sabendo-se da submissão total dos governos da AD, amarrados aos mercados tradicionais norte-americanos, alemães e ingleses, em detrimento das nossas relações - que deviam ser privilegiados- com os países africanos de língua portuguesa?

O Sr. Presidente: - Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Mário Tomé.

O Sr. Mário Tomé (UDP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr. Deputado Corregedor da Fonseca: Antes de mais, agradeço-lhe a referência à minha intervenção.
Quero dizer-lhe também, já que referiu a questão do Congresso e de quem não foi convidado, que, em minha opinião, o Congresso dos Jornalistas não devia ter convidado nenhum representante do poder.

O Sr. António Arnaut (PS): - Não há poder, Sr. Deputado!

O Orador: - Quanto à questão que me põe relativa à posição do nosso país perante os países do Terceiro Mundo - ou seja, ao que eles sofrem por culpa do imperialismo -, devo dizer que considero que a nossa posição deve ser a de maior cooperação e ligação no campo das trocas, sem sujeição política de qualquer das partes - igualdade de situações, portanto. Porém, considero tais objectivos impossíveis neste momento.
De facto, quer o Governo, quer os Órgãos de Soberania do nosso país -nomeadamente o Presidente da República -, são intérpretes, não de uma política de