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920 I SÉRIE - NÚMERO 25

salário de um deputado e o salário mínimo nacional é de 1 para 9, enquanto em Portugal, hoje, está a baixo de 1 para 4. Com a correcção que o Governo propõe ficará apenas na relação de 1 para 5, já que somos, porventura, um dos países que tem um leque salarial mais estreito e que isso é, porventura, responsável pela circunstância de não termos, além de políticos profissionais, além de políticos que não fazem da política uma carreira, e que deviam fazer, bons gestores, bons directores-gerais, bons quadros na função pública. Tudo isso um dia terá, porventura, que ser analisado e discutido.
Assim, na minha opinião aquilo que se poderia poupar, não fazendo agora a justa correcção dos vencimentos da classe política, não vinha, com certeza, resolver nenhum dos problemas que nos amarguram ao nível da pobreza, da miséria, do atraso na saúde, do atraso na educação, do atraso na habitação. Pelo contrário, a dignificação da classe política, a valorização da classe política, o darmos à classe política a possibilidade de trabalhar em full-time - e já vai havendo muitos deputados que trabalham em full-time, que só se dedicam a isto é a mais nada, e era bom que houvesse cada vez mais deputados que só se dedicassem a exercer o seu mandato e a mais nada...

Vozes do PS e da ASDI: - Muito bem!

O Orador: - ... -, tornando-se cada vez mais prestigiada independente, contribui fortemente para a solução dos problemas da miséria, da pobreza, da educação, da saúde, enfim, de tudo aquilo que nos aflige.
Este é o ponto de vista do Governo e é também o meu. Até ver, não acho que esteja errado.
Também não me sinto à vontade para dizer aos Srs. Deputados «sofram, abstenham-se. Em homenagem a uma certa demagogia, façam como os lírios do campo que, como sabem, não cuidam da sua própria subsistência e resplandecem em todo o seu esplendor». Não vos peço que façais isso pela simples razão de que, porventura, tendes família, tendes filhos e tendes necessidades. É preciso que, na verdade, um deputado, que quando quis ser deputado não aceitou, com certeza, ser um franciscano, não passe a ser também um homem de sandálias que se inscreveu num convento trapista. 15so é que não pode ser!
Srs. Deputados, dito isto, gostaria apenas de dizer - e não estou aqui, evidentemente, para tecer grandes considerações, pois a proposta do Governo explica-se por si própria - que, relativamente a este diploma, houve três posições distintas: a do PCP, a da UEDS e a do CDS.
Gostaria de dizer uma palavra sobre cada uma destas posições.
O PCP, fiel à sua maneira de ser e ao seu posicionamento na política portuguesa, mais uma vez é por tudo o que seja contra e é contra tudo o que seja por.

Aplausos do PS e do PSD.

O Partido Comunista acha que é uma incoerência da classe política, num momento em que há tantos problemas, fazerem-se estas correcções, ainda que dentro de parâmetros mais do que mínimos em relação às democracias europeias em que nos colocamos. «Por amor de Deus, o que é preciso é resolver o problema dos salários em atraso!» Como se com os 80 000 contos/ano que isto vai custar (ou nem tanto) pudéssemos resolver algum problema salarial.
Mas qual é, afinal, a posição do PCP? É esta: contra tudo, não se aumente nada. E nós até sabemos porquê: é que da outra vez o Sr. Deputado e meu querido amigo engenheiro Veiga de Oliveira disse-nos aqui que isto era irrelevante para o Partido Comunista. Lembro-me muito bem de ele ter dito que os deputados comunistas não ganham mais nem menos qualquer que seja a correcção que se faça: eles ganham aquilo que ganhavam antes de serem deputados, o que, obviamente, pode ser mais do que aquilo que os Srs. Deputados ganham.

Risos do PS, do PSD, do CDS e da ASDI.

Normalmente, não será. Faço-vos essa justiça.
Portanto, tudo aquilo que for a mais eles doam ao seu próprio partido. Mas então eu não percebo, entram em contradição! Desculpem esta ironia mas, de vez em quando, é preciso fazer um pouco de humor.
Até parece que, opondo-se o Partido Comunista a que esse dinheiro entre no partido e preferindo que ele permaneça no Orçamento do Estado, querem afirmar que o dinheiro é mais bem administrado pelo Governo do que pelo próprio Partido Comunista.

Aplausos do PS, do PSD e do CDS.

Agradeço-vos essa prova de lucidez.

Risos do PS, do PSD, do CDS e da ASDI.

Quanto ao CDS, penso que entrou em crise de arrependimento porque quando aqui subscreveu a proposta que nós, com alterações, melhorámos um pouco - se me permitem uma invocação histórica -, a vossa proposta era francamente mais gravosa para o erário público e mais benéfica para os deputados do que esta proposta apresentada pelo Governo. Então, se nessa altura esta proposta mereceu a vossa concordância, porque é que esta agora não a merece?
Tenho a impressão de que o CDS sentiu necessidade de se demarcar um pouco da proposta do Governo, por razões que respeito. Porém, devo dizer-vos que também me impressiona muito o grau de convergência do PS e do CDS com a proposta do Governo. Julguei que, ao fim de um ano e meio de política impopular e de austeridade, o CDS se tivesse distanciado do Governo mais do que os 5 07o em que agora se distancia.
Vejamos o que é que faz o CDS: nalguns pontos sobe 5 %, noutros desce 5% e no conjunto tanto faz como fez. Duvido que haja alguma economia no conjunto da vossa proposta. Penso que não valia muito a pena distanciarem-se só aquele passinho dos 5% e, realmente, melhor seria que tivessem dito «bom, embora com algumas discordâncias na especialidade, vamos votar e manter a proposta do Governo». Foi o que fizemos da outra vez e foi, talvez, mais coerente da nossa parte. Espero, em todo o caso, que possamos chegar a um entendimento no sentido de que, apesar de tudo, todas as propostas têm aspectos positivos e, a meu ver, devem ser tomadas em conta. Não vamos agora partir do princípio de que a perfeição está na proposta do Governo e de que os defeitos estão nas propostas da oposição.