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2608 I SÉRIE - NÚMERO 63

dor, mas diminuem também a consciência da mulher, tendo necessariamente repercussões no relacionamento mãe-filho nos momentos que se seguem ao nascimento. O pai não tinha, neste processo, praticamente lugar.
O aparecimento e o desenvolvimento nalguns países do parto psicoprofiláctico tem substituído as associações negativas referidas - dor e medo - por novas relações, positivas - parto/trabalho, parto/alegria -, através de um conhecimento e de uma preparação adequada durante a gravidez. Pretende transformar a mãe passiva num ser activo, conhecendo todos os fenómenos que se dão no seu corpo na gravidez e no parto, sabendo reagir a eles e criando uma atmosfera de confiança, de segurança e de bem-estar.

Como diz Pierre Vellay:

A psicoprofilaxia é o triunfo do conhecimento sobre o obscurantismo, da razão sobre o medo do desconhecido. É, de certo modo, a vitória da mulher sobre si mesma, sobre a tradição, sobre o meio. É a libertação da mulher face ao parto, apelando para as suas mais nobres qualidades: a inteligência a coragem, a vontade.
Antes do aparecimento do método psicoprofiláctico, a função do pai era essencialmente secundária. O pai era considerado como inútil. Para o médico era um elemento perturbador. Vivia a mais profunda ansiedade com uma sensação de inutilidade e muitas vezes acrescida de um grande sentimento de culpa.
A afectividade era dirigida, mais ou menos inconscientemente, para o médico, que era considerado como o «salvador».
Sr. Presidente, Srs. Deputados: O professor Gomes Pedro, na sua tese de doutoramento, «Influência no comportamento do recém-nascido do contacto precoce com a mãe», citada no preâmbulo do projecto-lei, conclui que:
Associado ao controle psicológico e regulação da dor na mulher durante o parto, e talvez com prioridade em relação a qualquer outra atitude, deve entender-se a prevenção da solidão da mulher nas fases mais cruciais que precedem o nascimento.
Estudos feitos por antropologistas, num vasto leque de culturas, dizem-nos que, na grande maioria, um membro da família ou um amigo, em geral uma mulher, fica ao lado da parturiente durante o trabalho de parto.
Se bem que nos últimos anos os familiares, em especial o pai da criança, tenham vindo a ser admitidos na sala de partos num grande número de países, em Portugal, um número significativo de mulheres continua a estar só na maternidade. As maternidades estão ainda marcadas por uma terminologia e por um espírito hospitalares. No período que rodeia os momentos mais significativos da vida da mulher - o nascimento de um filho -, as ocorrências do quotidiano, o ambiente que a rodeia, colocam-na no estatuto de doente.
A grávida entra na enfermaria só, despedindo-se, à porta, do pai do seu filho ou de qualquer outro parente. O médico ou a enfermeira que a acompanharam durante a gravidez não estão geralmente presentes. A grávida não conhece ninguém que a rodeia; quando precisa de conversar fala com a grávida que está a seu lado, tão só e tão ansiosa quanto ela. Muitas vezes é proibida de andar e até de mudar de posição. A enfermeira ou o médico vão observando a evolução do trabalho de parto, mas ela não é informada completamente e correctamente sobre essa evolução.
Na sala de partos continua só, afastada da família e dos amigos; muitas vezes confusa e adormecida devido à medicação administrada, à falta de informação e de preparação. A sua colaboração é só parcial, exigindo outras formas de intervenção que noutras condições seriam dispensadas. Quando o bebé nasce pode vê-lo de relance. Não tem capacidade psicológica, não tem espaço.
No entanto, investigações feitas sobre esta matéria revelam-nos que as mulheres com companhia durante ò parto, contrariamente ao que se passa com o parto solitário não partilhado, estão mais calmas, diminuem o seu estado de ansiedade, manifestam mais prazer no contacto com os seus filhos, tão importante no desenvolvimento infantil, nomeadamente em tudo o que se relacione com a ligação mãe-filho.
O papel do pai da criança, tanto na gravidez como no parto, parece ser um dos aspectos mais relevantes entre os factores que influenciam não só o comportamento materno mas também todo o processo de vinculação mãe-filho com uma expressão especial no seu contacto no pós-parto. O momento do parto oferece condições especiais para o desempenho activo daquele papel. Durante o parto, o pai pode desempenhar um papel activo e participante e não o de um mero espectador passivo.
Numa investigação feita na Guatemala sobre os efeitos de uma companhia apoiante da mulher durante o trabalho de parto, mostram-nos que as mulheres com companhia apoiante durante o parto tiveram partos mais curtos (8,7 horas para 19,3 horas); ficaram mais tempo acordadas na presença dos seus filhos durante a primeira hora de vida e revelaram maior número de comportamentos afectuosos (sorrisos, carícias, vocalização) para com os seus filhos.
A presença do pai em todas as fases que rodeiam o nascimento é de extrema importância no desenvolvimento da paternidade. Segundo Park «há uma quantidade de aprendizagem que se passa entre a mãe e o filho e na qual o pai deve ser incluído, a fim de adquirir o interesse e o sentido de pertença face ao bebé, mas também a partilha de laços que unem a mãe ao filho».
É interessante analisar, por exemplo, a forma como, há algumas décadas atrás, decorria o parto e qual era o papel do pai numa aldeia rural francesa, Minot, tornada conhecida por Yvonne Verdier no seu livro Façons de dire, façons de faire: o parto desenrola-se na presença de outras mulheres (que apenas assistem passivamente) e da «femme-qui-aide» que não tinha praticamente qualquer acção junto da mãe, mas apenas junto do bebé.
A criança só era apresentada à mãe quando a separação estava bem marcada: o cordão cortado, a criança levada, enfaixada e vestida nas mãos do pai. O pai, que entretanto se tinha refugiado na casa do vizinho, era chamado na altura do banho, momento decisivo da separação física mãe/filho.
Os clínicos e as estratégias administrativas hospitalares e sociais têm de passar a considerar e a respeitar o pai como uma pessoa significativa e indispensável, não só no período pré-natal mas também nas experiências precoces do bebé.