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3 DE MAIO DE 1985

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Durante a nossa estada, em que fomos sempre acompanhados por um Sr. Coronel e o Sr. Embaixador, verifiquei que o povo do Uruguai era sereno e calmo e que manifestava a sua alegria sem os arrivismos e as agressividades próprias de uma democracia que é nascente e em que por vezes se perde o controle das emoções.
Era, como disse, um povo sereno e calmo, mas de uma educação, de um civismo, de uma correcção verdadeiramente inexcedíveis. Por onde passava o carro de Portugal, porque levava a bandeira de Portugal, 2, 3, 10, 100, 1000 pessoas que estivessem presentes batiam palmas, ovacionavam a passagem de Portugal. 15to repetiu-se dezenas de vezes, porque dezenas de vezes tive de sair do hotel onde tinha sido hospedado por deferência do Governo do Uruguai. Sempre que saía ou entrava milhares de pessoas ovacionavam a bandeira de Portugal. 15to se me comoveu foi também no fundo uma lição extraordinária.
O Sr. Presidente Sanghinete fez no dia 1 de Março, durante cerca de hora e meia, o seu formidável discurso de improviso, que foi ovacionado como eu nunca vi, sobretudo na altura em que referiu que dentro de momentos iria assumir o comando das Forças Armadas. Quando fez esta afirmação foi uma ovação interminável, não só das pessoas que estavam dentro do Parlamento, portanto com o apoio de todos os partidos, fundamentalmente o Partido Colorado, o Partido Blanco e uma União de Partidos, mas também dos milhares de pessoas que se encontravam fora do Parlamento.
Este foi um momento alto, talvez porque esta afirmação constitua o momento essencial de uma democracia pluralista como a que se pretende e se vai necessariamente estabelecer no Uruguai, país que conhecia como sendo a Atenas da América Latina, mas que outros me disseram ser a Suíça da América Latina. Penso que é a Suíça, não pelo acidentado do terreno porque é um terreno de pampas, mas por causa do civismo da sua gente, da correcção e da educação como éramos servidos, e que é a Atenas porque ali no Uruguai se firmou a primeira democracia da América Latina.
Daí que esta festa da posse do primeiro Presidente constitucional depois da revolução tenha constituído como que um abrir de portas para um mundo novo, e, ao fim e ao cabo, para rejuvenescer as raízes profundíssimas da democracia que sempre se viveu no Uruguai.
O Sr. Presidente Sanghinete teve a gentileza de me convidar para uma audiência particular, que durou cerca de 15 minutos, para tratarmos não só do problema da inserção do Uruguai em toda a América Latina, mas também para vermos o contributo que Portugal poderia dar no concerto das nações para se poder de algum modo sedimentar todo este processo progressivo que a América Latina está a experimentar em busca da democracia.
Infelizmente há Estados na América Latina que ainda não são democráticos, mas penso que a força de todos os países que vivem conscientemente a responsabilidade de lutar pela democracia em breve poderá contribuir para que mesmo esses Estados se possam encaminhar no sentido da democracia que todos desejamos no Mundo.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Tivemos ainda depois, por gentileza do Sr. Presidente Sanghinete e por deferência exclusiva em relação a Portugal e à Espanha, a possibilidade de assistirmos como observadores à Conferência da ALADI (Associação Latino-Americana de Integração), que é uma organização semelhante ao Mercado Comum. Aí, o Sr. Presidente do Uruguai por duas vezes se referiu a Portugal como sendo a matriz da civilização do Uruguai. Estas foram afirmações que calaram fundo na minha sensibilidade e pelas quais me senti profundamente reconhecido.
Tive depois oportunidade de conviver com a colónia de Portugal, cerca de 600 portugueses que vivem lá longe, trabalhando e dando testemunho da sua capacidade de trabalho e, sobretudo, do amor a Portugal.
Pela maneira como fomos recebidos, pela atenção que nos foi dispensada e pela dignidade com que fomos servidos, tenho de vos dizer, meus caros companheiros, que nunca tinha sentido tão profundamente o orgulho de ser português.
Por isso, e de acordo com a deliberação da conferência de líderes, convidei S. Ex.ª, o Sr. Embaixador do Uruguai, para estar hoje aqui presente, para lhe transmitir directamente as impressões que recolhi e que, de uma forma descolorida, procurei agora dar uma breve e sucinta impressão. A experiência colhida no Uruguai cavou fundo, muito fundo, na minha sensibilidade, na minha maneira de ser e no meu relacionamento político, pelo que faço votos - e agradeço ao Sr. Embaixador do Uruguai que os transmita ao seu Governo - para que floresça cada vez mais funda e mais larga a democracia no Uruguai.
Agradeço pois, Srs. Deputados, que também em relação ao Sr. Embaixador do Uruguai manifestemos com uma ovação bem merecida o nosso aplauso, a nossa gratidão e os nossos votos para que o Uruguai seja efectivamente uma democracia florescente na América Latina.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado João Corregedor da Fonseca.

O Sr. João Corregedor da Fonseca (MDP/CDE): Em forma de pedido de esclarecimento, queria expressar a opinião do meu grupo parlamentar e realçar a inovação introduzida por V. Ex.ª, Sr. Presidente da Assembleia da República, no sentido de se proceder, em Plenário, ao relato sucinto, e talvez comentado, das deslocações de delegações desta Assembleia ao estrangeiro.
É muito importante para todos nós, deputados, o conhecimento do trabalho destas delegações e a forma como somos recebidos lá fora, como importante é também aceitar convites de parlamentos estrangeiros - só possíveis de receber e aceitar por causa da democracia trazida pelo 25 de Abril, que rompeu com o isolamento em que Portugal se manteve durante cerca de 50 anos, infelizmente.
Somos de opinião que a Assembleia da República deve estreitar relações com todos os países do mundo, nomeadamente com os países africanos de expressão portuguesa.
Para finalizar, devo salientar e fazer realçar uma outra iniciativa de V. Ex.ª que se vai realizar amanhã: a de reunir a Assembleia da República com os embaixadores de Angola, de Moçambique, da Guiné, de São