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I SÉRIE - NÚMERO 29

de os árbitros não poderem por si só coordenar a sua própria associação, os sucessivos folhetins de inquéritos não isentos e de pretensos isentos não inquiridos.
Acima de tudo, haverá que combater os interesses subliminares em jogo, que se sobrepõem aos interesses clubistas dos fiéis adeptos de todos os domingos. Daí se imponha a denúncia formal dessa nova loucura que agora invadiu o País: a importação sem regras de futebolistas estrangeiros. Tudo contará nesta jogada, que passa por uma inaceitável e perversa instrumentalização dos princípios da dupla nacionalidade e resulta da aparente permissividade dos mecanismos que permitem a indiscriminada utilização de jogadores estrangeiros pelos clubes portugueses.
Com efeito, só na 1.ª Divisão Nacional, em 16 clubes, militam 99 estrangeiros - talvez até um pouco mais, pelo que isto evoluiu nos últimos, dias -, enquanto apenas num só destes clubes existem 14 jogadores não portugueses. Ou seja, este clube português está a jogar ultimamente apenas com um jogador português...
Isto, por mais que se diga, atinge mesmo o inconcebível, contende com os interesses legítimos dos praticantes portugueses e levar-nos-á, porventura, a perguntar se todas as divisas despendidas correram os trâmites próprios, tais são, na verdade, as somas que, alegadamente, atingem tais transacções:
Arriscamo-nos, pois, a ver o Campeonato Nacional da 1.ª Divisão transformado numa gigantesca telenovela brasileira, o que contribuirá possivelmente para uma eventual melhoria do espectáculo desportivo, mas não trará, seguramente, um progresso qualitativo para o futebol português. Este, no decurso dos anos, tem beneficiado, é certo, do contributo e do exemplo de alguns atletas estrangeiros de eleição que por cá militaram. Foi o caso de bastantes jogadores brasileiros, que beneficiaram os seus colegas portugueses com os seus conhecimentos, a sua experiência e o seu ritmo na prática de alta competição. Só que agora o que se assiste é à total substituição dos atletas portugueses por futebolistas estrangeiros, que, na maioria dos casos, nem sequer são os tais atletas de eleição de outrora, mas sim meros «cracks» de ocasião para consumo conjuntural.
Para onde irá o futebol português? Do que se vem reflectindo do comportamento das equipas nacionais nos últimos confrontos internacionais não teremos razões para muito optimismo. A não ser que o nosso dirigismo federativo, tão permissivo face ao actual internacionalismo sem regras a que se assiste no futebol português, invente uma selecção nacional portuguesa com sotaque brasileiro. Depois dos jogadores, talvez seja a vez de se importarem igualmente - e porque não? - os dirigentes federativos, os árbitros, os massagistas, os treinadores, tudo brasileiro, tudo de arribação. E, já agora, como eles não estão dispostos a importarem os nossos acentos ortográficos, depois das telenovelas, importe-se também esse linguarejar gostoso que é o português do lado de lá. Viva o «esporte nacional»!

Aplausos do PS e do deputado do PRD Bártolo Campos.

O Sr. Presidente: - Para formular pedidos de esclarecimento, tem a palavra o Sr. Deputado Mendes Bota.

O Sr. Mendes Bota (PSD): - Sr. Deputado José Lello, depois da descrição futebolística que fez do panorama nacional, gostava que me dissesse quais são os males que estão na origem de tudo isto. Vir aqui apenas dizer que há brasileiros a jogar nos clubes portugueses não chega; há que dizer por que é que se chegou a esta situação.
Quando o Sr. Deputado falou no tráfico de influências em termos desportivos, gostaria igualmente que identificasse qual foi o governo que em Portugal mais se aproveitou da Secretaria de Estado dos Desportos para fazer tráfico de influência política, tal como se verificou numa recente campanha eleitoral para a Presidência da República.

O Sr. Presidente: - Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado José Lello.

O Sr. José Lello (PS): - Sr. Deputado Mendes Bota, na realidade houve um governo que criou uma Secretaria de Estado dos Desportos. Porém, agora não há Secretaria de Estado dos Desportos e, como referi na minha intervenção, não há estruturas que coordenem condignamente o sector.
De facto, o clima que se vive ao nível do desporto português é de tal modo degradante que provavelmente deve haver nisso qualquer coincidência. V. Ex.ª é que o disse; não fui eu!
As razões a que o Sr. Deputado se referiu são de ordem estrutural, são razões de fundo, e na intervenção que fiz apontei as que devem ser resolvidas, pois são extremamente importantes, têm um grande impacte a nível social e não ao nível da partidarite aguda, como V. Ex.ª aqui veio referir, e em relação ao que nem sequer vou responder porque não tem a mínima consistência.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Peixoto Coutinho.

O Sr. Peixoto Coutinho (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Ao falarmos de Trás-os-Montes, e nomeadamente do distrito de Bragança, uma das primeiras ideias que nos vem à mente é a distância. Distância essa que o tem mantido longe dos centros de decisão e esquecido ao longo de séculos por quem tinha obrigação de olhar para este país como um todo, uno e de iguais direitos ao progresso e desenvolvimento.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Felizmente, após o 25 de Abril, e graças essencialmente à tenacidade e labor das autarquias, muito se fez, muito se transformou e melhorou para benefício das populações locais, mas muito mais está ainda por fazer, sobretudo a nível de grandes infra-estruturas de base, que pela sua dimensão e importância são necessariamente acções do Poder Central.
E um desses grandes problemas são os transportes.
Não são os quilómetros que nos separam. É o tempo, a incomodidade, eu diria mesmo o martírio, que esses quilómetros custam a vencer.
De facto, os 200 e poucos quilómetros que separam Bragança do Porto não seriam muitos se para os percorrer não se necessitassem de cinco a sete horas e às vezes mais.