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5 DE MAIO DE 1989 3599

cumpridos, e existem os senhores que, reconhecendo embora o elevado sentido, etc, ..., na prática e no dia-a-dia apenas têm um secretário de Estado que faz um discurso ecologista a toda a hora e momento e.um Governo inteiro que é completamente anti-ecológico; ainda que o secretário de Estado e a sua equipa constituíssem uma boa equipa, um contra todos, jamais chegaria a algum lado.
Mas há ainda outra questão, Sr. Deputado. O Sr. Deputado é, certamente, um liberal, um capitalista confesso, e sabe que o capitalismo tem multiplicado, por toda a parte, as desigualdades, a dependência económica e política, a alienação e a degradação sociais. E mais: o capitalismo ameaça o futuro da humanidade através do rápido esgotamento dos recursos naturais, da destruição da natureza e da poluição do ambiente! Isto é o que os senhores fazem!
E já agora, pára a vossa informação e porque os senhores estão muito sorridentes, devo confessar que estou a fazer citações do programa do PSD!

O Sr. Costa Andrade (PSD): - Isso é uma maravilha!

O Orador: - É o programa do PSD que diz que o capitalismo, que é vossa religião, faz estas coisas à natureza e ao ambiente.

O Sr. Presidente: - Para responder as questões colocadas, se o desejar, tem a palavra o Sr. Deputado Mário Maciel:

O Sr. Mário Maciel (PSD): - Sr. Deputado Herculano Pombo, afinal de contas, também não resistiu à tentação de carrear para o debate argumentos circunstanciais, esquecendo-se que estamos a tecer um texto fundamental de princípios e de considerações importantes para o País. E, na tentativa de me querer embaraçar ou perturbar, trouxe aqui alguns exemplos jornalísticos de política de ambiente que, em boa verdade, em nada beliscam os princípios que aqui estivemos a discutir.
Acusou-me de ser capitalista, digo-lhe que não sou. Não sou capitalista porque pertenço ao Partido Social-Democrata, PSD, e nós nunca fomos, nem somos capitalistas.
Mas também lhe digo uma coisa, Sr. Deputado Herculano Pombo: nós não somos como o senhor, ecologistas de pedra da pedra lascada!

Aplausos do PSD.

O Sr. Herculano Pombo (Os Verdes): - O programa do PSD, que tenho na mão, é das cavernas?

O Orador: - O Sr. Deputado fez um discurso das cavernas, do homem primitivo. O Sr. Deputado é um australopitecus da ecologia portuguesa!

O Sr. Herculano Pombo (Os Verdes): - Sr. Presidente, peço a palavra, para a defesa da honra da minha bancada.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Herculano Pombo.

O Sr. Herculano Pombo (Os Verdes): - Embora com este semblante bem disposto, como é meu timbre, aliás, e com este poder de encaixar que, apesar de tudo, me é reconhecido, devo confessar ao Sr. Deputado Mário Maciel que se algumas vezes sou, como V. Ex.ª disse, do tempo da pedra lascada é porque são essas, apesar de tudo, as armas que o Governo entende, quando lhe atiramos as pedras lascadas. E isto talvez porque o Governo não tenha pessoas à altura de entender outras coisas, as ideias e conceitos que nós, apesar de tudo, temos ido buscar ao futuro.
É que, para podermos, assegurar o futuro, muitas vezes temos que avançar, com ideias de futuro e isso os senhores percebem; porém, às vezes fazemos um esforçozinho para jogar com ideias do tempo da pedra lascada e até nos damos ao cuidado de ler documentos do tempo da pedra lascada, do tempo que os social-democratas eram socialistas, do tempo em que os social-democratas tinham um programa e apelavam ao seu cumprimento, do tempo em que os social-democratas tinham definida no seu programa uma verdadeira política florestal. É bom que retire daqui este parágrafo e o mande ao Sr. Ministro Álvaro Barreto, era bom que retirasse o título sobre o ambiente e qualidade de vida e o mandasse para a Secretaria de Estado do Ambiente e dos Recursos Naturais para o afixarem nas portas!
Isto, Sr. Deputado, são argumentos da pedra lascada, isto é talvez uma rábula para jornalistas, mas isto é a verdade e a verdade cabe também nos jornais e cabe aqui no Hemiciclo. Porque é que não a havemos de dizer?!
Para finalizar, quero dizer ao Sr. Deputado que não me senti atingido com essa história do australopitecus. Como sabemos, o australopitecus era um homem que, para além do mais, não tinha grande qualidade de vida mas entendia os ritmos naturais e sabia respeitar a natureza, pois dependia dela. E se o australopitecus não tivesse esse conhecimento que por exemplo o Sr. Deputado, já perdeu, hoje não estaríamos aqui presentes, porque, isto tinha acabado antes de nós chegarmos. Ora, para que isto não acabe antes de chegarem as gerações futuras, revogava-lhe, Sr. Deputado, que, de vez em quando, soubesse ler, nos princípios do australopitecus, aquilo que eles têm de verdadeiro, de natural, pois eles são, ao fim e ao cabo, os princípios que asseguram que todos consigamos sobreviver. Cuidado com às vossas políticas que, no fundo, são políticas do século XIX, mas muito piores do que as nossas do tempo da pedra lascada!

O Sr. Presidente: - Para dar explicações, se o desejar, tem a palavra o Sr. Deputado Mário Maciel.

O Sr. Mário Maciel (PSD): - Antes de mais, lições de antropologia o Sr. Deputado não me dá, porque as lições já eu dei na Universidade dos Açores!

O Sr. Herculano Pombo (Os Verdes): - Mas de linhas programáticas, pelos vistos, posso dar!

O Orador: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Na altura em que esse documento alaranjado que o Sr. Deputado Herculano .Pombo exibiu aí - o programa do meu partido - foi elaborado, o Partido Os Verdes nem existia! Ora, nessa altura, já existiam