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21 DE JUNHO DE 1989 4645

conheçam mal, pois ele respondia sempre sim aos convites que lhe eram feitos. Com ele estive numa sessão solene, numa instituição de Vila Nova de Gaia, o Centro Democrático Latino Coelho, que teve a sua bandeira escondida durante muitos anos, e o Dr. António Macedo falou para cerca de trinta pessoas com o mesmo entusiasmo que falava nos. grandes comícios, nas grandes concentrações. Esta é uma faceta da simplicidade dos homens grandes - e daí, chamar-lhe um homem na verdadeira acepção da palavra.
Sendo também um homem de que Portugal se orgulha hoje, e se orgulhará durante muitos anos, ele era também um homem do Porto. Ora, sendo oriundo do
distrito do Porto, sentia no seu viver que a sua terra, o seu concelho, o seu distrito, estava acima de tudo o mais - que me perdoem os outros que não são do
distrito do Porto.
Mas, fundamentalmente, o que mais admirava em António Macedo era a sua juventude permanente, aquele homem que até. ao fim da sua vida manteve a vivacidade dos dezoito anos. Quando no outro lado do mundo, homens pouco mais novos do que ele, matam jovens de dezoito anos, ele estava ao lado dos jovens e vivia essa eterna juventude que fez dele um exemplo para todos nós.
Daí que queira testemunhar a minha solidariedade, e a solidariedade da minha bancada ao Partido Socialista, por ter perdido o seu presidente honorário e .por Portugal ter perdido um homem autêntico.

Aplausos gerais.

A Sr.ª Presidente:- Para uma declaração de voto; tem a palavra o Sr. Deputado Narana Coissoró.

O Sr. Narana Coissoró (CDS): - Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Conheci o Dr. António Macedo como legenda nos meus tempos de Coimbra e, depois, aqui em Lisboa, quando me estabeleci como profissional. Mas conheci-o pessoalmente nesta Assembleia da República. Lembro-me, como se fosse hoje, do seu discurso de despedida naquela Tribuna.
A última memória que me ficou dele, foi aquando da noite do lançamento do seu livro de memórias: a alegria, as anedotas, os flasches, os comentários que ele fez em relação a tudo e todos. Realmente, também me convenci, como dizia há pouco o nosso colega deputado Almeida Santos, que ele era invencível na morte e que jamais a morte o tocaria, mas, infelizmente, a morte colhe-nos a todos.
Não estava em Portugal no dia em que ele morreu, mas logo que soube da noticia, deu-me exactamente a vontade que, mais tarde, o Dr. Mário Soares manifestou: pegar num cravo e ir anonimamente deposita-lo na sua campa e dizer «António Macedo, há momentos em que vale a pena pegar num cravo e vale a pena lembrar que essa flor foi a sua». Acho que além da homenagem como amigo fraterno que o Dr. Mário Soares lhe prestou, vemos que foi o primeiro Magistrado da Nação que depositou no seu túmulo a flor de Portugal, e sentimo-nos recompensados, todos aqueles que não puderam ir ao funeral, por este gesto que representa verdadeiramente a homenagem de Portugal, pelo legitimo representante, ao Dr. António Macedo, nosso querido amigo.
Deus o tenha em paz.

Aplausos gerais.

A Sr.ª Presidente:.- Para uma declaração de voto, tem a palavra o Sr. Deputado Herculano Pombo.

O Sr. Herculano Pombo (Os Verdes): - Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Não posso, infelizmente, a propósito da vida do Dr. António Macedo, produzir tantas e tão bonitas e fidedignas palavras como as que foram produzidas antes de mim, pela razão simples de que não tive, com pena minha, a oportunidade de privar muito com o Dr. António Macedo.
No entanto, o pouco tempo que com ele pude partilhar esta existência em comum e, enfim, esta participação política ,activa, deu-me para dele fazer a ideia que agora com alguma felicidade vejo que é a ideia que mais sobressai das declarações anteriormente feitas. O Dr. António Macedo tantos anos viveu e nunca teve tempo para deixar de ser menino. O menino que ele sempre acreditou. que valia a pena continuar a lutar. O menino que ele era, com irreverência e boa disposição sempre preocupado em realizar a utopia e acreditar sempre nela, apesar de tudo, e de esperar pacientemente que aquilo porque lutava se realizasse.
Foi um homem, que viveu muito, viveu feliz, porque pôde ter a rara felicidade de ver coroados e conseguidos os objectivos por que tanto se empenhou e pelos quais arriscou deveras a vida.
A melhor homenagem que posso fazer ao Dr. António Macedo, à sua memória, é dizer que me empenharei; pois penso que ele gostaria que isso acontecesse com a nova geração de agentes políticos em Portugal, em assegurar o testemunho que nos passou, tentando levá-lo o mais longe possível. Ou seja, que este testemunho que ele agora nos transmitiu passe através de nós para as novas gerações que hão-de vir, não deixando apagar a chama da liberdade que ele ajudou a acender e que alimentou durante todos os anos em que essa chama era ameaçada, para que pudesse brilhar agora em toda a sua força e com toda a pujança que ela tem. As minhas homenagens sentidas ao Dr. António Macedo.

Aplausos gerais.

A Sr.ª Presidente: - Sr. Deputado Raul Castro, suponho que pretende também associar-se às palavras de todos os nossos colegas. Não tenho figura regimental para tal, mas se não houver oposição dou-lhe a palavra.
Tem a palavra, Sr. Deputado.

O Sr. Raul Castro (Indep): - Muito obrigado, Sr.ª Presidente.
Srs. Deputados, duas ordens de razões me levam aqui a dizer alguma coisa sobre um homem que eu considero uma das maiores figuras da democracia portuguesa por um lado, tê-lo conhecido há mais de quarenta anos em plena luta política contra o fascismo; por outro lado, ter criado com ele profundos laços de amizade e de camaradagem, sem que as nossas ideias fossem coincidentes, mas sem que o facto de elas não serem coincidentes, alguma vez, tivesse sido uma barreira ou sequer, uma sombra na amizade e na camaradagem que sempre existiu.
Não guardo do Dr. António Macedo a imagem que quando do homem já sem vida na casa mortuária do cemitério da Lapa. A imagem do Dr. António Macedo