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21 DE JUNHO DE 1989 4643

que seja lá para o fim da manhã, por exemplo; pelas 12 horas e 30 minutos.

A Sr.ª Presidente: - Srs. Deputados, sugeria que fizéssemos, de imediato, as votações e que tentássemos fazer a conferência de lideres hoje mesmo, de seguida.
Havendo acordo neste sentido, vamos começar pelo voto de pesar.
Embora o voto tenha sido distribuído, pediria ao Sr. Secretário, a título excepcional, o favor de o ler, porque julgo que a sua leitura é uma outra forma de homenagem a um companheiro desaparecido, que todos recordamos com grande saudade.

O Sr. Secretário (Reinaldo Gomes): - O voto de pesar n.º 70/V é do seguinte teor:

Homem verdadeiramente universal, com um sentido profundo da vida e 'dos homens, portador dos mais sublimes ideais de vivência democrática,
i António Macedo foi e é um símbolo da liberdade.
Faleceu mais um cidadão, um amigo que mantinha a disposição generosa de compartilhar a realidade e os sonhos de outros homens e mulheres.
Faleceu alguém que fez da sua vida um constante desafio de reconciliação dos homens, implementando o espirito de solidariedade e cooperação.
A Assembleia da República manifesta o seu pesar pela morte de António Macedo, invocando na sua figura a memória perene de uma ,grande personalidade da democracia portuguesa, resistente à ditadura,, fundador, e presidente honorário. do PS, democrata sempre empenhado na defesa da liberdade, da paz e da justiça, antigo deputado e membro do Conselho de Estado, vulto inesquecível de humanidade e convivência cívica, defensor incondicional dos direitos humanos; da justiça social e da paz.
Delibera guardar um minuto de silêncio em sua memória.

Sr.ª Presidente: - Srs. Deputados, vamos passar à votação.

Submetido a votação, foi aprovado por unanimidade.

A Sr.º Presidente: - Srs. Deputados, peço que guardemos todos um minuto de silêncio.

A Câmara guardou, de pé um minuto de silêncio.

Sr.ª Presidente: - Srs. Deputados, vamos agora, proceder à votação do voto de protesto...
Tem a palavra o Sr. Deputado António Guterres.

O Sr. António Guterres (PS): - Sr.ª Presidente, gostaríamos que não fossem misturadas as declarações de voto correspondentes a este voto de pesar com os votos de protesto. Por isso, pediria, se fosse possível a realização imediata das declarações de voto correspondentes a este voto de pesar e, depois, votaríamos os votos de protesto.

A Sr.ª Presidente: - Muito bem, Sr. Deputado: Assim se fará.
Para uma declaração de voto, tem a palavra o Sr. Deputado Almeida Santos.

O Sr. Almeida Santos (PS): - Sr.ª Presidente e Srs. Deputados: Depois das terríveis dúvidas sobre quem ganhou, a certeza cruel de que todos perdemos com a morte do nosso querido António Macedo.
Infelizmente; tenho de reconhecer que as palavras são Inúteis quando se trata de substituir o convívio amável é gentil desse nosso querido amigo que, ainda há dias, andava aqui no meio de nós.
Dizia, há dias, o poeta Miguel Torga que aquando se vive muito tempo, a vida dá para tudo». O nosso António Macedo também viveu muito tempo. E aproveitou bem a vida. Desde nascer a ser o menino grapiúna que sempre foi, em Valongo e Amarante, onde teve por padrinho o grande António Cândido - e por isso mesmo ele se chamava, também António Cândido até ter sido líder académico na Coimbra do seu tempo, que ele encheu de galhardia e de inconformidade advogado, a tempo inteiro, da vida e de alma, defensor dos humilhados e oprimidos do anterior regime, com assinatura nos plenários criminais. Ele próprio criminoso à luz dos critérios do anterior regime, pelo crime de querer ser livre e teimar em defender a democracia e a liberdade e sobretudo, o prisioneiro incómodo porque, enquanto outros se abatiam disse-me muitas vezes; era na prisão que ele se sentia mais livre por dentro. Então, galhofava com os guardas e acabava por transformar a sua prisão no protesto da chacota, como quem diz «nem aqui vocês me humilham; nem aqui vocês me vergam».
Toda a vida me surpreendeu, porque ele era um homem de imprevistos. Um belo dia, candidatei-me em Moçambique- como deputado. da Oposição e fui descandidatado por não ter feito a prova de qualidade de cidadão português. Logo, o António Macedo teve esta reacção imediata: requerer a nulidade de todas as candidaturas daqui, do Continente ou da metrópole, como então se dizia, porque nenhuma delas, obviamente, tinha feito a prova de qualidade de cidadão português.
Era assim, a deitar fora a língua ao poder instituído, que ele permanentemente, o combatia, com o sentido de dignidade e de grandeza extraordinário, que foi uma constante de sua vida.
António Macedo foi, desde o 28 de Maio de 1926, até 25 de Abril de 1975, um verdadeiro «Capitão de Abril» avant Ia lettre. Ele foi, como poderia chamar-lhe, o soldado do quadro permanente e efectivo dos combatentes pela liberdade.
Temos; aqui, nesta Casa outros exemplos. Se me permitissem; falava nos dois queridos socialistas que foram seus companheiros de luta e de prisão: O Cal Brandão e o Raul Rêgo. Outros há aqui, obviamente. Vejo o Carlos Brito, o Montalvão Machado e outros e que me perdoem se os não cito a todos.
15so significa que ele pertenceu a uma geração de homens que constituíram; a justo titulo, para nós, um enorme exemplo. Eu aprendi muito com o António Macedo. Mesmo quando ele encarava as coisas sérias com a. galhardia de um traquinas, que ele sempre foi por, dentro e por fora era um homem extraordinariamente grande e eu enriqueci muito no convívio com ele.
Eu; de algum modo,- deixei-me surpreender pela sua morte,- porque vi-o combater com êxito ditadores e doenças. Ele triunfava sempre da doença. Destruiu um
cancro, de vez em quando baixava à casa de saúde e de lá saia para mais uma arremetida contra o poder