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4644 I SÉRIE - NÚMERO 93

instituído, porque ele foi sempre um partidário do anti-poder. Mas o nosso António Macedo tantas vezes triunfou sobre a doença que cheguei a convencer-me que ele não morria mais, que era eterno! Afinal de contas, não era. Mas talvez haja alguma verdade nessa minha convicção, porque o António Macedo só morrerá ou vai começar a morrer no dia em que morrer o último daqueles que o conheceram e com ele conviveram. Até lá, nós vamos falar no António Macedo, contar as peripécias da vida do António Macedo; da coragem do António Macedo; da galhardia do António Macedo; do bom combate do António Macedo. Ele viverá na nossa recordação e na nossa saudade.
Quero, portanto, dizer que morreu o semeador mas não morreu a semente, nem morrerá a seara, nem morrerá o pão nem a vida, que ele tanto amou e que realmente só vale a pena ser vivida tal como ele a defendeu, tal como ele a concebeu, exactamente como ele era, na luta que por ela travou.
Penso que, unidos num sentimento de profundo pesar, a melhor homenagem que lhe poderemos fazer é recordá-lo, respeitar a sua memória, difundir e ensinar o seu exemplo, para que aqueles que não tiveram o privilégio de o conhecer possam, ainda assim, exercer o seu direito de o ter por exemplo.
Aplausos gerais.

A Sr.ª Presidente: - Para uma declaração de voto, tem a palavra o Sr. Deputado José Manuel Mendes.

O Sr. José Manuel Mendes (PCP): - Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: A morte de António Macedo magoou fundamente a consciência democrática do País. Presidente honorário do Partido Socialista, de que fora fundador, cidadão que nunca renunciou aos desafios transfigurados de um tempo que conheceu o opróbio e a euforia, António Macedo era e é uma legenda justa.
Resistente esclarecido e intemerato, suportou as perseguições e o cárcere, suspeições e enxovalhes, com extrema dignidade.
Defendeu, enquanto advogado, nos tribunais de antes do 25 de Abril, em especial no Plenário, grandes figuras da luta antifascista e anticolonialista, como já aqui, de certo modo, foi recordado e importa não esquecer.
Exerceu, como deputado e membro do Conselho de Estado - onde assumiu sempre, de forma vertical e independente, as suas altas funções - mandatos plenos de assiduidade e adequada intervenção.
Conhecemo-lo. Com ele privámos. Ouvimo-lo em diferentes circunstâncias, na pugna pelas suas ideias. Lemos os seus escritos e, ainda recentemente, as suas memórias, ou parte delas, uma vez que novas páginas se anunciaram, tão repassadas de alegre e sadia camaradagem, de vivaz ternura humana, de ávida confiança no devir.
Estivemos juntos nas horas fagueiras como nas cinzentas, antes e depois de 1974, partilhando os sobressaltos do real, o ardor dos sonhos que mobilizam, inúmeros percursos de combatividade e construção. Dele divergimos, quando necessário, como ele mantendo um diálogo elevado e fraterno, um contraditório sério e sereno. Dele guardamos a imagem, que se não esbate nos contornos fundamentais, de um companheiro de esperanças e muitos propósitos equanimizadores.
Honramos a sua lembrança e, com o perfil da sua acção pertinaz - mesmo quando não coincidente com a nossa - entre as luzes dos nossos passos, porfiaremos nos prélios que se avizinham em prol de uma liberdade cada vez mais fecunda e do melhor dos destinos para o nosso povo.
Aplausos gerais.

A Sr.ª Presidente: - Para uma declaração de voto, tem a palavra o Sr. Deputado Montai vão Machado.

O Sr. Montalvão Machado (PSD): - Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Também, em meu nome e do meu grupo parlamentar, quero aqui deitar uma palavra de extraordinária saudade pelo António Macedo.
Conheci o António Macedo em 1945. Tinha acabado de me formar em Direito, fui para o Porto e fui admitido na «toca» - a «toca» era o escritório do António Macedo. Era lá que, efectivamente, se reuniam, sempre que possível, aqueles que acreditávamos que a ditadura iria acabar na semana seguinte ou dali por quinze dias; em que se pensavam e repensavam revoluções, quase constantes, porque a ditadura estava a chegar ao fim, e, ao fim ao cabo, demorou tanto e tanto tempo a acabar. Foi lá que conheci grandes democratas: o Mário Cal Brandão, o Carlos Cal Brandão, o Artur Santos Silva, o Olívio França e tantos e tantos outros que Deus já levou, mas de quem ficou o exemplo.
O António Macedo foi um combatente a vida inteira. Combateu pela liberdade, como poucos. Era um amigo bom; era um homem bom. Era um homem que não virava a cara a nada. Era um valente nas ideias; era um valente na luta e era um belíssimo companheiro.
Mas, como dizia, o António Macedo foi um valente combatente: combatente pela liberdade e combatente pela vida. Recordo-me de ter encontrado o António Macedo, em 1953, em Paris, e de me ter dito - reparem, em 1953! - :«Que estava condenado; que tinha seis meses de vida, mas que não dissesse nada à mulher porque a mulher não sabia.» No mesmo passo, um pouco atrás, no mesmo passeio de uma avenida, a mulher dizia para a minha mulher: «O meu marido está condenado, tem seis meses de vida, mas não diga nada porque ele não sabe.» Andavam a esconder isso um do outro. Isto nobilita duas pessoas: o homem e a mulher.
Não tenho vergonha de dizer que, quando o António Macedo partiu, algumas lágrimas me caíram pela cara abaixo. Foi um grande amigo que perdi; foi um grande democrata que Portugal perdeu. Para ele uma saudade.
Aplausos gerais.

A Sr.ª Presidente: - Para uma declaração de voto, tem a palavra o Sr. Deputado Barbosa da Costa.

O Sr. Barbosa da Costa (PRD): - Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Dizer que António Macedo foi um democrata é apoucar a sua imagem, é apoucar a sua memória. Gostaria mais de dizer que António Macedo foi um homem, um homem na verdadeira acepção da palavra, um homem que, em si mesmo, vive todas as virtualidades que um ser humano autêntico deve ter.
Tive oportunidade de com ele conviver em alguns actos simples, talvez seja um aspecto que as pessoas