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22 DE SETEMBRO DE 1989 5243

a vida política em Portugal como uma democracia estabilizada em que já ninguém mete medo a ninguém!

Entretanto, assumiu a presidência o Sr. Deputado Montalvão. Machado.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado Rui Salvada, pretende responder já ou no final dos pedidos de esclarecimentos?

O Sr. Rui Salvada (PSD): - Respondo no final, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: - Tem então a palavra o Sr. Deputado Carlos Brito.

O Sr. Carlos Brito (PCP): - Sr. Presidente, Sr. Deputado Rui Salvada: Por estranho que pareça, ouvi-o com certo regozijo. Isto por duas ordens de razão: em primeiro lugar, porque vem confirmar uma tese política que anunciei na passada reunião da Comissão Permanente ao afirmar que fundamentalismo «laranja» tinha tomado o poder no PSD ou, ao menos, no Grupo Parlamentar do PSD; em segundo lugar, porque a sua intervenção traduz as grandes dificuldades e, mais, o pânico de que o PSD está possuído. E passo agora às perguntas.
O Sr. Deputado Rui Salvada dá nota de coisas novas que estão a acontecer na nossa sociedade e já ontem o Governo teve necessidade de comentar publicamente essas coisas novas - e muitas mais têm sido comentadas nos últimos dias. Pergunto: o Sr. Deputado não experimentou ainda interrogar-se por que é que isto está a acontecer? Não haverá razão para que isto aconteça? Não será a tal arrogância e incapacidade do Governo de dialogar que leva a que não só a CGTP se encontre com a UGT ou que se encontrem os sindicatos dos professores das mais variadas tendências, mas também a que se assista às greves dos juízes, dos professores universitários e por aí fora - e não vou citar-lhe toda a lista? É que se estão a encontrar pessoas das mais variadas tendências, do mais variado voto, incluindo muita gente que votou «laranja», não digo nas eleições de 19 de Julho de 1987 mas nas mais recentes. Isso não o leva a interrogar-se?
Uma outra chamada de atenção: o Sr. Deputado falou muito da situação dos trabalhadores durante os governos liderados pelo PS (de que também fazia parte o PSD), revelando uma grande sensibilidade e apontando muitas coisas. E em relação aos trabalhadores sob o consulado dos governos do PSD, incluindo o actual, qual é a sua situação no dia de hoje? Corre tudo bem para eles? São só maquiavélicas razões ideológicas que os levam a actuar em defesa dos seus interesses, pondo em causa a política do Governo? É só isso? Explique-nos isto, Sr. Deputado Rui Salvada, de, sendo um sindicalista, não ser capaz de ter aqui uma palavra de solidariedade para com os reformados, para com os desempregados, para com os trabalhadores que hoje se vêem a braços com uma redução real do seu poder de compra e com dificuldades, cada vez maiores, na sua vida.

Vozes do PCP: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Nogueira de Brito.

O Sr. Nogueira de Brito (CDS): - Sr. Presidente, Sr. Deputado Rui Salvada: Não serei eu nem a minha bancada que contestaremos a legitimidade de V. Ex.ª para tratar nesta sede, na Assembleia da República, a matéria que constituiu o objecto da sua intervenção.

O Sr. Duarte Lima (PSD): - Muito bem!

O Orador: - Muito obrigado, Sr. Deputado Vieira de Castro. Agradeço os seus «muito bem».

O Sr. Duarte Lima (PSD): - Fui eu quem disse «muito bem», Sr. Deputado.

O Orador: - Então, ao Sr. Deputado um «muito obrigado».
Considero, no entanto, curioso que tenha sido V. Ex.ª o deputado escolhido para fazer essa intervenção, atenta a conhecida posição que ocupa na estrutura do movimento sindical. Se não estou em erro, o Sr. Deputado pertence mesmo, pelas vias por que normalmente se pertence, à estrutura da União Geral dos Trabalhadores.
Pergunto: a sua intervenção significa uma confissão da sua incapacidade para na União Geral dos Trabalhadores inflectir os acontecimentos e fazer vingar a boa doutrina que enunciou? Há ou não nos quadros da União Geral dos Trabalhadores elementos, que são seus companheiros partidários - e não chamo camaradas, mas companheiros partidários - e não chamo camaradas, mas companheiros do partido, amigos do seu partido -, que estão de braço dado com a estratégia que redundou na Cimeira de que ontem tivemos notícia? Esses seus companheiros de partido estão ou não de acordo com essa estratégia? Se não estão, já exprimiram devidamente as suas opiniões e conseguiram fazer vingar opiniões em sentido contrário? São estas as primeiras questões que lhe deixo, Sr. Deputado Rui Salvada.
Curiosamente, no contexto da sua intervenção e das perguntas que lhe foram feitas, entrou-se, sublinhando algumas das suas palavras, numa apreciação do que é a perspectiva histórica dos deputados e dos partidos. O Sr. Deputado António Guterres elogiou, no fundo, a perspectiva histórica do PSD, que consegue, sempre à distância, elogiar o PS, mas depois teve uma curiosa interpretação do que é a perspectiva histórica, quando referiu a coligação patriótica de esquerda que está a formar-se em Lisboa «para a salvar», segundo disse o Sr. Deputado António Guterres. Suponho que ele adoptou a mesma perspectiva de V. Ex.ª quando falou de uma cidade que caminhava para o desastre nos últimos tempos, ou seja, nos tempos da gestão do Partido Socialista e do MDP com certeza que ia caminhando para o desastre completo e total!...
Por outro lado, apesar da grande simpatia pela perspectiva histórica apontada pelo Sr. Deputado António Guterres, o Sr. Deputado Rui Salvada fez algumas confusões nessa matéria porque, como de costume e adoptando uma postura muito federativa do seu partido, criticou os governos do bloco central e situações vividas nessa altura. Esqueceu-se, porventura, que era o seu companheiro de partido, Dr. Amândio de Azevedo, quem se defrontava com os problemas que aqui lhe púnhamos, precisamente em relação a essas situações do trabalho infantil, dos salários em atraso, etc., e que