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100 I SÉRIE-NÚMERO 3

o a o avisado Maquiavel dizia que um Príncipe que depende exclusivamente da sorte, cai quando a sorte muda. Mas neste caso não foi sequer a sorte que mudou os favores do céu piedosamente persistem! O que mudou foi a tolerância a compreensão e o excesso de boa fé dos Portugueses. As últimas eleições foram elas próprias um acto de fé. Mas as próximas serão seguramente uma escolha consciente de uma massa crítica nada propensa a voltar a ser enganada.
Esta mesma moção de censura já não é senão de forma institucionalizada a tradução da vaga de fundo crítica e da censura difusa que em tudo quanto é local de trabalho, convívio, transporte ou praça pública com crescente intensidade enche o quotidiano dos Portugueses.
O caso não é para menos. Tudo começou quando o Sr. Primeiro-Ministro deu em entrar diariamente na casa dos Portugueses ungido de perfume celeste e a compartilhar com o Santo Padre do atributo da infabilidade. Imune ao erro impenetrável à dúvida.
Austero e distante como um anacoreta agredia-nos a consciência com alturas éticas de estarrecer. O seu projecto político, segundo ele próprio em eminentemente nacional - já Napoleão dizia o mesmo - era tão pouco deste mundo que dizia o Primeiro-Ministro não respeitava os raciocínios políticos nem as barreiras ideológicas convencionais. Os outros falavam, ele agia. Os outros improvisavam, ele lia os dossiers. Avesso a mundanidades encarava o Governo como um cárcere. Mas por tudo isso vinham aí a fartura, a estabilidade e a paz social.
E quando alguém duvidava das suas metas - fossem as da inflação, as do crescimento ou as das balanças - tomava-se de justa ira e reafirmava-as com paraclética indignação. O Parlamento? Um empecilho! Os partidos? Uma choldra! O Estado? Um excesso!
Gente ingrata estes portugueses. Pois não é que três anos volvidos já praticam a heresia e já deitam pelos olhos tanta perfeição tanta eficiência, tanta promessa e tanta basofia?
O descontentamento instala-se.
São os trabalhadores em pé de guerra, são os funcionários em pé de raiva, são os empresários em pé de crise, são os consumidores, os contribuintes, os médicos, os advogados, os juízes, os militares, Quem não é?
Nunca houve tanta greve. Nem tanto corte de estrada! Nem tanto bloqueio tractorizado. Nem tanta insegurança nas ruas. Nem tanta moleza nas consciências. Mas, a todos estes indicadores políticos responde o Governo com o mito confortável de uns tantos indicadores económicos.
Pois não crescem o investimento e o PIB? Não baixa o desemprego? Não amaina a dívida?
Nesta sua incompreensão o Governo descobre um dos seus principais defeitos, o de governar em função de performances tecnocráticos e não em função da felicidade dos homens.
O crescimento é bom. Mas o País cresce, como cresce, em que cresce, a benefício de quem? Que os grupos económicos crescem - e em certo sentido é bom que cresçam - não resta a menor dúvida. Mas cresce também o poder de compra dos salários e dos mais modestos rendimentos?
A quebra do desemprego é óptima. Só que o Governo apostou na quebra da inflação e saiu-lhe o reforço do emprego.
Tudo estaria certo se tivesse sido essa uma opção consciente. Mas não! A opção foi a contrária. O termos saído este bem e não aquele, não choca como resultado. Choca por revelar que este Governo exerce o poder com a precisa álea de quem joga na roleta. Foi comovente o esforço do Sr. Ministro das Finanças há dias na TV a tentar justificar a derrapagem da taxa de inflação. Queríamos mais desemprego? Menos crescimento? Pois o preço de não querermos nada disso foi o aumento da inflação.
Só que o Governo apostou em primeira opção numa redução do crescimento dos preços para a meta jurada e trejurada dos 6 %. Logo com sacrifício do emprego e do crescimento. Só que sacrificados não foram estes mas aquele! O Governo cometeu um erro grosseiro. Um erro de previsão grave e reforçado pela teimosia de nele persistir para lá de todas as evidências. Era preciso salvar o mito de que o Primeiro-Ministro não se engana! Infelizmente até o Santo Padre foi a Timor.

Aplausos do PS.

Se amanhã a dívida não é decerto por efeito do deficit da balança de transacções correntes que volta a ser significativamente negativo. Só no 1.º trimestre de 1989 um deficit igual ao dc todo o exercício de 1988 estes e não maiores por graça dos fluxos, financeiros da Comunidade Europeia. Impõe-se assim uma pergunta inocente; se a situação financeira é tão confortável assim e de algum modo até é por que é que o Governo caustica os Portugueses com uma tão a política de distribuição de rendimentos e os contribuintes com uma tão escalpelizante carga fiscal?
Porque aqui é que bate o ponto. Fizesse o Governo o que fizesse, inclusive tocar ol no inclusive aquilo que exactamente é o crescimento do PIB, não seria substancialmente diferente do que foi. O termo da recessão económica, a baixa do preço da energia, das matérias primas e o dinheiro além dos milhões do T o Monet se encarregariam sempre de empurrar a nossa economia e de estimular o investimento externo. Onde o Governo falhou rotundamente porque aí dependeu apenas de si mesmo foi nas políticas de distribuição de rendimentos. Porque o crescimento foi um facto, o investimento um primor o imposto comunitário um bónus, agora aproveitado a colheita para reforçar, o pão e a pescaria para multiplicar os peixes (que ao invés deixa morrer).
A conjuntura dispensava o milagre. Só não dispensava um Governo com alma no preciso lugar em que este põe o cifrão.
Que os Governos das situações de quase ruptura cambial impusessem mais um furo no cinto, era uma patriótica inevitabilidade. Que este Governo em plena euforia financeira de que se jacta não tenha aliviado a cruz dos que em do seu ordenado do seu salário, da sua reforma ou da sua pensão - qual deles o mais exíguo - é falta de solicitude de humanidade de justiça que há-de acompanhar como um ferrete, até ao juízo final, os responsáveis pelas correspondentes políticas. É sabido que a retribuição do trabalho vem percentualmente baixando na distribuição funcionando rendimento nacional - em termos globais 68,7 % em 1976, 45,2 % em 1987. É também sabido que inversamente à taxa média de tributação dos rendimentos do trabalho sempre em relação ao PIB, tem crescido significativamente 19,8 % em 1976 29,8 % em 1987.