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20 DE OUTUBRO DE 1989 105

De qualquer modo, Sr. Deputado Almeida Santos, eu gostava não que o Sr. Deputado insistisse em ser o Mauroy do socialismo francês, mas que tivesse, pelo menos, um toque de Louis Mermaz. Isto porque, perante a firmeza de Rocard em não enviar subsídios do Governo aos grevistas da Peugeot, Mermaz fez uma quête entre os seus colegas do grupo parlamentar socialista, enviando, em gesto de solidariedade, uma soma aos grevistas.
Não vos sugiro isto. Sugiro-vos apenas que paguem as dívidas à Segurança Social.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, antes de dar a palavra, para o último pedido de esclarecimento, ao Sr. Ministradas Finanças, e porque também não faz mal tecer, de vez em quando, um pequeno comentário humorístico, gostaria de dizer ao Sr. Deputado Silva Marques que a tolerância não é regimental. Na verdade, e como de costume, chamei-lhe a atenção aos três minutos, fiz o mesmo aos quatro minutos e cortar-lhe-ia a palavra aos cinco minutos.
Teci este comentário apenas para provar que não sou tão tecnocrata como muitas vezes me acusam de ser.
Por outro lado, gostaria também de dizer aos Srs. Deputados que há ainda um número reduzido de votantes. Acontece, aliás, que o número de votantes verificado não chega sequer para atingir o número necessário de votos. Portanto, e visto que estamos a vinte minutos do termo, solicito-vos que, por etapas, um após outro, os Srs. Deputados vão fazendo a votação que é necessário efectuar.
Tem a palavra o Sr. Ministro das Finanças.

O Sr. Ministro das Finanças (Miguel Cadilhe): - Sr., Deputado Almeida Santos, tive a honra de ser referido mais uma vez no seu discurso, com a ironia luso-
britânica que lhe é muito própria. Nós achamos graça a isso.
Claro que o País não vive de graças.

O Sr. Octávio Teixeira (PCP): - Vive de desgraças!

O Orador: - Por isso mesmo, o resultado que o Sr. Deputado Almeida Santos tem conhecido como fruto dos seus discursos é aquele que todos nós também conhecemos. No entanto, é agradável ouvir os, seus discursos, a sua ironia, a sua graça, embora pareça que o povo português não lhe acha graça nenhuma.
De qualquer modo, nós aqui, perante este hemiciclo, e considerando sempre que se trata de uma excelente oportunidade, vamos tendo o privilégio de ouvi-lo. V. Ex.ª tem, de facto, um talento literário. Porém - desculpar-me-á que lho diga -, de economia ainda sabe pouco, embora ainda tenha muitos anos à sua frente para aprender alguma coisa. E como vai ter a felicidade de ter o Governo Cavaco Silva durante muitos anos, daqui a uns tempos deixará de ser aprendiz e certamente que cometerá menos erros. Porém, como hoje cometeu vários, vou pedir-lhe a sua atenção para alguns deles.
V. Ex.ª disse ainda, aliás, que os governantes - referiu-se pelo menos a um meu colega do Governo - variavam entre a literatura e a tecnocracia. No entanto, V. Ex.ª varia entre a literatura e a literatura, ...

Risos do PSD.

... não nos deixando mais nada a não ser umas belíssimas peças literárias vazias de conteúdo. Aliás, V. Ex.ª é um homem de letras. O País tem, no entanto, entendido que é um «homem de tretas» ...

Risos do PSD.

... e por isso deu-lhe os resultados que V. Ex.ª e o seu partido tem tido.
O Sr. Deputado tem um talento literário surpreendente. Porém, parece não ser tão talentoso nas contas. Aliás, há quatro anos atrás, as suas contas apontavam, com toda a certeza e segurança, para 43%. Enganou-se em 20 pontos, ficando pelos 22 % ...

Risos do PSD.

É claro que sei que quem é bom na literatura não pode ser bom em tudo. Mas seria bom para o País que V. Ex.ª conseguisse acertar, de quando em vez, com algumas contas.
De qualquer modo, o pior não foi o seu desaire em 1985, porque muito boa gente tem desaires. O pior foi V. Ex.ª não ter, na altura, a consciência dos graves erros acumulados pela sua governação. Mais grave ainda, porém, foi V. Ex.ª não ter a clarividência de antever que o povo português, com a sua sabedoria, não haveria de perdoar os erros dessa mesma governação. Ao Sr. Deputado, que foi, aliás - suponho que ainda é -, um dos cidadãos deste país com mais experiência governativa, eu diria: com a experiência governativa mais longa e mais fecunda em erros de governação.
Sr. Deputado, relativamente às suas afirmações, gostaria de, muito rapidamente, dizer-lhe que a distribuição do rendimento em Portugal é agora muito mais a favor do trabalho do que o era quando V. Ex.ª terminou a governação.
Por outro lado, e em termos reais, o investimento encontra-se, agora duas vezes acima do nível que possuía quando o Sr. Deputado terminou a governação.
Os salários reais tinham, na altura em que V. Ex.ª era governante, caído, em termos acumulados, vários e severos pontos reais, apenas com uma pequena recuperação em 1985. Desde então e até hoje, os salários reais tem evoluído positivamente, a acompanhar a produtividade.
Quanto aos juros de depósitos a prazo, lembro a V. Ex.ª que introduzimos esse factor enorme de modernização, do sistema financeiro português que foi o de liberalizar as taxas de juro. De facto, elas são hoje o que o mercado de capitais determinar, ao passo que no seu tempo as taxas de juro eram reais negativas.
Sr. Deputado, para terminar, e com toda a consideração que tenho por V. Ex.ª -acredite que tenho uma enorme admiração pelo seu talento literário -, gostaria de perguntar-lhe, com que é que V. Ex.ª tem tão má vontade e repele o seu discurso - sempre, sempre o mesmo discurso, embora variando, um pouco na forma - contra este Primeiro-Ministro.

Risos do PS e do PCP.

Por que é que V. Ex.ª tem tão mau perder?
Dê tempo ao tempo, porque para já, pelo menos hoje, de censura ficámos com nada e a moção ficámos com o seu discurso.

Aplausos do PSD.