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20 DE OUTUBRO DE 1989 107

Talvez me tenha enganado, mas baseei-me num trabalho de um especialista muito sério. E o Sr. Ministro verá em breve este indicativo certo ou errado,- porque, de facto, não sou especialista - quando esse trabalho for publicado, o que acontecerá dentro de pouco tempo. Portanto, já vê que não falei de cor. No entanto, por outro lado, se me enganei em 20 pontos, errei cerca de 50%. Contudo, o Sr. Ministro enganou-se em 100% na taxa da inflação e manteve esse engano quando era já óbvio!

Aplausos do PS e do PCP.

Perguntou-me também se não, tive consciência, no desaire de 1985, dos erros acumulados pela minha governação.
A minha governação, Sr. Ministro?! A governação do seu partido, de mão dada com o meu partido, e dividida por muitos responsáveis, um dos quais era apenas eu - aliás, como sabe, nem o mais responsável, pois não tinha sequer um pelouro onde pudesse cometer erros dessa ordem.
Tive consciência de muitos erros, só que tive consciência de que muitas impopularidades - aliás, como referi, inevitáveis - eram decorrentes da situação económica e financeira da época. De facto, gostaria de ver o Sr. Ministro, no lugar do Ministro Hernâni Lopes, falar com a mesma auto-satisfação, a mesma auto-confiança e o mesmo à-vontade com que se atribui elogios e méritos no tempo em que o Ministro Hernâni Lopes tinha de, dia a dia, arranjar dinheiro para evitar situações de ruptura financeira.

Aplausos, do PS.

Afirma também o Sr. Ministro quer com mais experiência, eu vou lá.
Bem, V. Ex.ª já só tem de esperar é que eu morra, pois já não vou muito longe em termos de experiência.
Diz também V. Ex.ª, que o trabalho está agora «mais acima» do que quando deixei o Governo.
Não compare coisas incomparáveis, Sr. Ministro. Desculpe-me que lhe diga, mas isso é. falta de escrúpulo mental. De facto, V. Ex.ª não pode comparar a situação do último governo do bloco central, seja no trabalho, na Segurança Social, no nível das pensões, no preço dos salários ou no que for, com a situação que agora disfruta.
Eu não vos acuso de a situação não estar melhor - aliás, estaria melhor em qualquer caso, mesmo que os senhores tocassem violino. Do que, eu vos acuso é de neste momento, em que poderiam aliviar a cruz de muitos portugueses, a não aliviarem, pois vivem em função de performances técnicas - e não em função de solidariedade humana ou de preocupação com o vosso semelhante.

Aplausos do PS.

Disse ainda o Sr. Ministro que o Governo liberalizou as taxas de juro para depósitos a prazo.
Bem me importa a mim que as tenham ou não liberalizado. Se a liberalização das taxas levasse a remunerações positivas dos depósitos dos aforradores portugueses, eu diria: viva a liberalização das taxas! No entanto, como o que interessa aos aforradores são os resultados, eles continuam - e o Sr. Ministro não me faz a demonstração contrária - fortemente negativos (ou pelo menos em parte negativos) e isso é, a meu ver, um dos «crimes» deste Governo, que não tem o direito de passar a vida a gritar por menos Estado e estar, por essa via, uma vez que esse dinheiro faz entrar lucros na banca - das dações em cumprimento, da inflação, do imposto regressivo, etc. -, a promover mais Estado, embora, como é óbvio, com a correcção da venda das empresas rentáveis.
Pergunta ainda V. Ex.ª da razão da minha má vontade contra este, Primeiro-Ministro.
Não se trata de má vontade. Aliás, pessoalmente tenho simpatia por este Sr. Primeiro-Ministro; damos-nos bem, penso eu. Politicamente é que não. Pessoalmente não há qualquer problema. O Primeiro-Ministro é uma pessoa honesta e um professor ilustre. Só que ele é também aquilo que lhe tenho dito nos meus discursos e por isso não posso gostar dele politicamente - era hipócrita se dissesse que gostava.
Penso que o Sr. Primeiro-Ministro não é uma planta de estufa. Ainda hoje fez aqui, ao meu partido, acusações de uma gravidade extrema e até completamento fora do contexto. Na verdade, 35 páginas do seu discurso são para falar de uma coisa que não estava em causa, incorrendo mais uma vez no tal anticomunismo, não primário mas pré-primário. E a verdade é que não se apercebeu que pode, na base desta coligação, estar uma atitude completamento diferente de um «dar a mão» ao PCP.
Não é isso, Sr. Ministro das Finanças. Isso que nós fizemos traduz-se, em primeiro lugar, no exercício de um direito que os senhores não têm nada que criticar. No entanto, devo dizer-lhe que não há o receio de isto se vir a transformar, como me pareceu resultar do discurso do Sr. Deputado Montalvão Machado, numa «frente popular» para as legislativas. Isto pela simples razão de que o povo já viu que, quando os senhores se coligaram com o PCP em Sintra, logo a seguir não veio uma «frente popular» à escala nacional.
Estejam, portanto, tranquilos, pois o povo também o está. Sabe-se que uma coligação para Lisboa pode ser, e ser só, uma coligação para Lisboa. Por amor de Deus, parem com isso, porque senão continuam a fabricar comunistas como Salazar fabricou, querendo afinal de contas, combatê-los.
Eu não tenho mau perder. Aliás, fui o único político que, numa eleição de 250 deputados, assumiu sozinho a responsabilidade da derrota - não encontra nenhum outro caso na política portuguesa. De facto, não fiquei ressentido, não fugi, não fiquei amuado, não disse: a política não me merece, não fui para casa. Estou aqui, humildemente, uma vez mais na tarimbazinha de deputado, de que gosto muito.
Mas há uma coisa que lhe quero dizer, Sr. Ministro: eu e o meu partido já fomos julgados uma vez, depois voltámos a sê-lo, voltámos a ganhar, e já pagámos, já cumprimos a nossa sentença. Quem está a ser agora julgado são os senhores.
Esta moção de censura é isso: o julgamento aos vossos actos. Portanto, não esteja preocupado com o que vai acontecer ao Partido Socialista ou mesmo ao meu futuro, porque o povo português, com o vosso exemplo, começa a ter sólidas razões para admirar os governos de que fiz parte e os actos que patrocinei como membro do Governo.

Risos do PSD.

Devo dizer-lhe uma coisa, Sr. Ministro: é injusto quando diz que sou um homem de tretas. Nunca me vanglorio disto, mas não encontro nenhum político por-