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23 DE MARÇO DE 1990 1965

com a política de desenvolvimento cultural, que, essa sim, deve ser o pelouro das mulheres que, pela sua sensibilidade e paixão pelas artes, estão naturalmente vocacionadas para a exercer, não esquecendo, claro, que a cultura é o «motor» da mudança exigida pela crise de valores que está a abalar os alicerces desta nossa civilização que o homem fundou.
Aplausos gerais.
Entretanto, reassumiu a presidência o Sr. Vice-Presidente Maia Nunes de Almeida.

O Sr. Presidente: — Inscreveram-se, para pedir esclarecimentos, os Srs. Deputados Pedro Campilho, Manuela Aguiar — e deste modo se desfaz, na prática, um equívoco — e Amândio Gomes.
Tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Campilho.

O Sr. Pedro Campilho (PSD): — Sr.ª Deputada Natália Correia, o que vou fazer é mais do que um pedido de esclarecimento, embora seja essa a única figura regimental que posso usar neste momento. Porque citou uma antepassada minha referindo-me expressamente, devo dizer que muito me honro de ser seu descendente — é evidente! —, sobretudo porque foi uma mulher que soube assumir a defesa daquilo que lhe parecia importante, ou seja, dos princípios do homem que lhe pareciam importantes. É dessa tradição que eu e iodos os seus descendentes nos honramos. É por isso que para nós a democracia e a defesa do ser humano c o princípio dos princípios.

Aplausos do PSD e do PRD.

O Sr. Presidente: — Sr.ª Deputada Natália Correia, há ainda outros pedidos de esclarecimento. Deseja responder já ou no Hm?

A Sr.ª Natália Correia (PRD):—No fim, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente:—Tem a palavra a Sr.ª Deputada Manuela Aguiar.

A Sr.ª Manuela Aguiar (PSD): — Sr.ª Deputada Natália Correia, quero apenas dizer, muito brevemente, o quanto me deleitou ouvi-la, muito embora discorde dessa divisão de trabalho que propõe.

Risos do PSD.

O Sr. Presidente:— Tem a palavra o Sr. Deputado Amândio Gomes.

O Sr. Amândio Gomes (PSD): — Sr.ª Deputada Natália Correia, ouvi embebecido o discurso com que hoje brindou esta Assembleia. De uma forma brilhantíssima e inexcedível trouxe aqui uma plêiade de heroínas do nosso país, mas permito-me fazer-lhe uma pergunta. Gostaria de saber sé foi por esquecimento propositado ou apenas por um simples esquecimento que não nos falou naquela mulher anónima...

O Sr. Herculano Pombo (Os Verdes): — A padeira de Aljubarrota!

O Orador: —... que, repudiando certos valores que algumas Sr.ªs Deputadas aqui defendem e que se prendem com a prática do aborto, continua ainda a ter esperança no futuro e, indiferente a tudo, indiferente à crise de valores, a dar uma plêiade de filhos para continuar Portugal.

O Sr. Herculano Pombo (Os Verdes): — Andou o Valente de Oliveira a fazer o tecto demográfico para agora ele ir pelos ares!

O Sr. Presidente: — Para responder, se assim o desejar, tem a palavra a Sr.ª Deputada Natália Correia.

A Sr.ª Natália Correia (PRD): — Querido amigo Pedro Campilho, agradeço-lhe as palavras que teve.
Minha querida amiga, falemos assim, Manuela de Aguiar, há coisas em que efectivamente não nos entendemos. Realmente, a minha querida amiga segue uma linha feminista que eu não sigo...

Risos.

... e que às vezes colide com determinadas atitudes que eu estranho em si, mas enfim...

Risos.

De qualquer maneira, devo dizer que não falo em divisão de trabalho e que fundamentei histórica e culturalmente o que disse.
No entanto, quero lembrar-lhe que foi sempre nos salões das mulheres que se desenvolveu a cultura europeia.
Não sei, mas talvez se interesse pela economia. Não repudiu a política. O que repudiu é a política tal como ela se exerce. Por isso, penso que tem de nascer uma nova cultura para que dela brote uma nova política. Enfio, sim, aí estamos de acordo.
Apesar de pensar que a mulher tem uma palavra muito importante a dizer no Poder, sou pelo androginato social, não estou interessada na inversão de valores. Não podemos derrubar os simpáticos homens, que são tão agradáveis...

Risos.

... para as mulheres realmente tomarem conta do Poder. Não!... Sou pela bissexualidade!... Bem, não propriamente no aspecto erótico...

Risos.

Mas também pode ser, que não me importo.

Risos.

Também pode ser, porque não sou puritana.

Risos.

E se unirmos o que há de feminino no homem... foi por isso que lancei uma exortação para que o homem assuma o que tem de feminino, porque isso é necessário. E quando falo de uma cultura nunca digo uma cultura feminina, mas digo a cultura do feminino, que é também a cultura do homem que, subjugado, enfim, por uma cultura nacionalista, teve de esmagar esses impulsos.