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22 DE NOVEMBRO DE 1990 475

por parte delas e é assunto diário das primeiras paginas dos jornais nesse grande país.
Mas o mais gravo ainda é uma contradição fundamental em toda essa imponderada lógica da actual direcção do PS. Como é que o PS quer a entrada imediata e sem salvaguarda no mecanismo cambial do sistema monetário europeu, mantendo o nível de inflação interna estagnado no dobro da média da CEE?

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Compreenderá ele o que está a propor? Compreenderá ele o tremendo e brutal impacte negativo na competitividade da nossa economia? Compreenderá ele que isso redundaria numa diminuição das nossas exportações, com crescimento do desemprego, redução real da actividade económica, em suma, geraria uma recessão com eventual posterior saída de Portugal do sistema monetário europeu, e a definitiva perda da oportunidade histórica de o nosso país se aproximar do progresso por que passarão os países que integrarem o grande mercado único europeu a partir de 1 de Janeiro de 1993?

Vozes do PSD: - Eles não entendem nada!

O Orador: - Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: E que dizer da critica do Sr. Deputado Feno Rodrigues, em artigo recentemente publicado, a propósito do acordo social, quando se refere ao crescimento médio de 13,5% na tabela de salários no 1.º trimestre de 1991 como impeditivo da desinflação que o Governo e os parceiros sociais pretendem? Então o PS é contra ou não admite o crescimento real, mas moderado, dos salários num contexto de estabilização? Ao que chegámos!
Razão tinha o Sr. Deputado António Barreto quando escreveu recentemente, em 11 de Novembro de 1990, numa das suas crónicas de fim-de-semana que a oposição não está muito à vontade neste debate.

Voz do PSD:- Não está, não!

O Orador: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: A oposição afinal limita-se a provar que não tem uma verdadeira alternativa ao Governo, e este poderá contar em 1991 com um Orçamento do Estado e umas Grandes Opções do Plano adequadas à preparação da união económica e monetária, sem eleitoralismos, mas com verdade, rigor e sem austeridade.
Para que Portugal deixe de ser classificado, economicamente falando, como um país europeu de periferia.
Para bem dos portugueses presentes e das gerações futuras.

Aplausos do PSD.

Entretanto, assumiu a presidência a Sr.ª Vice-Presidente Manuela Aguiar.

A Sr.ª Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações.

O Sr. Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações (Ferreira do Amaral):- Sr. Presidente, Srs. Deputados: O Orçamento agora em discussão indica
que não abrandará no próximo ano o esforço notável que vem sendo feito no sentido de dotar o País das infra-estruturas de que carece. Não haverá pausas em 1991. Vamos ainda fazer mais e vamos ainda fazer mais.
No âmbito da infra-estrutura rodoviária o Governo enfrentou um duplo desafio. Por um lado, era conhecido e sentido por todos o facto de Portugal não dispor de rodovias sequer perto do aceitável face às necessidades existentes e, por outro, antevia-se que o desenrolar do processo de integração europeia viria inevitavelmente criar novas urgências e revelar novas carências que não poderíamos iludir. Tínhamos então de andar muito depressa, porque não só o ritmo iria ser forçosamente mais vivo, mas sobretudo porque partíamos com lamentável atraso.
Já com uma perspectiva histórica, podemo-nos hoje interrogar sobre quais as verdadeiras razoes pelas quais não se construíram estradas durante tanto tempo em Portugal e quais as verdadeiras razões por que se chegou à situação que o Governo veio encontrar. Uma análise ligeira poderia concluir que isso sucedeu por força da incapacidade de responsáveis que, sucessivamente e durante décadas, apresentaram à opinião pública palavras em vez de estradas, justificações em vez de obras, intenções em vez de compromissos.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Quantas vias de comunicação se sonharam nesta mesma Assembleia, quantas auto-estradas se inauguraram em intenções, quantos planos rodoviários envelheceram em gabinete?

O Sr. Duarte Lima (PSD): - Muitos.

O Orador: - Desses tempos tenho, no meu Gabinete, gavetas cheias de quilómetros de estradas de papel.

Aplausos do PSD.

Entretanto, lá fora, onde todos vivemos, ninguém via senão o que há muito já lá estava e que não mudava nunca. As cidades continuavam isoladas, os percursos rodoviários continuavam a bloquear, o desenvolvimento continuava a ser adiado.
Tudo se resolvia sempre para as décadas futuras, com soluções brilhantes e ousadas que nunca se concretizavam, como se os problemas, que se viviam e que as pessoas sentiam de facto, fossem resolvidos simplesmente pela mágica declaração da vontade de resolver outros problemas que outros viriam a ter. Infelizmente, chegámo-nos a habituar a isso. Recordo-me a mim próprio que grande parte da minha vida foi vivida nesse absurdo. Não está muito distante a época em que se festejava com sinceridade, como grande acontecimento, acontecimento que servia, às vezes, para encher um ano inteiro, a abertura ao tráfego de 8 km ou 10 km de estrada.
Mas seria apenas incapacidade? Certamente que não, porque, Srs. Deputados, estradas todos os governos quiseram sempre fazer.
O clamor das populações isoladas, o bloqueio óbvio ao desenvolvimento, que a sua ausência ou insuficiência representam, a convicção de que muitos outros problemas de ordem social nascem ou se ampliam por falta de infra-estruturas rodoviárias, tudo isto constitui razão sufi-