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1022 I SÉRIE - NÚMERO 30

No entanto, consentirá também V. Ex.º que e um direito nosso fazer a interpretação política, e apenas essa, do momento que escolhe para tal. Digo isto porque o PSD entendeu que V. Ex.º devia ter vindo à Assembleia da República durante a discussão do Orçamento do Estado, porque é esse o momento político mais importante da legislatura, aquele em que se discute o principal documento que conduz a vida económica. Financeira e até política do País. Assim sendo, era naturalíssimo que o líder do principal partido da oposição, aquele que é candidato à liderança da governação, aqui estivesse para dizer ao País, para dizer institucionalmente à Camará, o que pensa da forma como, económica e financeiramente, o País deve ser conduzido.
No entanto, V. Ex.º, no uso de um pleníssimo direito que nós não regateamos nem contestamos, entendeu que não devia vir... ou, se só chegou agora tendo entendido que devia vir antes, então esteve parado no trânsito que V. Ex.ª tem, em Lisboa, numa situação caótica, como deve saber.

Risos do PSD.

Entendeu, pois, que devia estar hoje aqui, no pós-presidenciais, e daí que a conclusão que o PSD tem que tirar e tem toda a legitimidade para o fazer- seja a de que V. Ex.º preferiu o «foguetório», a colagem à vitória presidencial, a associação da vitória presidencial ao seu partido, para da/tirar os dividendos políticos normais.
Assim sendo, Sr. Deputado Jorge Sampaio, não nos fale em política clientelar e em transparência, porque é muito triste, quando V. Ex.º fala em transparência, aquilo que V. Ex.º fez e está a fazer todos os dias, nos jornais, naquele célebre anúncio de página inteira em que publicita a actividade da Câmara Municipal de Lisboa e em que existe essa aberração de os jornais do Porto trazerem o que o Sr. Presidente da Câmara de Lisboa está a fazer. Ou seja, o Sr. Presidente da Câmara de Lisboa faz, no Porto, para os cidadãos do Porto, publicidade ao que faz na sua terra! Isto é um pouco como se o presidente da Câmara de Sesimbra fosse para Vila Nova de Foz Côa publicitar, num jornal local, a actividade do seu executivo! Está ali o jornal, pode ler-se...

Aplausos do PSD.

Isto, Sr. Deputado Jorge Sampaio, e as boas festas dadas através dos jornais, a expensas da Câmara de Lisboa, são tudo menos transparência e sobre isso o melhor seria todos guardarmos de Conrado o prudente silêncio, pois ficariam melhor V. Ex.º e o seu partido.
No entanto, retorno à minha questão inicial. Não podemos fazer muitas perguntas ao deputado Jorge Sampaio pelo discurso que aqui trouxe, porque ele não teve novidades, foi antes a enunciação do óbvio, das generalidades habituais que aqui trouxe nos discursos anteriores. Tenho a certeza de que, no seu íntimo, a maior parte da sua bancada está convictamente desiludida. Está tão desiludida hoje como estava há uma semana, porque o seu discurso, que foi envolvido numa capa de sebastianismo - «vem aí o Dr. Jorge Sampaio, ele vai abrir a sessão parlamentar» -, foi um balão que se esvaziou quando ele saiu daquela tribuna, dado que, de facto, de novo nada disse

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Sr. José Lello (PS): - O único balão que se esvaziou foi o senhor!

O Orador: - Mas a razão por que nós queríamos que V. Ex.º aqui estivesse é a seguinte: V. Ex.º, com mérito próprio, foi eleito presidente da Câmara Municipal de Lisboa e seria natural que, ao fim de um ano, pudesse fazer o balanço da sua actividade. Não que o presidente da câmara tenha que prestar contas à Assembleia da República, não é isso, Sr. Deputado Jorge Sampaio, mas porque V. Ex.º é o líder da oposição e foi candidato à Câmara de Lisboa para mostrar ao País que sabia governar e que era tão bom governante como o Prof. Cavaco Silva. Ora, era bom que hoje viesse aqui dizer alguma coisa sobre a sua experiência na Câmara de Lisboa, mas V. Ex.º não o disse, não disse uma única palavra, porque o que se passa, hoje, é que a experiência do Dr. Jorge Sampaio, ao longo deste ano, na Câmara de Lisboa, é a mais completa frustração - isto é preciso ser dito com clareza.
Sr. Deputado Jorge Sampaio, é preciso ter credibilidade para se assumir, como V. Ex.º o fez, como alternativa à liderança do Governo. V. Ex.º ganhou essa credibilidade quando conseguiu a vitória autárquica para a Câmara de Lisboa mas perdeu-a ao longo deste ano, com a sua gestão. É por isso que eu termino como comecei. V. Ex.º fez bem em vir aqui porque o caos instalou-se na cidade que governa há cerca de um ano. V. Ex.º encalhou nesta cidade como o Tollan há uns anos atrás.
O Sr. Deputado disse «agora nós», mas se estiver alguns meses connosco, os cidadãos de Lisboa vão dizer «enfim sós, agora finalmente nós».

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado Jorge Sampaio, havendo mais oradores inscritos para pedidos de esclarecimento, V. Ex.º deseja responder já ou no fim?

O Sr. Jorge Sampaio (PS): - No fim, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: - Então, tem a palavra o Sr. Deputado José Pacheco Pereira.

O Sr. José Pacheco Pereira (PSD): - Sr. Deputado Jorge Sampaio, há no seu discurso dois aspectos que eu penso ser interessante discutir.
O primeiro diz respeito àquilo que são posições políticas sobre o momento político e o segundo refere-se ao Estado e à concepção de socialismo que defendeu.
No que diz respeito às posições políticas, anotámos, com muito interesse, a sua reafirmação sobre a extinção do MASP porque uma coisa é o Sr. Presidente da República afirmar, como já fez em 1986, que não há maioria presidencial e que, portanto, a instituição que organizou a sua campanha termina no acto da sua eleição e outra é a necessidade que o Sr. Deputado Jorge Sampaio teve de vir aqui dizer e repelir que o MASP se extinguiu. Esta reafirmação é importante porque significa a consciência de que as expectativas que o Partido Socialista teve durante a campanha não se realizaram e que sente a necessidade de se demarcar do conteúdo e da forma de uma campanha na qual o Partido Socialista não teve o empurrão de que necessitava para as eleições legislativas. Anoto a festa pela extinção do MASP.
O segundo aspecto tem a ver com a preocupação com a votação do Partido Comunista, que teve, como todos nós