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484 I SÉRIE - NÚMERO 15

Risos do PS.

Reconhecem agora que com primeiros sintomas da crise, que ocultaram até meados do ano corrente, são tão antigos como o segundo semestre 1990. Apesar disso e em vez de nos apresentarem desculpas por tudo o que nos chamaram e pelo optimismo ultrajante com que tentaram desvalorizar as nossas premonições, não têm um gesto de auto-crítica, antes nos jogam à cara as suas certezas de sempre. Reincidem numa visão neo-idílica do próximo futuro, e rotulam de mero acaso o acerto relativo das nossas previsões.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - E o défice ? O tal que dobrou como as chouriças e era espelho de
rigor?

Risos do PS.

Ao que pretendem agora o aumento do défice foi sempre considerado virtuoso. E
os impropérios? Também, na oportunidade, o terão sido.
O próprio Primeiro-Ministro assumiu aqui, como foi realçado, essa sem-cerimónia: em 2 de Junho, afirmou que «seria irresponsável o agravamento do défice». Quatro meses depois enfiou a carapuça dessa irresponsabilidade ao pretender ter sempre defendido que, em situações recessivas, o défice público devia aumentar.

Vozes do PS: - Muito bem lembrado!

O Orador: - Fê-lo, uma vez mais, a propósito da sua participação na campanha do seu partido para as eleições autárquicas. Virou do avesso o conhecido poema de Torga: «onde disse não, digo sim»!
Aparte o facto de os portugueses não gostarem de ver o seu Primeiro-Ministro dar o dito por não dito, foi bom que desse.
Já lá vai o tempo em que a sua participação dava votos; ficou claro que as eleições autárquicas são importantes; foi-se às malvas a pretensa imunidade do Primeiro-Ministro relativamente ao desgaste emergente do resultado delas.
A sua participação proporcionar-nos-ia, aliás, um saborosíssimo fait divers, ao
despertar num jovem candidato um tão alto grau de militância de apetite que ali mesmo ameaçou comer-nos.

Risos gerais.

Não resisto a aconselhá-lo a consumir outro tipo de exploradores brancos.

Risos do PS.

Que nós, embebidos, como estamos, em acidez crítica, corríamos o risco de lhe
provocar azia!...

Risos gerais.

Findo o seu discurso de apresentação - com ressaibos de cerimónia fúnebre -, o
Sr. Ministro das Finanças era um homem só. Acabava de procriar um enjeitado!...

Risos do PS.

Enjeitou-o a própria maioria parlamentar, na frieza e na escassez dos seus aplausos. Atacado pelas oposições, a maioria não gastou metade do tempo de que dispunha para defendê-lo. Só o Deputado Rui Carp, habitual bom escuteiro de serviço,...

Risos gerais.

... aceitou praticar a boa acção de vir aqui carpir uma jaculatória do foro fanático...

Aplausos do PS.

Risos gerais.

Cientes de que as políticas económicas de antes da crise continuam certas... Certa a política fundamentalista do escudo caro- que ela tenha sido responsável por graves perdas de competitividade externa, por desequilíbrios estruturais e falências, só significa que as certezas deste Governo em matéria de política cambial nos ficaram igualmente caras -, certa a política das altas taxas de juro e dos espaçados diferenciais entre as operações activas e passivas. Dificultaram o acesso ao crédito, logo o investimento, e condenaram as empresas a espirais de endividamento de que tarde ou nunca se libertam? Altos são os desígnios da macroeconomia! Que sabem disso os micro-mortais?

Risos do PS.

Perante isto, valerá a pena lembrar que o sector financeiro, principal beneficiário dessa política, está agora a enfrentar a chegada até ele do crédito mal parado - que já deixou pelo caminho os cadáveres das empresas que vitimou -, tão embaraçado que já recorre a operações de emissão de papel comercial fictamente escrituradas como crédito, para ocultar reais situações de incumprimento?
Certa terá estado também a política de deixar morrer as empresas não competitivas para criar espaço a outras que pudessem sê-lo. É verdade que, na sequência das recomendações da Conferência de Edimburgo, o Governo anunciou que ia empenhar-se numa política de protecção às empresas que temos, sobretudo às pequenas e médias, mas como protestou que havia sido sempre essa a sua política, uma vez mais não reconheceu o erro de ter perfilhado outra As empresas que entretanto hajam fenecido resta a consolação de, em dia de finados, receberem flores...!
Certíssima terá estado ainda a política de ocultar os reflexos da crise no sector do trabalho. Até recentemente, o desemprego, como preocupação, era monomania das oposições. De súbito, o Governo salta da auto-confiança para o alarme! A criação de emprego passa a primeira prioridade; os ardis na sua medição deixaram de cobrir a cifra alarmante de mais 31 000 desempregados num só mês.
Certíssima, enfim, a política de contenção da massa salarial. Em anos de eleições nem sempre foi assim? Mesmo nesses anos o Governo se conteve! As oposições é que nunca podem ter razão! Seria de facto cruel despojar o Governo da resposta única que tem para ultrapassar a crise! Como não tem outra, arranjará sempre maneira de digerir o pequeno contratempo de os países mais desenvolvidos serem os que praticam salários mais altos.
Para que insistir nos exemplos? O melhor é tudo globalizar no erro de concepção que subjaz a todas as políticas e a todos os erros. E esse é de facto o mesmo. O Governo continua fiel à sua concepção de que o mercado e as suas leis, o mercado e as suas harmonias, o dispensam da preocupação de prevenir desastres a tempo e evitar constrangimentos. Não é uma convicção, é uma crença. Por mim, continuo a desconhecer competições sem regras e sem árbitro. O próprio catsh-as-catsh-can os tem...!