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488 I SÉRIE - NÚMERO 15

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Que bom que é poder falar-se sem ter em conta a realidade! Que bom que é poder dizer-se tudo o que vem à cabeça, como se estivesse a fazer uma redacção numa escola sobre «O meu país» e se estivesse zangado com o país porque este não reconhece os méritos que se pensa ter!...

O Sr. Manuel dos Santos (PS): - Então, e o Orçamento?! Quando é que defende o
Ministro das Finanças?!

O Orador: - Mau país este que vota no partido errado!
E, acima de tudo, que bom que é não ter que comparar o que se fez com o que os
o outros fazem! Que bom que é não ter responsabilidade alguma! É por isso que não são precisos números - isso é com os tecnocratas: «Eu faço política, logo redijo a minha redacção», dirá o Secretário-Geral do PS.

Aplausos do PSD.

Sem números, a realidade, como por milagre, desvanece-se, e subsiste um discurso meramente impressionista - aliás, hoje ouvimos outro discurso do mesmo tipo -, incluindo abundantes afirmações genéricas que são, pela sua própria natureza; indemonstráveis.

O Sr. Ferro Rodrigues PS): - Então, e o Orçamento?!

O Orador: - Um professor de lógica diria que tais frases não são argumentos
nas, sim, profissões de fé. Em complemento, utiliza-se técnica dos «exemplos». O PS estudou, para cada caso, um ou dois exemplos e usa-os expressamente para substituir uma análise séria que, obviamente, mostraria o carácter pontual desses exemplos ou a complexidade de uma realidade que não se contem neles.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Mas fazer outra coisa seria contrário às regras da retórica e se há
hoje coisa que caracteriza o discurso do PS é a retórica.

Aplausos do PSD.

O Sr. Jorge Lacão (PS): - Olha quem fala!!

Risos do PS.

O Orador: - Eu admiro a alegria de quem se vê no espelho!

Aplausos do PSD.

Mais: que se vê no espelho e gosta da sua própria imagem!
Também para isso não precisa de números, porque, se tivesse números, as questões eram um pouco mais complicadas.

Protestos do PS.

Exactamente por tudo isto é que, onde menos tem razão, como se passa com o desemprego, o PS faz mais demagogia! Ora o desemprego e a sua importância seria, por si só, a questão crucial para determinar a amplitude da crise, suas características e responsabilidades. O PS não pode, pois; aqui admitir que números: números comparáveis, permitam tirar conclusões.

O Sr. Ferro Rodrigues (PS): - São 30 000 num mês!!

O Orador: - Se o fizesse, não seria preciso ir muito longe para se compreender que a difícil realidade da crise económica - sem dúvida cruel para os que sofrem as suas consequências - não tem em Portugal a dimensão de outros países europeus.

Protestos do PS.

Mas isso não convém. Não foi o Secretário-Geral do PS que disse que, no fim de 1993, haveria 10 % de desempregados? E este número de onde é que vem? Da imaginação ou do desejo?

Aplausos do PSD.

O grande trunfo do Partido Socialista neste debate é dizer que acertou nas previsões de 1993 e que o Governo não tem credibilidade.

Vozes do PS: - É verdade!

O Orador: - É verdade, é verdade!... É verdade que as previsões do Governo para 1993 não se confirmaram.

Vozes do PS: - Falharam!

O Orador: - O Governo não terá, com certeza, nenhum consolo...

O Sr. Gameiro dos Santos (PS): - E os portugueses muito menos!

O Orador: - ... pelo facto de ter tido razões para o fazer, e nisso estar bem acompanhado a nível europeu, e terá, com certeza, a humildade de o admitir. Mas o problema é que o PS também não acertou,...

O Sr. Ferro Rodrigues (PS): - Não é, verdade!

O Orador: - ... porque o que fez em 1993 foi repetir exactamente as mesmas previsões que faz desde 1987.

Aplausos do PSD. 1 O Sr. Ferro Rodrigues (PS): - Não é verdade!

O Orador: - Ora, isto significa que não estamos perante verdadeiras previsões mas, sim, diante de proclamações políticas. E como quem diz que as coisas vão correr pior há-de algum dia acertar, este ano, infelizmente para todos nós, estiveram mais próximos daquilo que aconteceu.

Risos do PS.

De qualquer modo, leiam o que o PS afirmou nos debates do Orçamento do Estado dos últimos seis anos:...

O Sr. Manuel dos Santos (PS): - Isso seria bom!

O Orador: - ... errou em 1987, em 1988, em 1989, em 1990, em 1991, em 1992, ou seja, nos últimos seis anos. Errou sobre a inflação, sobre o défice, sobre a execução do Orçamento do Estado e, acima de tudo, errou sobre as previsões globais, sobre a evolução da economia, da sociedade e da política.