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19 DE NOVEMBRO DE 1993

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0 Orador. - Na verdade, os discursos da oposição - PS, PCP e CDS-PP - não são inteiramente sobreponíveis, apresentando diferenças significativas, embora tenham como traço comum a acentuação das características negativas da realidade nacional. Costuma dizer-se que esta é que é a função da oposição, mas, se o é, só a leva a inconsistências e à demagogia e dificilmente uma política séria e consistente surge apenas da preocupação de dizer mal.

Vozes do PSD: - Muito bem!

0 Orador: - Comecemos pelo CDS-PP: o CDS-PP não apresentou o essencial das suas propostas no Parlamento e decidiu fazê-lo numa conferência de imprensa alheia aos trabalhos parlamentares. É um procedimento reprovável que significa, ao mesmo tempo, uma desvalorização da Assembleia da República e do confronto político democrático e um atestado de incapacidade política ao seu grupo parlamentar que não o merece.

Aplausos do PSD.

0 Sr. Narana Coissoró (CDS-PP): - Não apoiado! Foi apresentado aqui!

0 Orador: - É um procedimento inaceitável, como se o CDS-PP se considerasse um partido extra-parlamentar e, colocando-se o CDS-PP à margem do Parlamento, colocou-se também à margem deste debate.

Vozes do PSD: - Muito bem!

0 Orador: - Por outro lado, o discurso do PCP sobre o Orçamento do Estado não merece ser tomado à letra tal qual ele é expresso. 0 PCP utiliza o descontentamento, as dificuldades sociais e as disfunções da economia de mercado como pretexto tribunício; a sua crítica não é interior ao sistema económico, social e político da nossa democracia, mas exterior. 0 que é significativo na política do PCP nunca é dito.

0 Sr. João Amaral (PCP): - É uma forma simples de evitar a discussão!

0 Orador: - Na verdade, é um discurso que critica em nome de uma alternativa política que não pode, ele próprio, enunciar: o de um modelo de regime colectivista, de uma economia planificada assente sobre a socialização da propriedade, de um governo centralista, para não lhe chamar outra coisa, dado que, talvez, as punições da História tenham ensinado algo aos comunistas.

Vozes do PSD: - Muito bem!

0 Orador: - Não faço, aliás, qualquer processo de intenção, mas, se eles dizem que permanecem marxistas-leninistas, ou isso tem algum significado e deve ser tido em conta ou não significa nada e, nesse caso, o PCP tem um sério problema de identidade política e o que faz não se percebe. Mas eu penso que se percebe; percebe-se até muito bem!...

Aplausos do PSD.

0 Sr. Lino de Carvalho (PCP): - Está a esconjurar os fantasmas!

0 Orador: - 0 PS, por seu lado, não resiste como o PCP à tentação tribunícia, mas onde no PCP há uma política coerente, embora disfarçada e escondida, no PS não há política alguma!...

Vozes do PSD: - Muito bem!

Vozes do PS: - Não apoiado!

0 Orador: - 0 melhor exemplo da vacuidade da política do PS encontra-se na intervenção do seu Secretário-Geral: belas palavras, sábias indignações, poucas ideias e nenhuma política!

Aplausos do PSD.

Protestos do PS.

Há na intervenção do Secretário-Geral do PS a mais grave confirmação e admissão sobre o tipo de discurso que o PS faz sobre a realidade portuguesa; como sempre acontece com os lapsos, está perdida no discurso e pode passar desapercebida; embora a sua importância venha de que, sem ela, não seria possível haver discurso. Refiro-me à afirmação que é feita à cabeça, logo no início do texto da intervenção, como para desculpar o resto do seu conteúdo, de que "Portugal não tem hoje um suporte estatístico válido", ou seja, de que não vale a pena referir estatísticas ou números para se falar sobre Portugal.

0 Sr. Ferro Rodrigues (PS): - As que há são más!

0 Orador: - 0 interesse dessa afirmação é que ela é feita no preciso momento em que as estatísticas portuguesas recebiam um importante aval internacional pela boca do principal responsável das estatísticas comunitárias.

0 Sr. Rui Carp (PSD): - Muito bem!

0 Orador: - E nem sequer ela deve ser tida à letra como uma crítica às estatísticas em si, visto que o seu próprio autor, no afã de estar de bem com todos, disse, logo a seguir, na discussão, que "não senhor, não fazia nenhuma acusação ao Instituto Nacional de Estatística" - o produtor dessas mesmas estatísticas de que minutos antes negava a validade.

Aplausos do PSD.

0 Sr. António Guterres (PS): - 0 problema não é do INE!

0 Orador: - Por que é que o PS tem tanta necessidade de dizer isto? Porque razão o PS, que é um partido laico e republicano, foge das estatísticas como o Diabo foge da Cruz?...

Vozes do PSD: - Muito bem!

0 Orador: - Pela precisa razão de que precisa de fazer um discurso que não é limitado pelas estatísticas, porque, mal ou bem, elas não validariam quase nada do que ele diz.

Protestos do PS.

Dariam ao PS uma moderação que não quer ter, teriam e transportariam para o debate uma complexidade que ele não deseja em nome do simplismo das suas afirmações e, acima de tudo, tirar-lhe-iam. muitas das razões para falar. Por isso, que bom que é falar sem números!...