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5 DE MAIO OE 1994 2203

Uma lógica de verdadeira independência não excluiria à cabeça o PSD nem o Governo, mas aceitaria o que há de positivo na sua acção e criticaria o que não há. Acima de tudo, seria indiferente aos efeitos políticos do Congresso.
Uma lógica de verdadeira independência não situaria o Congresso tão obsessivamente dentro do terreno das polémicas partidárias, as únicas, aliás, cujos temas se encontram expostos no manifesto inicial, e não faria julgamentos de valor sobre a eventual eficácia da oposição.
Uma lógica de verdadeira independência não conduziria aos pouco subtis ataques à imprensa, de que é exemplo o artigo do seu presidente no Expresso, em que admoesta os jornalistas por estes não fornecerem aos leitores «informações objectivas» sobre o Congresso e previne-os que se esquecem da objectividade quando tratam de matérias de facto e «logo se percebe que o fazem por filiação partidária». Hoje, poucos dirigentes políticos teriam coragem de dizer isto desta forma, mas se o fizessem não cairia o Carmo e a Trindade?
Uma lógica de verdadeira independência não teria tanto a preocupação em «gerir a imagem», escondendo os políticos e mostrando os «universitários», seguindo à letra a táctica de fazer uma fachada, mostrando os «companheiros de estrada» para esconder os verdadeiros decisores. A ridícula publicação das listas de profissões dos inscritos no Congresso é tirada a papel químico de idênticas listas com que alguns partidos de esquerda queriam disfarçar a sua «má» composição social.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - É puro nevoeiro! E desde quando é que pessoas que sempre se assumiram como tendo uma intervenção política - no MASP, no PRD, nos movimentos liderados pela Engenheira Maria de Lurdes Pintassilgo e que são membros activos do PS, do PCP, do PSR, da Política XXI- passaram agora a ser apresentados com a categoria de «professores universitários»,...

Aplausos do PSD.

... como para esconder o seu envolvimento político com um manto corporativo mais conveniente do que o disfarce?
A luta pelo poder político não se esgota apenas nas acções que explicitamente tem a marca de origem partidária ou que são feitas com um partido como sujeito.
Se assim fosse, haveria um partido, o PCP, que durante muitos anos quase que não tinha «vida partidária» exterior, dado que durante anos e anos e em quase todas as suas iniciativas se disfarçava sempre de qualquer outra coisa, criando abundantemente movimentos adjectivados de «democráticos» e «unitários» e partidos fantasmáticos para disfarçar as suas iniciativas.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Aliás, pelas piores razões de mimetismo político, é ao PCP e às suas tácticas de ocultação que este Congresso foi buscar múltiplas sugestões.

Vozes do PSD:- Muito bem!

O Orador: - Compreende-se que o PCP se sinta lá bem, dado que eles reconhecem o estilo...

O Sr. Silva Marques (PSD): - Mas agora foram corridos da primeira fila!...

O Orador: - Isso é uma forma de provarem a sua própria medicina!...
Não basta, por isso, estar sempre a falar de «independência» para se ser efectivamente independente. Se tal fosse o caso, por que é que se iria buscar inspiração a um político activo, como é o Presidente da República, demasiado comprometido politicamente para um gosto genuinamente independente? E não se compreenderia porque, se há «situacionismo» em Portugal, ele manifesta-se às mil maravilhas em muitos dos aspectos da própria ideologia presidencial, à sombra da qual se colocam os organizadores do Congresso.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Resumindo e concluindo, uma lógica de verdadeira independência nunca produziria este Congresso, com as suas formas caducas de intervenção política, com os seus disfarces pouco subtis, com a sua linguagem politicamente redutora sobre a realidade nacional. Dificilmente os partidos políticos fariam pior!...

O Sr. Silva Marques (PSD): - Muito bem!

O Orador: - O Presidente do Congresso «Portugal: que futuro?» considera a vida política portuguesa «partidária e repugnante», afirmando que as pessoas dela «se alheiam» porque é um «jogo que lhes está vedado.»
Este discurso não é novo nos 20 anos da nossa democracia. Foi feito por aqueles que, em nome que de um outro Presidente da República, fundaram um «partido ético» destinado a terminar com os «partidos repugnantes», por singular acaso aqueles em que a esmagadora maioria dos portugueses se reconheciam.

Vozes do PSD:- Muito bem!

O Orador: - Foi feito por muita gente que, nostálgica da revolução que não fez em 1974 e 1975, se recusou nos 10 anos seguintes a aceitar as regras da democracia representativa e que quis, sob vários nomes, «aprofundá-la» ou limitando-a com mecanismos de democracia directa através de variantes exóticas de «movimentos populares de base», ou com partidos de tipo novo ao modelo do socialismo castrense árabe. Foi o caso do chamado «eanismo», que conheceu o seu requiem em 1987, e do chamado «pintassilguismo», que morreu na primeira volta das eleições presidenciais de 1985.
Compreende-se, por isso, que alguns dos seus próceres estejam- e bem!- activos neste Congresso. Eles juntam-se hoje a outra das variantes desse mesmo discurso anti-partidos e anti-Parlamento, que é feita pela direita do Dr. Manuel Monteiro.

O Sr. Silva Marques (PSD): - O Deputado António Lobo Xavier vai reagir!

O Orador:- Algumas dessas ideias conheceram no passado o combate de um político chamado Mário Soares e de alguns membros da bancada do Partido Socialista. Parecem, hoje, terem esquecido esses combates. É pena!...

Sr. Presidente, Sr.ªs Deputadas, Srs. Deputados: - O Congresso «Portugal: que futuro?» apresentou-se como