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2202 I SÉRIE - NÚMERO 67

signado tinha acabado, dias antes da publicação deste manifesto, de dar a maioria dos seus votos ao principal partido da oposição. Estranho situacionismo este!

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Não temos ilusões sobre o sentido político da realização de tal Congresso e sobre a estratégia em que se insere. É por isso que dificilmente é aceitável a ideia da espontaneidade e genuinidade do «sobressalto».
Será que pensam os seus organizadores que nos convencem de que este Congresso se realiza neste tempo e deste modo por puro acaso de algumas conversas de circunstância de alguns «independentes» da sociedade civil?
Serão eles capazes de nos olhar de frente e nos dizerem que a iniciativa deste Congresso nada tem a ver com a actuação política do Presidente da República, nada tem a ver com os timings de acção política daqueles que pensavam ver o PSD em profunda crise após as eleições autárquicas, nada tem a ver com a convicção exposta, por muitos dos seus inspiradores, de que 1994 era o ano da última oportunidade para os adversários do Governo? Ou será que querem que a gente não pense?
E não adianta tentar iludir-nos, negando intenções ao Congresso que nunca ninguém de bom senso lhe atribuiu, para, nessa negação, esconder objectivos bem mais concretos e precisos. De facto, não pensamos que o Congresso se destine a fundar um novo partido- destina-se a educar e a corrigir o que há, o Partido Socialista-,...

Aplausos do PSD.

... nem que se destine a «formar» uma coligação - destina-se a sugerir fortemente a sua necessidade ao Partido Socialista -, nem ainda que pretenda lançar qualquer candidato à Presidência- destina-se a manter uma plataforma que o permita e a publicitar alguns nomes «independentes» para o efeito. Fará tudo isso com a ambiguidade suficiente para parecer que não diz o que realmente diz e não faz o que realmente faz.
Se o Congresso se bastasse na crítica a um partido ou ao Governo, ainda se compreenderia. Mas cada vez mais o Congresso assume a linguagem, os tiques e os truques do discurso anti-partidos, que é também em Portugal um discurso anti-parlamentar e hostil aos mecanismos das democracias representativas.
Os organizadores do Congresso acham que eles próprios se distinguem dos partidos por não se «regerem pela lógica da luta pelo poder», entendido este como se fosse uma coisa vil, feita de enganos e artimanhas, a que eles, evidentemente, são alheios e superiores.
O discurso anti-poder pode ser muito simpático para os anarquistas, mas não fica bem em quem se encontra bem instalado dentro desse mesmo poder, detendo cargos e funções no establishment do poder político, cultural, académico, judicial e económico.

Aplausos do PSD.

Para quem é juiz, reitor, magistrado, conselheiro de Estado, antigo ministro, administrador de fundações, vereador, Deputado, mandatário de políticos e de listas eleitorais, todos eles, até porque conhecem bem o poder de dentro, não podem patrocinar este discurso anti-poder sem hipocrisia.

Aplausos do PSD.

Acresce que este discurso não pode ser feito numa democracia sem a distinção essencial de que em democracia o poder político é legitimado e é uma forma de exercício da vontade popular. É para isso que os cidadãos votam- para exercerem por via da representação política o seu poder- e ainda não se descobriu outra forma de garantir a expressão consistente das opiniões políticas que não seja pela mediação partidária.
Não tenham ilusões os congressistas, nem nos iludam a nós. A questão é que, mesmo sem servidão partidária, a lógica deste Congresso e dos seus participantes é estritamente a lógica da intervenção partidária no seu pior sentido, feita de silêncios, ocultações, meias-palavras e disfarces que são características do pior da intervenção política, partidária ou não.

Aplausos do PSD.

A desvalorização do sentido das palavras - um dos efeitos mais perniciosos e reducionistas do mau discurso político- tem aqui abundante expressão. É o calar dos defeitos próprios pela enunciação dos defeitos alheios, é a hipocrisia de se esconder o que se pensa quando não é «politicamente correcto».
Que diferença há entre ter um partido por detrás ou não neste Congresso? Seria ele muito diferente se fosse, por exemplo, uma daquelas convenções da Esquerda Democrática que o PS fez em tempos? Se o presidente do Congresso caísse de Sirius e observasse os esforços do Comandante Gomes Mota nos últimos meses, não diria que obedeceriam a uma lógica de tomada do poder e não os classificaria de formas «repugnantes» da vida partidária?
Ao excluírem à partida da reflexão sobre o futuro os portugueses que maioritariamente apoiaram o PSD, reduziram o Congresso a uma actividade da oposição, o que em si não tem mal nenhum. O que tem maí é disfarçá-lo!

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Se o Congresso é aquilo que é suposto ser - o resultado espontâneo das pessoas que nele se inscrevem- e não é programático nem antecipa as suas conclusões, por que razão os seus organizadores tanto se preocupam em gerir as suas ausências (excluindo o PSD) ou em ocultar o seu excesso de presenças (escondendo o PCP)?

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Ao escolherem politicamente as presenças e as ausências, ao quererem esconder os «dirigentes partidários» e a presença incómoda do PCP, o que é que fazem senão «gerir uma imagem», como agora se diz? Não é isso o pior da lógica partidária, querer parecer ser o que não se é?

Aplausos do PSD.

Uma lógica de verdadeira independência não se preocuparia obsessivamente em se demarcar da vida política partidária. Aceitaria dela o que tem mérito, recusaria o que é perversão e não se preocuparia muito com os partidos mas, em primeiro lugar, com a sociedade e a opinião pública.