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2290 I SÉRIE-NÚMERO 70

terem engolido um elefante, apontam agora para o «bucho» socialista: como está empanturrado!...

Risos do PS.

É, no entanto, verdade que o discurso do Presidente, criticando predominantemente o poder e quem o detém, disse do sistema partidário, logo de todos os partidos, o que entendia que também neles, e no seu funcionamento, lhe merecia reparo.
Foi excelente que o tivesse feito. Por um lado, porque assim se pôs a coberto de acusações de espírito de facção. E, por outro, porque é verdade que a democracia representativa de base partidária se encontra em crise um pouco por toda a parte, e nada mais útil do que evidenciar esse facto para provocar reacções saudáveis, por fora ou por dentro dos próprios partidos.
Pelo que nos diz respeito, nunca enjeitámos erros e responsabilidades - quando as temos ou quando as tivemos - nem passamos a vida a negar que a terra se move, forma de significar que não ocultamos a verdade com artifícios de propaganda. Por isso não tememos críticas, antes as desejamos, nem nos formalizamos com bem-intencionados conselhos correctivos de eventuais acomodações ou mesmo desvios.
O debate de ideias - num Congresso ou fora dele - é para nós sempre salutar. Por isso este Congresso, em que cidadãos politicamente independentes, ou membros de partidos a título individual, se juntaram para debatê-las, não podia ser por nós considerado mau.
O grande mérito deste discurso do Presidente está no facto de constituir uma síntese de todos os outros. De novo, apenas o cenário, a globalização temática e a ênfase formal.
Foi um discurso a um tempo simples e empolgado, sem prejuízo de ter podido ser também comedido e correcto. Há nele veemência, não aspereza. Em caso algum ofensa.
Situado numa perspectiva de respeito pela verdade, implicitamente vinculou o próprio Congresso a situar-se nos estritos limites dela. Desde logo, sendo o que pareceu e disse ser. Isto por mais que alguns desgarrados congressistas - dado o pluralismo da composição do Congresso - possam querer alimentar a ilusão de que é possível prosseguir objectivos desviantes a coberto da sombra tutelar do patrocínio do Presidente.

O Sr. Silva Marques (PSD): - Está a referir-se ao organizador!

O Orador: - Dito o que, foi e será sempre bem-vinda a multiplicidade das visões, ainda que traduzidas na veemência das críticas. Como serão sempre benéficas as chamadas de atenção para a natureza constitucionalmente participativa da nossa democracia e efectivamente hegemónica da nossa prática política. Há que criar novos espaços à intervenção da sociedade civil e à participação dos cidadãos enquanto tais. Há, num extremo que não rejeito, que reinventar a democracia representativa, complementando-a com novas formas de democracia directa.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - A afirmação de que a democracia se não esgota nos partidos é hoje um lugar-comum para o qual o pensamento político contemporâneo se esforça por encontrar saídas, à revelia de Aristóteles, Rousseau, Maquiavel e Montesquieu, em cuja obra, até há pouco, esteve o tout-politique. Deixou de estar. Mas aquela afirmação tem também o sentido de que, se a democracia se não esgota nos partidos, não é possível sem eles.

Vozes do PS:- Muito bem!

O Orador: - Por isso estamos atentos à retoma de combates contra os partidos e as ideologias e ao regresso do «evangelho do ódio nacionalista», portador dos germes do autoritarismo e da violência. E tão determinados a defender aqueles vetustos baluartes de liberdade como a corrigir as suas eventuais perversões.
Pelo que nos diz respeito, damo-nos por notificados das mensagens do Congresso. Em breve serão anunciadas por nós propostas corajosas e inovadoras de alteração do sistema político-constitucional, em que traduziremos a nossa inconformidade, agora mais reforçada do que desperta, com o desajustamento do presente político às perspectivas e ansiedades do futuro.

Vozes do PS:- Muito bem!

O Orador:- Vamos a ver se depois delas se persiste na estafada «cantata» de que nada nos distingue do PSD. Vamos a ver se o partido do Governo bate palmas!
Mas que dessas propostas não nasça a ilusão de que é fácil, ou sequer possível, condicionar a partir do exterior a gestão de um partido que possui órgãos de decisão democraticamente legitimados.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador:- São esses órgãos, e mais ninguém, quem elege dirigentes, escolhe candidatos e define políticas.

Aplausos do PS.

O Sr. Silva Marques (PSD): - Essa é contra o Comandante!

O Orador: - O próprio Presidente adverte os «cidadãos conscientes (de que) não devem ceder à tentação de se afastarem demasiado dos partidos - mesmo que não preencham toda a sua ânsia de renovação -, devendo trabalhar neles, procurando melhorá-los por dentro e transformá-los...» Dito isto, serão bem-vindos - repito - todos os avisos e conselhos. Gostamos de ser leccionados.
O Presidente da República chamou a si o propósito de sumariar as carências, as preocupações e até as angústias do povo português. O seu discurso veio a ser assim a autorizada antítese do discurso oficial do Governo e da maioria que o apoia. Este defensivo, desculpante, arco-íris. Esteve tudo bem até mesmo depois de começar a estar tudo mal. Ao menor novo sinal de cor na refracção da luz solar, volta a estar tudo bem. Culpas, nem uma só. São todas da oposição, da crise ou da Europa. É um discurso do «arco da velha»!...

O Sr. José Vera Jardim (PS): - Muito bem!

O Orador: - Aquele sincero e verdadeiro, sem hipérboles críticas, um discurso mais de aviso do que de