O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

12 DE MAIO DE 1994 2313

devemos ter medo é da hipocrisia. Não devemos ter medo da nossa vida porque ela é cheia de circunstâncias. Nós devemos ter medo, isso sim, da hipocrisia porque isso é que mata a nossa alma.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Srs. Deputados, um último comentário sobre a actual ofensiva, dita contra o situacionismo - há aí uma ofensiva contra o situacionismo - de certos socialistas. O retorno ao antifascismo militante, presumo, situa-se nessa ofensiva contra o situacionismo. Permitam-me um último comentário, para terminar as minhas reflexões.
Depois da proclamação antifascista do Sr. Deputado Manuel Alegre, aqui produzida, em jeito de trombeta anunciando as grandes manobras, e do seu delírio metafórico (ao ponto a que as coisas chegam!) no recente CUNAF - Congresso de Unidade Antifascista, serôdia reminiscência do MUNAF, de 1945 -, onde acusa o Governo de não ter o 25 de Abril no coração por não ter o cravo vermelho na lapela (imagine-se o delírio), e depois deste mesmo projecto de lei anti-PIDE, pelos vistos não do Sr. Deputado Manuel Alegre mas do Sr. Deputado Fernando Pereira Marques - a ofensiva antifascista tem o trabalho distribuído, cada um faz o seu papel... -, tivemos ainda há uns dias a inesperada e mirabolante iniciativa do Sr. Deputado Guilherme d'Oliveira Martins, tentando transformar o Parlamento em local de ressonância da agitação das ruas. Imagine-se um Deputado com um ar tão tranquilo, tão bem comportado, a apresentar-nos aqui, num outro dia, um voto de apoio à manifestação de rua e a querer romper as regras parlamentares, enfim no mais clássico estilo agitatório!... A tal ponto...

O Sr. José Magalhães (PS): - O Guilherme! Que grande agitador!

O Orador: - O Sr. Deputado Guilherme d'Oliveira Martins! Imagine-se. Com aquele ar tranquilo!
Enfim, no mais clássico estilo agitatório que, convenhamos, nem hoje os comunistas usam tão desabridamente.

O Sr. José Magalhães (PS): - Meu Deus!

O Orador: - Estas iniciativas socialistas, Srs. Deputados, revelam raiva, em vez de lucidez. Não pode ser outra coisa.
A demagogia substitui a análise - viu-se bem no CUNAF! -, mas não só. Ela vem juntamente com o mais exacerbado e inconsequente verbalismo...

O Sr. Presidente (Correia Afonso): - Queira terminar, Sr. Deputado.

O Orador: - ... que substitui, ele sim, a capacidade de propor soluções.
Reparem, Srs. Deputados: muitas pessoas se escandalizaram e se indignaram com umas palavras autojustificativas de um ex-PIDE que, querendo autojustificar-se, disse que não tinha torturado ninguém. Mas eu nunca vi nenhum torturador dizer que torturou! Bem, isso escandalizou. Mas ninguém se escandalizou com o facto de o Professor Matoso se ter referido ao «repugnante jogo partidário», uma frase contra os partidos, uma frase que contém em si mesma a negação da ditadura?! Ninguém se escandalizou?! O que é que se passa convosco, Srs. Deputados socialistas?!

O Sr. José Magalhães (PS): - É arrasador!

O Orador: - Quem dirige hoje os socialistas, Srs. Deputados socialistas? Hão-de responder-me a esta pergunta! Quem dirige hoje os socialistas? Qual é hoje a estratégia dos socialistas?

O Sr. António Braga (PS): - Tem dúvidas sobre isso?!

O Sr. José Magalhães (PS): - Discutiu-se isso há duas horas!

O Orador: - Quais são hoje as propostas verdadeiramente dos socialistas? Ninguém sabe, Srs. Deputados! Ninguém sabe, porque a confusão nas hostes nunca foi tão longe. Tantos, tão diversos e tão proeminentes são os actores e os autores.
Nunca se imaginou, Srs. Deputados, que os 20 anos do 25 de Abril viessem trazer tanta miséria de espírito e revelassem tanta gente ainda incapaz de pensar o novo presente saído do 25 de Abril e o novo futuro.
Infelizmente, paralisados e cegos por um sectarismo arcaico, verdadeiramente jurássico, para certos cidadãos só existe uma metade do mundo - a deles; só uma autêntica democracia- a deles; só uma genuína legitimidade popular: a deles; só uma verdadeira cultura: a deles; só uma garantia da seriedade e da virtude: a deles. Para eles, a outra metade do mundo não conta, porque não é deles.
Chegou-se a limites chocantes, Sr. Deputado...

O Sr. Presidente (Correia Afonso): - Sr. Deputado, queira terminar.

O Orador: - Vou terminar rapidamente, Sr. Presidente. Peço a tolerância de V. Ex.ª.
No pós-25 de Abril, na luta e no combate contra o gonçalvismo, Sá Carneiro não teria existido, apesar de ele e o PSD terem sido a força política que primeiro tomou as ruas para exigir liberdade autêntica, democracia autêntica e eleições livres.

Vozes do PS: - Isso não é verdade!

O Orador: - Quem presta, hoje, preito e homenagem aos que morreram pela liberdade no pós-25 de Abril? Quem cita e lembra os comandos mortos: o Tenente Coimbra e o Furriel Pires? A outra metade do País, Srs. Deputados, em vez disso, elogia Otelo.

O Sr. Presidente (Correia Afonso): - Sr. Deputado, informo-o de que esgotou o tempo.

O Orador: - Sr. Presidente, não quero abusar da bondade de V. Ex.ª e peço licença para terminar com a seguinte frase: os caminhos do futuro não podem ser outros senão os da verdade incondicional, da ciência e da liberdade, da generosidade e da justiça. E esses caminhos são os nossos. Nada deverá impedir que sejam também os da oposição. Nós desejamos que também sejam os dela.

Aplausos do PSD.