O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

12 DE MAIO DE 1994 2311

zoes. O PS, Srs. Deputados, dá a impressão de que está a andar para trás com este seu regresso ao antifascismo militante.
Esta ferocidade antifascista do PS merece reflexão. Qual é a sua razão de ser? O que está na base da sua motivação? Penso, com toda a franqueza, Srs. Deputados e, nomeadamente Srs. Deputados Socialistas, que o que está na base dessa vossa ferocidade antifascista é, no fundo, uma busca, mesmo inconsciente, para ocultar debilidades próprias, debilidades do presente e debilidades do passado.
O que fez durar tanto a ditadura, Srs. Deputados Socialistas? É uma pergunta que nos devíamos colocar. Qual a razão por que quase batemos o recorde das ditaduras?!

O Sr. José Magalhães (PS): - A PIDE!

O Orador: - Por que razão outras ditaduras, com polícias tão ferozes como a nossa, demoraram menos tempo?! O que é que terá feito durar a nossa tanto?! Muitas explicações haverá, mas permito-me avançar um factor explicativo, eu que reflecti sobre o assunto vários anos e não apenas na comodidade dos gabinetes mas na luta concreta e até nos antros da PIDE. Um dos motivos que fez durar tanto a ditadura foi a incapacidade de a esquerda conquistar a confiança do País.

O Sr. José Magalhães (PS): - E a PIDE?!

O Orador: - Sem dúvida, mas por que é que outras ditaduras não duraram tanto e com polícias que mataram mais num fim-de-semana do que a ditadura portuguesa em 50 anos?! O Sr. Deputado José Magalhães sabe que qualquer ditadura da América latina mata mais num fim-de-semana do que a polícia política do salazarismo durante 50 anos, o que não quer dizer que isso justifique o salazarismo...

O Sr. José Magalhães (PS):- Ah!

O Orador: - Digo isto apenas para pôr cobro aos seus arroubos épicos - que possivelmente não passaram das alcatifas dos gabinetes... -, do estudo profundo, sem dúvida, dos autores marxistas!...

Risos do PSD.

Aliás, não é nada de desmerecedora a reflexão profunda, intensa, que faz suar, dos autores marxistas, na alcatifa cómoda e junto do aquecedor para não prejudicar o trabalho cerebral!... Isso é até altamente épico e estimulante, como sabe, Sr. Deputado José Magalhães!...
Mas deixe-me voltar ao fio das minhas reflexões.
Foi também por isso, Srs. Deputados, que o aparecimento de uma nova força política, que naquela altura se designou de "ala liberal", com justa razão de terceira força, veio desbloquear a situação política e que nenhuma polícia política foi capaz de conter. Como sabem, a abertura de uma terceira via com vista à possibilidade de governar o País sem que se tivesse que estar acorrentado pelo imobilismo salazarista e sem que se tivesse de integrar na oposição de esquerda permitiu a muita gente dizer: Pode-se mudar porque há quem possa governar o País.
Ora, Srs. Deputados, quando nos vêm dizer - e com razão! - que, neste momento, o principal problema é o de transmitir às novas gerações o nosso testemunho e a nossa reflexão, pergunto-me: por que é que as pessoas, então, não transmitem o seu testemunho de forma ilimitada? Inclusivamente, por que é não fazem uma análise sobre a duração da ditadura?!
Por outro lado, Srs. Deputados, convenhamos que não há maior mistificação do que centrar sobre a ex-PIDE/DGS a questão do regime anterior, quer do ponto de vista da responsabilidade moral, quer mesmo do ponto de vista dos mecanismos da repressão e da violência. Quantas pessoas não foram perseguidas e agredidas por outras organizações e agentes? Quantas entidades civis não colaboraram, da forma mais activa, nessa violação dos direitos e da dignidade? Quantos professores não causaram graves e irreparáveis danos a muitos estudantes por razões de estrita perseguição política?

O Sr. José Magalhães (PS):- Claro!

O Orador: - E quem é capaz de negar que a política, ela própria...
Sabe, Sr. Deputado José Magalhães, muitos falam sobre estes temas por desconhecimento de causa, por abordagem meramente teórica do assunto!

O Sr. José Magalhães (PS):- Claro!

O Orador: - Sr. Deputado, o tempo já passou para cada um ter a sua experiência sobre isso. E irrecuperável!

O Sr. José Magalhães (PS): - É isso mesmo!

O Orador: - Agora, o destino dos curiosos é ir aos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo. Já não podem experimentar!

Risos do PSD.

E quem é capaz, Srs. Deputados, de negar que a polícia, ela própria, era suficientemente sofisticada para agir quase sempre com as mais apuradas distinções e discriminações sociais e de classe? É inegável que a polícia maltratava, com frequência atingindo a agressão brutal e a tortura. Mas os alvos quase exclusivos dessa violência eram praticamente só os comunistas. Fora estes, as excepções, que existiram, circunscreviam-se a alguns, poucos, oposicionistas mais radicais.
Será que hoje alguém precisa ou anda à procura de uma vã glória do passado, à míngua de saber o que dizer do presente e do futuro?
E como é possível querer fazer acreditar às novas gerações que o pior da ditadura é o organismo especializado da repressão política, e não a própria ditadura e os ditadores?
Será que há ditadores e responsáveis da ditadura contrariados? Será que era a polícia política que os obrigava a ser ditadores?
Eu serei o último, Srs. Deputados - repito, serei o último-, a tratar como meros oportunistas e gente sem carácter os responsáveis políticos da ditadura. E digo isto porque muitos deles, os mais capazes deles até, eram gente de convicções - erradas, evidentemente, mas convicções (é preciso acrescentar). É certo que alguns excessivamente presunçosos, estupidamente presunçosos, mas, apesar de tudo, há que reconhecê-lo, convictos, de convicções.