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54 I SÉRIE - NÚMERO 2

beco sem saída, a si e ao Presidente da República, depois de o PSD o ter desafiado a trazer o debate político para a sede parlamentar, o que punha em causa a tese, que o CDS queria alimentar, de que a Assembleia da República estava bloqueada.
As bravatas recentes do Dr. Manuel Monteiro, para quem todo o mundo, a começar pelo Primeiro-Ministro e a acabar na Assembleia, estão rojados a seus pés, quase a pedir desculpa por existirem, destinam-se exactamente a esconder isto mesmo: o CDS-PP apresentou a moção de censura porque não tinha outra alternativa e porque não podia continuar mais o perigoso conúbio que mantinha com a actuação oposicionista do Presidente da República, sem pôr em causa a imagem de ambos.

Aplausos do PSD.

As peripécias que rodearam a apresentação desta moção e o conteúdo da mesma são, por tudo isto, uma oportunidade ideal para se compreender o que faz e o que quer o CDS-PP, ou melhor, a parte do nome da coisa CDS-PP - que é acrescento da coisa - o PP - e que nada quer ou tem a ver com a coisa em si - o CDS.

Risos do PSD.

Aliás, muito significativamente, nos recentes papéis do CDS-PP, a parte do nome que é CDS fica-se apenas pela sigla, enquanto que Partido Popular aparece sempre por extenso. 0 Partido Popular tem vergonha do CDS.
De facto, chamar a uma parte do CDS "Partido Popular" é um daqueles usos dos adjectivos de que falava George Orwell para designar exactamente o contrário daquilo que se é (como na República Democrática Alemã, que não era nem "República", nem "Democrática" e muito menos "Alemã")

Vozes do PSD: - Muito bem!

0 Orador: - Do mesmo modo, o "Popular" é bem pouco popular, a meio caminho entre um arremedo de uma cópia tardia do nome do PPD e a vontade de se rever naquilo que na Espanha de Garcia Lorca se chamaria um "partido de senoritos".

Aplausos do PSD.

É um Partido "Popular" - entre aspas -, a que falta o povo e a que falta, acima de tudo, a expressão dos interesses, aspirações e necessidades do povo, o mesmo povo que a gente suspeita que, em privado, no PP se considera a "canalha", a velha "canalha" assustadora da Revolução Francesa com que este tipo de direita radical e ultramontana sempre conviveu muito mal.
0 CDS é hoje um partido sem história, sem memória, sem referências, e gaba-se disso. Os seus dirigentes pensam que há nisto mérito, porque lhes dá uma liberdade de acção que é conveniente à ligeireza das suas posições, mas tem o péssimo resultado de pensarem que estão livres para dizerem tudo o que lhes vem à cabeça e para não aceitarem responsabilidades por nada. Têm o complexo de Adão: pensam que o mundo começou com eles e, embora não o digam, pensam também que, no momento do Apocalipse, de uma nova maioria do PSD, o mundo também acabará com eles. Encolherão, então, os ombros e olharão para a "canalha" com desdém, porque acham que esta não os merece e desaparecerão para o seu mundo de interesses privados, a que chamam abusivamente "sociedade civil".

0 Sr. Silva Marques (PSD): - Muito bem!

0 Orador: - De facto, uma das coisas que caracteriza a actual direcção do PP é um consistente ataque e desvalorização da Assembleia da República, usando todos os clichés clássicos do antiparlamentarismo, muito em voga na velha direita da "ordem nova" dos anos 20 e na "nova direita" dos anos 70. E esse ataque é feito porque é esta Assembleia, nas suas qualidades e defeitos, que melhor representa a soberania popular: precária, desigual, pouco elitista para o "fino" gosto do Partido Popular, contraditória e plural, como é feito o tecido do País, o Portugal dos portugueses.

Aplausos do PSD.

No meio de tudo isto, a moção de censura aparece como um breve hiato numa lamentável prática antiparlamentarista em que o Partido Popular se tem especializado. Parece, mas não é!
Após a sua apresentação, logo a Assembleia é atacada pela sistemática menorização que é feita do próprio Grupo Parlamentar do CDS. Tratados eles também de "sanguessugas" na acusação genérica do Dr. Manuel Monteiro, atacados também por estarem em "férias" e não trabalharem, sujeitos a todas as invectivas contra aquilo a que se chama a "classe política" por parte desse típico membro da "classe política" que é o Dr. Manuel Monteiro.

0 Sr. Silva Marques (PSD): - Muito bem!

0 Orador: - À margem de qualquer papel significativo no "novo" Partido Popular, os Deputados do CDS, que ontem nas palavras do seu representante na sessão solene desta Assembleia, com certeza para se demarcarem dos excessos
anti-parlamentares da actual direcção do partido se demarcaram afirmando o primado desta Assembleia na luta política, são rebaixados na sua condição de parlamentares e de homens políticos, e assistiram, primeiro, à subalternização do Parlamento através do desnecessário apelo intervencionista ao Presidente da República e, depois, aceitando que fosse fora do Parlamento e à revelia dos seus Deputados, que fossem conduzidos todos os actos relevantes de um processo que é intrinsecamente parlamentar e "pertença" deles mesmos - Deputados do CDS.

Aplausos do PSD.

Desde a comunicação ao Sr. Presidente da República da moção de censura, antes de esta ser formalmente apresentada no Parlamento, até, cúmulo dos cúmulos, a ver apresentada, por um dirigente do Partido Popular, o discurso do Dr. Manuel Monteiro no conselho nacional como sendo a "verdadeira apresentação da moção de censura". Se esta não é a "verdadeira apresentação da moção de censura", que apresentação é esta, a "falsa"?

Aplausos do PSD.

0 Sr. Nuno Delerue (PSD): - É uma vergonha!

0 Orador: - 0 CDS-PP confunde o seu conselho nacional com a Assembleia da República, como confunde a "Nação" com o CDS-PP e se a seguir, várias vezes, nos referimos ao discurso do Dr. Manuel Monteiro - mesmo apesar de ele não estar presente, o que por cortesia nos levaria ao silêncio noutras circunstâncias - é porque ele, nesse mesmo discurso, se apresentou como fazendo na