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21 DE OUTUBRO DE 1994 55

sede partidária o "verdadeiro" discurso da moção que nos era dirigido e a que temos de responder. Temos muito respeito pelos Deputados do CDS e, em particular, pelo Deputado Nogueira de Brito, apresentador da moção, mas não fomos nós que dissemos que a "verdadeira apresentação da moção" era a outra. E nós queremos discutir a "verdadeira" e não a "falsa".

Aplausos do PSD.

Se olharmos para a "verdadeira" moção de censura, a que o Dr. Monteiro apresentou no fim-de-semana passado, lá encontraremos o retrato da política do actual CDS - versão Partido Popular.
Começa por ser uma política disfarçada, escondida, ocultada nos seus fins e objectivos. Do mesmo modo que o PCP não pode nomear a sua política verdadeira - que consiste na tomada revolucionária do poder político -, também o CDS-PP não o pode fazer hoje porque detrás de todas aquelas grandes palavras está uma realidade bem comezinha e pouco brilhante: o CDS quer que o PSD perca a maioria de governo que hoje tem para, na convulsão dessa perda, afastar da vida política o Professor Cavaco Silva e ter a oportunidade de impor uma aliança com um PSD enfraquecido, que se tornaria refém de um pequeníssimo CDS-PP. Quer ver acabar o PSD maioritário, quer ver afastado Cavaco Silva que elegeu como inimigo principal, quer um PSD para aliado porque sabe que precisa dos seus votos - que o CDS nunca conseguirá ter -, mas quere-o subordinado a uma frágil coligação em que o partido mais pequeno mande. 0 PSD traria os votos, o CDS-PP exerceria o poder.

Vozes do PSD: - Muito bem!

0 Orador: - Todas as grandes palavras do CDS-PP servem apenas para esconder isto e é contra isto que o PSD tem que combater, porque o projecto político do PSD não pode ser hipotecado ao de um pequeno partido no extremo da direita, a um grupo de dirigentes políticos exaltados, que faz política subordinada aos editoriais do director de um jornal, que não conhece o País e que está obcecado por uma vontade de poder sem grandeza nem dimensão.

Aplausos do PSD

0 que dissemos atrás revela uma das características mais negativas da actual política do CDS-PP e que consiste precisamente em esconder e disfarçar as suas verdadeiras posições políticas por detrás de arrogantes proclamações morais. Este teatro da indignação moral a que o Dr. Monteiro dá a voz e o corpo todos os dias, tem o duplo efeito de degradar a acção e o debate político e de abastardar o, papel dos valores, quer na acção política colectiva, quer no ethos individual, onde estes têm outro lugar e outra fala.
Esconder a política por detrás de proclamações morais é sempre uma má política e uma péssima ética. Ao conduzir uma política com uma linguagem feita de proclamações morais, o CDS-PP impede que as suas posições políticas sejam debatidas no mesmo plano de todas as outras, instituindo assim uma dicotomia entre "nós", os puros, os da "fortaleza das convicções" - como, sem o senso de ridículo, se autoclassifica o Dr. Monteiro - e os "outros" - os incompetentes, os inaptos, os corruptos, os traidores, os vende-pátrias, etc., etc. Esta é uma linguagem que, na simplicidade do seu preto e branco, é estruturalmente repressiva.

Este tipo de linguagem pretensamente moral assume assim um carácter totalitário, próximo da "língua de madeira" que os comunistas falam, tomando absolutas e inquestionáveis posições que são de um partido que, como as de todo e qualquer partido, são parciais e representam escolhas e opções tão legítimas como quaisquer outras, mas de nenhum modo eticamente superiores, como quase sempre se apresentam. Esconder que este é o carácter da linguagem política em democracia e substituí-la por invectivas morais sobre os bons e os maus é destruir o espaço do debate público, a igualdade da escolha que se coloca ao último julgador, o
povo, e ao primado das leis.

Vozes do PSD: - Muito bem!

0 Orador: - A enorme arrogância do CDS-PP, patente nas mais pequenas declarações, patente nos tiques e nos truques da linguagem, na falsa e estudada indignação dos seus dirigentes, é, pois, um mero mecanismo de ocultação, no fundo uma pequena táctica politiqueira ao serviço de posições tão precárias, circunstanciais, dependentes de interesses e idiossincrasias, egoísmos e ideais como quaisquer outras ou as de qualquer outro partido.
Sr. Presidente, Sr.ªs, Deputadas, Srs. Deputados: 0 CDS elegeu para temas desta moção de censura aquilo que considerou mais relevante da actual situação política: a questão da Ponte, a nomeação do Comissário Deus Pinheiro, a OPA do BCP sobre o BPA e aquilo a que chamam a "quebra" da "produção nacional"
De todos estes temas, apenas este último, se se verificasse, justificaria a relevância da apresentação de uma moção de censura, porque se tal se verificasse isto seria um fracasso da política económica e social do Governo. Não é o caso e tal já foi referido no discurso do Primeiro-Ministro e sê-lo-á no debate.
Mas basta olhar o texto da moção de censura para se compreender que são os temas mais pretextuais - a Ponte, o Comissário Europeu, a OPA - que estão na sua génese e a explicam. Ora se, ao fim de vários anos de governação o CDS pretende derrubar o Governo - fim virtual da sua moção - apenas pelos pretextos que nomeia, está a confessar que bem pouco existe de facto para justificar a dramaticidade deste acto. Também o CDS cai na pecha de conduzir a sua política pelas caixas altas dos jornais.

Aplausos do PSD.

Compreendia-se, aliás, desde cedo que uma das razões por que os partidos da oposição tinham enormes reservas à apresentação de uma moção de censura era exactamente pela contradição, que se tornava patente, entre a gravidade do acto a que se propunham - derrubar o Governo e a inconsistência dos pretextos a que deitavam mão. Tudo indica que, com a moção de censura que o CDS apresenta, o Dr. Monteiro pretende terminar o seu ciclo de "campanhas" pelos elementos. Fez a "campanha da terra" e a do "mar" e quer iniciar aqui, na Assembleia, a "campanha do "ar". Porque de muito "ar" é feita esta moção.

Aplausos do PSD.

De facto, hoje não existe um problema da "Ponte" nos termos em que o CDS o coloca. Embora permaneça a natural insatisfação das pessoas por um serviço que continua a ser mau - a passagem da margem sul para Lisboa -, nem por isso tal insatisfação os levou à violação da lei, isolando nessa quotidiana aceitação quem o pretenda fazer.