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21 DE OUTUBRO DE 1994 57

Estas ideias são velhas e más. Portugal pagou por elas um preço demasiado elevado até porque foi quase sempre por causa delas que mais pôs em causa a sua independência: foram elas que aviltaram a ideia de pátria, foram elas que nos conduziram para 48 anos de envergonhada autarcia económica e política, que nos deixou o País mais atrasado da Europa.

Aplausos do PSD

0 que nesta prosápia nacionalista muitas vezes se acoberta é a mediocridade Daqueles que, para esconderem as fraquezas próprias de quem nem sempre se esforçou e trabalhou como devia, acabaram por defender um país sempre adiado, sempre a acusar os outros de serem responsáveis daquilo de que não é capaz ou que não quer fazer.

Vozes do PSD: - Muito bem!

0 Orador: - Este nacionalismo é o do medo: o medo de não ser capaz de competir, o medo de se ver ao espelho como se é nas suas fraquezas. Dele resulta o pior complexo de inferioridade que, em vez de um patriotismo de homens e nações livres e iguais nos seus direitos e deveres, defende o isolacionismo e a autarcia. Daqueles que não querem ver confrontadas a ineficiência, a incompetência, o desleixo próprio com os méritos alheios É uma política de ressentimento e inveja e não uma política patriótica que se esconde nestas jactâncias do super-homem português. E é face a eles que afirmamos o nosso patriotismo, de gente madura e sem crise de identidade portuguesa no concerto das nações europeias.
Não somos nós que somos "desconhecedores da nossa história", como disse o Dr. Manuel Monteiro, é o CDS-PP. Se a conhecesse saberia que estas ideias vão à revelia de tudo o que sempre caracterizou o melhor da cultura portuguesa, ela mesmo desde a sua génese europeia - europeia na língua, europeia na identidade cultural e religiosa, europeia nas suas interacções históricas - marca de uma identidade cujas fronteiras nunca foram obviamente a África ou o Brasil (que só a ignorância artificialmente opõe, à Europa) - mas a fronteira que no século XV separava Constantinopla dos sultões turcos, essa sim fronteira civilizacional. É uma fronteira que marca os limites de uma civilização que foi capaz de se construir com base no progresso material e na melhoria das condições de vida dos seus povos, na liberdade política e religiosa, na identidade que lhe deu o império das leis e da democracia. Um povo com oito séculos de história não perde facilmente a sua identidade e sabe muito bem o que quer e não precisa da histeria nacionalista a que o CDS o quer conduzir.

Aplausos do PSD

Sr. Presidente, Sr.ªs Deputadas, Srs. Deputados: A arrogância do CDS-PP não tem apenas como alvo o PSD e o Governo, mas tudo o que é actividade política alheia e todos os partidos. Na apresentação daquilo a que chamou a "verdadeira" moção de censura, o Dr. Monteiro dirigiu-se aos partidos da oposição em perfeito estilo intimidatório - quer aos da "oposição mole" - como ele chama ao PS - quer aos "agitadores da rua" - como ele chama ao PCP. Disse-lhes que o CDS-PP já tivera com a moção de censura "significativas vitórias", entre as quais ter obrigado os partidos da oposição a votarem a moção de censura a reboque do CDS. E ameaçou-os: "parece que já se resignaram (o PS e o PCP) a votarem a moção de censura. 0 país já sabe que nem o PS nem o PCP são alternativa - mas só faltava que votassem ao lado do governo" (...) "votando a favor da moção de censura, reconhecem que o CDS-PP lidera a oposição". Reparem bem no tom arrogante das palavras: "só faltava que ...".
Tenho a convicção de que muito do que nesta intervenção se afirmou corresponde àquilo que muitos Deputados da oposição gostariam de ter dito ao CDS-PP. Esperamos, pois, que os partidos da oposição ainda tenham algum sentido de dignidade e sejam capazes, de manter a autonomia da sua acção política sob pena de se tomarem cúmplices do Dr. Monteiro, porque da nossa parte não o aceitamos.

0 Sr. Ferro Rodrigues (PS): - Está a estragar o discurso!

0 Sr. Manuel Alegre (PS): - Você ia tão bem!

0 Orador: - A má consciência e a incomodidade custam muito!
Repito, espero que não aceitem ser assim tratados, porque da nossa parte não aceitamos. Connosco não falam assim.

Aplausos do PSD

Por nossa parte recusamos a iniciativa do CDS. Somos o maior partido português, um partido com experiência do Estado e do Governo, com experiência de acção política, com um programa claro e objectivos definidos. Acima de tudo somos um partido a quem o povo português deu a confiança para governar e a quem nos apresentamos em 1995 para ser avaliados, não nos confundimos com um partido que usa e abusa de um tom de exaltação tribunícia, de arrogância e intolerância, e que transporta consigo a marca inconfundível das margens da vida política. Deixemo-lo continuar a lá estar

Aplausos do PSD, de pé.

0 Sr. Presidente: - Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Narana Coissoró.

0 Sr. Narana Coissoró (CDS-PP:) - Sr Presidente, não é para um esclarecimento mas para um breve comentário.

0 Sr. Presidente: - Tem a palavra, Sr Deputado.

0 Sr. Narana Coissoró (CDS-PP): - 0 Sr Deputado Pacheco Pereira acaba de ler um texto literário próprio para ser publicado no jornal onde, com proveito, será lido. Proveito para si...

Protestos do PSD.

.. e para os seus leitores que tenham a paciência de ler, porque não foi lido aqui nas melhores condições. Esperamos que tenha êxito neste seu exercício literário porque não passa disso. Nós não nos revemos naquilo que o Deputado Pacheco Pereira descreveu, não tem nada que ver com esta moção de censura, não tem rigorosamente nada que ver com a descrição que faz e, por isso mesmo, nós não nos vamos desviar nem um milímetro da nossa moção de censura, dos fundamentos da moção de censura e esperamos que o debate prossiga normalmente porque não nos vamos prestar a quaisquer jogos, jogatanas ou artimanhas de diversão do debate.

Risos do PSD.