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172 I SÉRIE - NÚMERO 6

maneira, «herdou» este projecto, na medida em que não foi o seu principal impulsionador e negociador, o que é um facto é que o Governo português tem de responder perante estes problemas que foram levantados, e não pode responder apenas com as incertezas determinadas pela lógica da economia de mercado, visto que houve aqui um apoio fortíssimo do Estado português, directa ou indirectamente, através dos fundos comunitários.
Portanto, há uma responsabilidade política sobre o futuro deste projecto que o Governo tem de assumir em conjunto e o Sr. Ministro da Indústria em particular.
Fico à espera de ouvir as suas respostas.

O Sr Presidente: - Para responder, tem. a palavra o Sr. Ministro da Indústria e Energia.

O Sr. Ministro da Indústria e Energia (Mira Amaral): - Sr Presidente, Srs. Deputados, Sr. Deputado Ferro Rodrigues: É com todo o gosto que aqui estou para prestar-lhe alguns esclarecimentos sobre uma matéria da maior relevância para a indústria portuguesa, o chamado projecto Ford/Volkswagen.
Começo por dizer-lhe que estou de acordo com as considerações genéricas sobre a maneira como se deve, hoje em dia, ver os efeitos do investimento estrangeiro, dado que não podemos ver a análise clássica apenas dos impactos macroeconómicos nos efeitos induzidos sobre uma estrutura empresarial num projecto destes.
Os efeitos qualitativos, os efeitos no domínio da formação de recursos humanos e de gestores qualificados são extremamente importantes, sendo, às vezes, difíceis de quantificar a priori. Mas toda essa perspectiva dinâmica é tão importante como aqueles efeitos clássicos macroeconómicos que se quantificam a priori.
Posso dizer-lhe que, em 1 de Setembro de 1994, o projecto encontrava-se realizado a 98 %, conforme a descrição que tenho aqui nesta nota- e que tenho todo o prazer em dar-lhe- e que vou ler sinteticamente. Aliás, dar-vos-ei toda esta informação sobre o estado de avanço do projecto.
A previsão na produção acumulada para 1995 é da ordem das 120 000 viaturas, mas a cadência esperada de 630 viaturas/dia poderá ocorrer ainda em 1995. Nos anos seguintes, e a atingir-se a produção de cruzeiro, chegar-se-á às 830 viaturas/dia, ou seja, 182 600 viaturas/ano.
As 630 viaturas/dia, que se pensa produzir em 1995, serão suportadas por dois turnos, mas a produção de 830 viaturas/dia obrigará a reforçar os dois turnos previstos. Isto é, em suma, espera-se em 1995 ter dois turnos nesta cadência de 630 viaturas/dia.
Quanto ao pessoal, neste momento, os efectivos da unidade são da ordem dos 1900 trabalhadores nacionais e estrangeiros. Com o recrutamento que está em curso, a empresa espera atingir, em 1995, 3000 efectivos.
O seu aumento para valores próximos dos previstos e anunciados em 1991 vai depender da gestão dos turnos e, consequentemente, das necessárias cadências de produção.
Portanto, em termos de pessoal, não estamos ainda naquelas metas anunciadas de empregos directos, mas posso referir-lhe um aspecto extremamente positivo: em termos de empregos indirectos induzidos pelo projecto, no conjunto de investimentos de componentes que vão trabalhar para o projecto, já estão, neste momento, criados do 2678 postos de trabalho, isto num conjunto de empresas que tenho aqui listadas numa nota que tenho todo o gosto em fornecer-lhe.
Quanto ao valor acrescentado nacional, também lhe posso entregar o quadro que aqui tenho, o último quadro a que temos acesso e que contém os seguintes dados: valor médio por país, número de peças e número de fornecedores. É um quadro que mostra a produção em cada país para a Ford/Volkswagen. Em termos de valor, Portugal aparece em primeiro lugar com 46,6 %; em segundo lugar, a Alemanha com 43,53 %, e, em terceiro lugar, a Espanha com 6,6 %.
Portanto, este quadro mostra que, efectivamente, Portugal é o país com maior valor na produção de componentes para o projecto Ford/Volkswagen, seguido naturalmente da Alemanha, que é o país mais ligado à Ford e à Volkswagen, e, em terceiro lugar, do país vizinho, a Espanha.
Portanto, nós conseguimos atingir, graças à acção do IAPMEI e do GAPIN - o gabinete que eu criei para dinamizar a indústria de componentes no sector automóvel -, os valores que nos tínhamos proposto, em termos de valor acrescentado nacional para o Projecto Ford/Volkswagen. Embora não seja em valor mas em número de peças produzidas, posso dizer que Portugal vai produzir 1178 peças para a viatura, a Alemanha 753 peças e a Espanha 563 peças. Este quadro que vou dar-lhe mostra ainda que aqueles receios de que a Espanha se aproveitasse mais do que Portugal do projecto Ford/Volkswagen em termos de produção lá instalada, são infundados e que nós conseguimos, de facto, ter maior produção do que a Espanha nesta matéria Também lhe vou fornecer o conjunto de empresas que estão classificadas como fornecedores da Ford/Volkswagen.
Por outro lado, posso dizer também que, em ano cruzeiro, esperamos que o contributo para as exportações nacionais deste projecto seja cerca de 20 % das exportações nacionais e o valor acrescentado bruto do projecto rondará cerca de l % do produto interno bruto - é 1 % do produto interno bruto em termos de contribuição do projecto para o produto português.
Em termos gerais, Sr. Deputado, é este o ponto da situação neste momento. Tenho todo o gosto em fornecer-lhe agora esta nota que descreve exaustivamente o conjunto de elementos que, aqui, em termos genéricos, lhe referi.

O Sr. Presidente: - Para interpelarem o Sr. Ministro sobre este assunto inscreveram-se, entretanto, os Srs. Deputados José Manuel Maia, Joel Hasse Ferreira, Joaquim da Silva Pinto, Crisóstomo Teixeira e Miranda Calha.
Para fazer uma pergunta complementar, tem, de novo, a palavra o Sr. Deputado Ferro Rodrigues.

O Sr. Ferro Rodrigues (PS): - Sr. Ministro da Indústria, agradeço a sua resposta, mas, de qualquer forma, há questões que não ficaram ainda suficientemente claras em matéria de perspectivas para o projecto em 1995, nomeadamente o impacto imediato do projecto em matéria de valor acrescentado. Contudo, se tivermos em linha de conta aquilo que o Sr. Ministro disse sobre a produção de 120 000 viaturas, em 1995, e de 180 000, depois, a partir de 1996, podemos concluir que, se tem um impacto, na velocidade de cruzeiro, de l % no PIB, admitamos que, em 1995, terá qualquer coisa como 0,75 %. Então, Sr. Ministro da Indústria, mudemos de flanco nesta discussão: se o projecto Ford/Volkswagen, por si só, tem um impacto de 0,75 % no crescimento económico do País em 1995, e é admitido nas Grandes Opções do Plano e no Orçamento que Portugal crescerá entre 2,5 % e 3,5 % em 1995, admitindo-se, portanto, que, no limite mínimo de 2,5 %, se cresça ao mesmo nível do crescimento médio europeu, então, aquilo que concluímos - e que é dramático! - é que, sem o projecto Ford/Volkswagen, a divergência seria brutal em 1995. E