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22 DE JANEIRO DE 1998 1027

nhecê-lo, ainda hoje, nos nossos dias, devido à grande obra desse homem com o também já aqui focado Dr. Paulo Quintela, funciona e tem os seus pergaminhos.
Estou convencido de que a sua obra e o seu exemplo perdurarão no futuro.
É nesse sentido, Sr. Presidente, que queremos apresentar também as nossas condolências à família e, ao mesmo tempo, associar-nos a este voto de pesar sobre o falecimento de um homem que constitui, sem dúvida, uma perda irreparável para a cultura portuguesa.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Calçada.

O Sr. José Calçada (PCP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: É-me difícil, em bom rigor, acrescentar algo de novo ao conteúdo que o próprio voto já expressa e os Srs. Deputados acabaram de referir. No entanto, devo dizer que, se a título pessoal tive a ocasião, circunstancial, embora, de integrar o Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra nos já longos idos de 1963/64, o devo, tivesse ou não consciência disso (e não a tinha), a homens como Manuel Deniz Jacinto, que hoje aqui, com justiça, homenageamos.
Como sabem, dirigiu também, em 1940/41, a Associação Académica de Coimbra e, além disso, na sua componente cívica, como cidadão, empenhou-se de maneira nem sempre fácil, para não dizer sempre difícil, numa luta que acabou por, passo a passo, pouco a pouco, desaguar no 25 de Abril, que hoje é património comum desta Câmara e de todos os portugueses.
É por isso que é de elementar justiça fazermos o que estamos aqui, como representantes do povo português, a fazer. Foi um homem que quase sempre andou fora das luzes da ribalta, por muito contraditório que isto possa parecer em relação à sua devoção ao teatro. Talvez por isso e com maior ênfase aqui o devamos homenagear.

Vozes do PCP: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Maria José Nogueira Pinto.

A Sr.ª Maria José Nogueira Pinto (CDS-PP): Sr. Presidente, Srs. Deputados: A minha bancada associa-se a este voto de pesar. A Academia de Coimbra e o teatro português estão, de facto, de luto. O Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra foi, durante décadas, uma escola de teatro, um centro de inovação artística e um pólo importantíssimo de descentralização cultural.
O mérito foi-lhe reconhecido em vida, quer pela cidade de Coimbra, quer pelo Ministério da Cultura. É, por isso, de toda a justiça que nos associemos aqui, na Assembleia da República, a este voto de pesar.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, quero juntar a minha voz à vossa, porque fui contemporâneo do Dr. Deniz Jacinto e, além do mais, íntimo amigo e admirador. Ele foi um homem de grande cultura, o melhor Diabo do teatro vicentino e, simultaneamente, uma das personalidades mais ricas que me foi dado conhecer, pela bondade, pela tolerância, pela solidariedade, e, nessa medida, aproximava-se do meu conceito de santo, o que significa que ele pôde ser as duas coisas, só que foi Diabo na ficção e foi santo na realidade. Junto a minha voz à vossa.

Vamos votar o voto de pesar.

Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.

Peço à Câmara que guarde um minuto de silêncio.

A Cântara guardou, de pé, um minuto de silêncio.

Srs. Deputados, o voto será transmitido à família do Dr. Deniz Jacinto.
Passamos ao voto n.º 101/VII - De pesar pela passagem do 25.º aniversário da morte de Amílcar Cabral, apresentado pelo PS, PSD, CDS-PP e PCP.
Para proceder à sua leitura, tem a palavra o Sr. Secretário.

O Sr. Secretário (Artur Penedos): - Sr. Presidente e Srs. Deputados, é do seguinte teor:

Fez ontem, dia 20, 25 anos que morreu Amílcar Cabral, assassinado cobardemente, qualquer que tenha sido a motivação dos criminosos.
Amílcar Cabral combateu pela independência do seu país. Mas demonstrou sempre, por palavras e actos, que o seu inimigo era o sistema colonial e não o povo português, de quem se sentia profundamente solidário e irmão.
Nunca renegou a cultura e a língua portuguesas e, sem qualquer cedência da sua africanidade, soube elevá-las, preservá-las e honrá-las como património comum dos nossos, povos.
E à memória deste homem, cuja dimensão política e humana é universalmente reconhecida, e às lições de vida que nos legou que a Assembleia da República presta hoje a sua sentida homenagem, fazendo votos para que a intolerância nunca mais habite no nosso espaço comum nem na nossa morada última - a língua portuguesa.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Manuel Alegre.

O Sr. Manuel Alegre (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Em nome da bancada do Partido Socialista, quero aqui deixar um breve testemunho.
Suponho que fui uma das poucas pessoas nesta Casa que teve o privilégio de conhecer pessoalmente Amílcar Cabral. Fui seu amigo pessoal, recebi-o muitas vezes na minha casa, em Argel, ouvi-o em muitas conferências de imprensa, e cada uma delas era um espectáculo de comunicação. Ouvi, nomeadamente, aquela conferência de imprensa em que ele disse que estava disposto a ajudar o Dr. Marcelo Caetano a ser um De Gaulle português. Recordo-o, porque nessa altura zanguei-me com ele, pois não tinha ilusões quanto à «primavera marcelista», e ele disse: «a vossa questão é com o regime, a minha é a luta por um país».
Ouvi-o também muitas vezes em reuniões internacionais, onde, apesar de ser o dirigente de um pequeno povo em luta pela sua libertação, era ele que dava o tom. Sem dúvida alguma, naquela altura, nos anos 60, ele era um dos dirigentes africanos de maior irradiação e projecção internacional.
Era um homem com um pensamento original, criativo, de uma grande originalidade. Ele era essencialmente um teórico e, diria mesmo, foi o principal teórico da luta de libertação africana. Mas era um pensamento longe de chavões e de simplismos. Ele não gostava de ser catalogado,