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1138 I SÉRIE - NÚMERO 31

tacão pública. E só uma infindável inconsciência poderá crer que a simples garantia verbal, escrita ou mesmo jurídica será suficiente para tranquilizar populações que, durante dezenas de anos, têm sido vítimas da violação de todas as promessas e de todas as garantias em ditadura, em neo-ditadura e em democracia.

Aplausos do PSD.

Segundo, este autismo tecnocrático excede-se quando pretende fazer crer que a tal nova técnica elimina todos os riscos e traz o paraíso aonde as populações apenas têm conhecido o interno "Quando a esmola é demasiada, o pobre desconfia", e tem razão! Este excesso de apresentação da técnica como uma infalibilidade absoluta, em vez de confiança, Srs. Deputados, apenas agrava e sobressalta a desconfiança. Sobretudo junto de populações que têm vivido, ao longo de décadas, as grandezas, as fraquezas e os falhanços dos milagres técnicos.
Terceiro, a própria política seguida pelo Governo é, mesmo no campo da apreciação técnica, muito discutível. E tem sido com fortes argumentos, de facto, muito discutida e posta em causa, precisamente numa matéria em que qualquer governo, com ou sem slogans de diálogo, mas subordinado aos imperativos da sensibilidade e da justiça, teria obrigatoriamente (obrigatoriamente, Srs. Deputados socialistas!) que buscar a consensualidade. O Governo começou pelo telhado; deveria antes privilegiar o caminho que a própria evidência aconselha: a política dos três, na linguagem dos especialistas - reduzir, reutilizar, reciclar Assim, a política do Governo, em vez de reduzir de reutilizar e de reciclar, resolveu escolher como caminho instalar altas capacidades de incineração que mais parecem destinadas a incentivar a produção de resíduos perigosos mais do que a reduzi-la.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Quarto, Srs. Deputados socialistas, os argumentos do Governo andam para trás e para a frente, tal como quer fazer com os resíduos perigosos! As povoações em causa são as escolhidas porque estão no centro do País, mas os resíduos, segundo o próprio plano previsto, circularão para Estarreja, desta para o Barreiro e daqui, finalmente, para Maceira e Souselas. Uma vez mais, estes argumentos, Srs. Deputados, pela sua inconsistência, são gasolina no fogo da desconfiança e do medo. Aliás, os técnicos das empresas envolvidas, inclinavam-se - e logicamente - para a preferência dada às localizações em Outão e Alhandra.
Quinto, a exclusão, já no próprio decurso do processo público de discussão, da localização em Outão, por si só, mesmo que mais não houvesse, Srs. Deputados, seria suficiente, e a justo título, para inquinar de forma irremediável a seriedade e credibilidades das razões profundas das escolhas feitas. Afinal, se o processo é tão seguro, se o grau de despoluição é tão elevado, dando remédio àquela que hoje existe mesmo no Outão, então porque não sediar aí a co-incineração? Ou será que as pessoas deixaram de estai primeiro. Ou será que tomaram o seu lugar os interesses económicos, estando estes agora em primeiro?

Aplausos do PSD.

Alhandra, Srs. Deputados, essa, viu-se livre do pesadelo porque a sua população, escudada na ameaça da sua força populacional e eleitoral, e a sua corajosa Presidente da Câmara - uma socialista! - bateram o pé e logo fizeram esquivar-se noutra direcção a falsa altanaria tecnocrática!

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Virou-se, pois, ela para aqueles que supôs pequenos, frágeis, indefesos, insignificantes - mas enganou-se! A injustiça, Srs. Deputados, e sobretudo Srs. Deputados socialistas, faz levantar montanhas e transforma em gigantes mesmo os mais insignificantes.
Mas há uma voz que se ergueu e que não posso deixar de assinalar. Uma voz, para além de outras assaz significativas que também se levantaram: a da Universidade, felizmente, essa Universidade que, durante demasiados anos, viveu encerrada no seu casulo e na sua torre. Contudo, para além dessa voz da Universidade, dos seus universitários - e não posso deixar de referir o prazer que tive, como cidadão, de ver o Sr. Deputado Barbosa de Melo, ilustre Professor, na rua, solidário com as populações que protestavam...

Aplausos do PSD.

... como não posso deixar de louvar a actividade pública e o combate público que tem travado o ilustre professor universitário, também de Coimbra, Vital Moreira - que vieram em apoio e em socorro de uma população legitimamente indignada, tenho de referir, muito especialmente, a voz do Deputado por Coimbra Manuel Alegre, não por um tique de criar assisania nas hostes alheiam, mas por um imperativo de colocar em relevo uma atitude de alta elevação cívica, paradigma daquilo que considero a obrigação elementar dos representantes da Nação.

Aplausos do PSD.

O Sr. Deputado Manuel Alegre demonstrou como não são incompatíveis os altos e nobres deveres que impendem sobre um Deputado da maioria, a quem cabe, simultaneamente, o patriótico - sublinho, o patriótico - imperativo de sustentar um governo e a obrigação inalienável - sublinho, inalienável - de preservar a liberdade da sua voz posta ao serviço dos povos que o elegeram também para sua defesa.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Uma coisa é certa, Srs. Deputados: só quem não esteve no terreno, junto das populações, protestando todo o dia e alta noite, na rua, à chuva, ao frio, afrontando todos os sacrifícios, com coragem, sem quebrar, em número surpreendentemente grande, é que poderá julgar que se trata de pequenos, à mão de semear, fáceis de enterrar no silêncio da cobardia e da indiferença geral. Enganam-se esses! Aquelas populações não vergarão, e estão perante não anões, mas gigantes. Assim os fez a indomável indignação do arbítrio, da injustiça e do cinismo dos caminhos trilhados pelo Governo.

Vozes do PSD: - Muito bem!

Q Orador: - E mesmo esse País enorme, o tal País que interessa, que dá votos, posto cuidadosamente fora do pesadelo, mesmo esse País não é ele próprio tão cínico