O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

I SÉRIE - NÚMERO 55 2060

Eu quero o melhor para as minhas filhas, é evidente, mas não quero só o melhor para as minhas filhas, quero o melhor também para as minhas netas, para as suas netas, para as suas filhas e quero ainda o melhor para mim e para si.
Numa edição da revista Visão de Agosto de 1998, a Sr.ª Deputada fez uma afirmação que me suscitou uma enorme curiosidade. A Sr.ª Deputada disse: «Quando se levantou a hipótese de eu presidir à Direcção de Recursos Humanos de uma empresa composta maioritariamente por homens e quando se levantou a hipótese de dirigir um estabelecimento prisional, por duas vezes me disseram que o facto de ser mulher era um impedimento».

A Sr.ª Maria Manuela Augusto (PS): - Não se lembra!

A Oradora: - Aquilo que lhe quero perguntar é o seguinte: por que é que pensa que esses homens tinham, e têm, essa representação social que os levou a dizer e a assumir que o facto de, por si só, ser mulher a impedia de exercer essas funções? A Sr.ª Deputada não pensa que já é tempo de nenhum, homem poder arvorar-se o direito de lhe dizer isso?

O Sr. José Magalhães (PS): - Claro!

A Oradora: - Sr.ª Deputada, eu sei que a senhora sabe que eu sei que, se calhar, bem lá no fundo da sua consciência, como mulher, como Deputada, a senhora sabe que esta guerra também é sua.

A Sr.ª Maria Manuela Augusto (PS): - Muito bem!

A Oradora: - Esta guerra, Sr.ª Deputada, tem de começar já a ser resolvida e, por isso, eu faço-lhe um apelo: discutamos na especialidade aquilo que nos divide e vamos dar um sinal às nossas filhas, às nossas netas. Não se esqueça, Sr.ª Deputada, que o Sr. Dr. Paulo Portas se comprometeu a ter mais de 25% de mulheres nas listas do seu partido. Vamos fazer com que isto seja uma realidade, porque, de facto, Sr.ª Deputada, «há uma história que não está na História e que só pode ser resgatada ouvindo os sussurros das mulheres».

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: - Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Maria José Nogueira Pinto.

A Sr.ª Maria José Nogueira Pinto (CDS-PP): - Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Maria Celeste Correia, não vou desistir de reconhecer, no universo feminino, várias realidades. Não quero um universo feminino homogéneo e faz-me sempre muita confusão quando, nesta Câmara, as mulheres discutem as mulheres como se fossem uma realidade homogénea, porque elas não o são, são uma realidade heterogénea. Portanto, faço por lembrar - eventualmente por razões diferentes das que foram apontadas pela Sr.ª Deputada Odete Santos, já que estamos em bancadas completamente opostas - as razões estruturais do subdesenvolvimento, que impedem que muitas coisas hoje já tenham acontecido em Portugal. Tenho de o fazer por razões que são as minhas, da minha consciência, da minha formação moral e da minha formação como cidadã e como política.

altere?

Como tal, tentei distinguir aqui estas duas realidades, porque aquilo que estamos aqui a perguntar hoje é, apenas e tão só, como é que um grupo muito minoritário de mulheres acede a lugares de poder. Estamos a falar das mulheres privilegiadas de Portugal e, de entre essas, daquelas que são um bocadinho menos privilegiadas do que as outras. Não posso pôr o debate noutro registo, Sr.ª Deputada, porque não sou capaz. Mas, considerando-nos a nós, mulheres aqui presentes; privilegiadas, porque o somos, uma chegaram e outras não chegaram. Para se chegar, é preciso querer e é preciso poder e aquilo que disse e que continuo dizer é que muitas mulheres, sobretudo.as nossas filhas, já não querem, como nós pensámos durante muito tempo, chegar aqui.
Por outro lado, também não podemos estar agarrados a paradigmas passados. Hoje, há muitas mulheres que querem ter a sua carreira profissional e que encaram a sua vinda para a política como algo remoto, não o encaram como algo de muito importante. Portanto, é preciso querer e a vontade não é muita. Ora, uma das razões para que a vontade não seja muita é o modelo masculino que tem o mundo político. Digo e escrevo há muito tempo que esse modelo masculino advém do facto de o mundo político ser, como diria o Monsieur De La Palice, um mundo predominantemente masculino. Portanto, é uma pescadinha de rabo na boca, já que as mulheres não vêm porque o mundo é masculino e esse mundo não se muda porque as mulheres não vêm.

O Sr. José Magalhães (PS): - E não quer que isso se

A Oradora: =- Entretanto, as mulheres das gerações abaixo da nossa estão-ocupadas com coisas muito mais importantes, nomeadamente com uma entrada maciça no mercado profissional e em áreas onde, tradicionalmente, não havia mulheres.
Depois, é preciso poder. Ora, os partidos têm de fazer um esforço interno para alterar todas as regras viciadas de acesso das mulheres ao poder e eu não acredito que isso se altere com uma lei. Isso é algo que, internamente, os partidos terão de fazer, até para assegurar a sobrevivência da democracia, e eu acredito que esse instinto de sobrevivência chegará.
Quero ainda dizer-lhe que eu só por duas vezes fui preterida por ser mulher...

A Sr.ª Maria Celeste Correia.(PS): - Chega!

A Oradora: - ... e hoje estou perfeitamente convencida de que quem perdeu foram eles, porque eu ia ser uma excelente directora desse estabelecimento prisional, ia fazer os possíveis, ia dar o meu melhor e, portanto, eles ficaram a perder.
Esta guerra também é minha e. eu vou dar o meu melhor, não com estas armas, mas com outras.
Finalmente, respondo-lhe ao que disse o Dr. Paulo Portas e falo-lhe nas minhas filhas. O Dr. Paulo Portas disse que ia fazer todos os possíveis para ter 25% de mulheres nas listas...

Vozes do PS: - Mais de 25%!

A Oradora: - Mais de 25% de mulheres nas listas. Quero dizer-lhe, Sr.ª Deputada, que as minhas filhas já me imploraram para que, por essa razão, não voltasse a estar neste Parlamento.