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2096 | I Série - Número 036 | 09 de Janeiro de 2004

 

consegue tomar posse porque a isso se opôs a ditadura.
Homem de resistência e de cultura, proibido de exercer a profissão de editor, mergulha na aventura de abrir em Braga uma livraria, a Livraria Vítor, que foi lugar de tertúlias, mas também de refúgio, de conspiração e de luta pela democracia.
Cidadão exemplar, condecorado com a Ordem da Liberdade, a Assembleia da República presta homenagem ao seu antigo Deputado, recorda a memória do Doutor Vítor de Sá e apresenta aos seus familiares as mais sentidas condolências.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, informo a Câmara de que se encontra na galeria dos convidados um grupo de familiares do Doutor Vítor de Sá a acompanhar esta fase dos nossos trabalhos, a quem envio, desde já, os meus cumprimentos.
Tem a palavra o Sr. Deputado Lino de Carvalho.

O Sr. Lino de Carvalho (PCP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados, o voto que apresentámos em memória do Doutor Vítor de Sá não é só um voto em memória do antigo Deputado eleito por Braga em 1978, primeiro Deputado eleito pelo Partido Comunista Português, naquele círculo.
Não queremos com este voto invocar somente a memória do militante comunista que foi Vítor de Sá. É mais do que isso: é a memória, em primeiro lugar, de um homem de princípios, de um homem de causas, de um destacado militante pela democracia, pela liberdade e pela justiça social.
Um homem que foi preso pela polícia política, a PIDE, quase uma dezena de vezes, que foi levado duas vezes a julgamento no tribunal plenário da Boa-Hora, que foi perseguido, que foi proibido de exercer a profissão de editor, que foi impedido pela ditadura de ser professor e que foi obrigado ao exílio.
Quando a nossa democracia completa três décadas de vida, é preciso lembrar, sobretudo às gerações que hoje vivem em liberdade com a naturalidade do ar que se respira, e quando tantos tentam reescrever a História, que o fascismo existiu em Portuigal e que Vítor de Sá foi uma das suas vítimas.
Mas também é a memória de um homem de cultura que se doutorou em História na Universidade de Sorbonne em Paris e com uma importante e inovadora tese para a época sobre "A crise do liberalismo e as primeiras ideias socialistas em Portugal"; de um homem de cultura que mergulhou, antes do 25 de Abril, na aventura de abrir em Braga a Livraria Vítor, que era simultaneamente um lugar de tertúlia mas também de resistência, de conspiração, sobretudo para os democratas de Braga, que tanta animaram a luta da oposição contra a ditadura; de um homem de cultura que criou, a expensas próprias, a primeira biblioteca móvel de Portugal.
Mas é também a memória de um homem, como recordava o seu filho e antigo Deputado, Eng.º Vítor Louro, que preservava o diálogo, o sentido pedagógico da verdade, que estimulava o sentido crítico da vida, designadamente enquanto professor, que acabou por ser depois do 25 de Abril, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, na Universidade do Minho e na Universidade Lusófona onde uma biblioteca perpetua o seu nome.
Condecorado com a Ordem da Liberdade, Vítor de Sá, o Doutor Vítor de Sá honrou a figura de cidadão emérito que foi, honrou a figura de Deputado cuja função exerceu. Merece, por isso, que a Assembleia da República honre a sua memória.
À sua família, em nome do Grupo Parlamentar do PCP, manifestamos a nossa solidariedade e as nossas sentidas condolências.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra a Sr.ª Deputada Goreti Machado.

A Sr.ª Goreti Machado (PSD): - Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: No passado dia 31 de Dezembro, Braga e Portugal ficaram mais pobres com a morte do Prof. Doutor Vítor de Sá, que, com 82 anos de idade, partiu para a vida eterna.
Nascido em Cambezes, concelho de Barcelos, a vida de Vítor de Sá esteve, desde sempre, ligada à cultura. A sua formação académica, na área de Letras, levou-o a exercer a docência na Universidade Lusófona de Lisboa, na Faculdade de Letras do Porto e na Universidade do Minho, em Braga.
Há 13 anos criou na Universidade do Minho um prémio de investigação para os melhores alunos em História Contemporânea, prémio esse que até hoje continua a ser atribuído.
Em 1978 foi eleito Deputado à Assembleia da República, pelo círculo de Braga, pelo Partido Comunista Português. Porque Vítor de Sá era um homem de uma personalidade forte, exigente e justa, paralelamente à cultura, dedicou-se à luta pela liberdade.
Assim, pela sua maneira de viver, pela sua postura e pelo contributo que deu à sociedade, o Partido Social-Democrata dirige-se aos familiares e aos seus amigos, apresentando os seus mais sinceros sentimentos.