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2097 | I Série - Número 036 | 09 de Janeiro de 2004

 

O Sr. Presidente: - Tem a palavra a Sr.ª Deputada Isabel Pires de Lima.

A Sr.ª Isabel Pires de Lima (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Evocar a figura de Vítor de Sá é lembrar alguém que, na minha adolescência bracarense, era a própria corporização do intelectual interventivo, do cidadão empenhado de um sentido cívico exemplar.
Na cinzenta Braga dos anos 60, onde ambos vivíamos, a livraria que ele fundou, depois de ter sido impedido de ser professor do ensino secundário e editor pelo poder censório da época, era um oásis cultural. Era lá que se compravam os livros inencontráveis em qualquer outro lugar - os nossos neo-realistas, a literatura nordestina brasileira, as novidades no domínio da filosofia, a nova historiografia portuguesa.
Foi, aliás, no domínio das historiografia e da história das ideias que Vítor de Sá se destacou com um importante estudo sobre o liberalismo e as primeiras ideias socialistas em Portugal, que constituiu a sua tese de doutoramento, como aqui foi dito, na Universidade Sorbonne, com uma especial atenção dedicada à Geração de Setenta e com destaque para a figura de Antero de Quental.
Reencontrei-o mais tarde, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, eu, jovem assistente, e ele, conceituado especialista naquelas áreas, a cujo saber muitas vezes recorri, pois Vítor de Sá era um homem de uma afabilidade e de uma disponibilidade ímpares.
Não nos reencontrámos aqui, neste espaço de democracia, que ele também frequentou em representação da minha cidade natal e da cidade onde ele quase toda a vida viveu. Reencontrá-lo-emos na memória comum de todos os que continuarão a lê-lo e a lembrá-lo como figura lutadora em defesa da democracia e da cultura.
O PS associa-se assim ao voto proposto e apresenta o seu pesar à família enlutada.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado João Teixeira Lopes.

O Sr. João Teixeira Lopes (BE): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Conheci o Professor Vítor de Sá na Faculdade de Letras do Porto. Era um homem íntegro e bom.
Foi precursor da moderna historiografia portuguesa, especialista em História Contemporânea, um grande conhecedor das revoltas liberais, em particular do Setembrismo, mas também da génese do ideário socialista em Portugal.
Como já referiram, foi alguém que, imbuído de grande generosidade, foi capaz de, a expensas próprias, criar o primeiro prémio nacional para jovens historiados de História Contemporânea, estimulando uma ciência que, em Portugal, em particular nesse ramo específico, não tinha tido até então o devido desenvolvimento.
Além do mais, foi, em tempos difíceis, um homem lutador, um resistente, um combatente pela liberdade. Merece, por isso, a nossa homenagem.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Narana Coissoró.

O Sr. Narana Coissoró (CDS-PP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Lembro com saudade o Professor Vítor de Sá, que conheci pessoalmente antes da Revolução e já depois dela, nesta Assembleia, tendo sido seu colega na II Legislatura.
Vítor de Sá foi o precursor da História das Ideias Políticas.
Num País onde havia um deserto nesta matéria, a sua tese de doutoramento constituiu para os iniciadores da Ciência Política uma obra de referência. Não é apenas uma obra de História mas uma obra em que sobressaem os movimentos sociais do século passado. E a sua metodologia de trazer para a contemporaneidade os factos, de modo a que eles estejam presentes na análise da história do presente, representa uma das grandes inovações do livro de Vítor de Sá.
Costumávamos, no nosso Instituto, o ISCSP, na cadeira de História das Ideologias Contemporâneas (introduzida pelo Doutor Adriano Moreira, quando ensinava no 1.º ano do então Curso Complementar de Administração, porque não havia o curso de Ciência Política), recomendar aos estudantes esse livro e a mera recomendação do livro era considerada como uma subversão pelo regime. Mas o livro resistiu. Os melhores críticos, os melhores economistas ou os melhores historiadores, como, por exemplo, Vitorino Magalhães Godinho, pela sua autoridade e prestígio, também recomendava esse livro a todos aqueles que quisessem conhecer a nossa história social do século XIX.
O Doutor Vítor de Sá, como político, como Deputado, mas, principalmente, como universitário, como académico de grande gabarito, tem hoje o seu nome ligado à Universidade Lusófona, na qual há um instituto que lhe é dedicado, tem o seu nome ligado à Literatura da História Contemporânea e, acima de tudo, tem o seu nome ligado à História do nosso país.