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3541 | I Série - Número 064 | 18 de Março de 2004

 

os fins?
Por que é que não valorizam, todos eles - comentadores, editorialistas e políticos de direita -, na escolha democrática dos povos de Espanha, a exigência de legitimidade, da verdade e da paz?
A estratégia de Bush e dos neoconservadores desenvolveu e atolou a guerra preventiva, a escalada dos conflitos, e alimentou o terrorismo. Essa é uma verdade que já não escapa a ninguém. O interesse real não era impedir novos 11 de Setembro, o interesse não era desmantelar a Al-Qaeda, o interesse era, como se vê, o interesse congénito da Helliburton, dos contratos petrolíferos e da reconstrução do Iraque.
Depois do 11 de Setembro, não vimos o desmantelamento dos offshore, onde se acoitam as redes criminais, não vimos o combate às redes de tráfico de armas. Não vimos nenhuma medida séria para que os sistemas judiciários punissem organizações terroristas. Vimos apenas o campo de concentração de Guantanamo, prisioneiros sem culpa formada nem defesa legal. Guantanamo é um convite à multiplicação de Al-Qaedas, é o ecrã no mundo das chamadas "garantias democráticas"…
Depois do 11 de Setembro, não vimos nenhum passo construtivo para alcançar a paz no conflito israelo-palestiniano. O último "roteiro para a paz" foi totalmente destruído pelo muro da vergonha na Cisjordânia e pelas "mãos livres" desse psicopata que é o Primeiro-Ministro de Israel, Sharon. Será que não se apercebem que cada quilómetro daquele muro é um arsenal para células terroristas?
Apesar dos insistentes apelos de Kofi Annan, depois do 11 de Setembro, as potências da coligação ou do G-8 não tomaram nenhuma iniciativa credível para combater a fome, a doença, a dívida do Terceiro Mundo. A preocupação de Bush com a SIDA, em África, é um acto patético e sem consequências. Será que não se apercebem de que a polarização da riqueza e dos recursos só cria desespero e espaço para o fundamentalismo religioso?
A retirada das tropas do Iraque é um acto de combate e de coragem, um acto de coerência. Nada justifica a mentira na política internacional.
Aqueles que mais descaradamente ou mais subtilmente vão fazendo passar a tese do choque das civilizações querem fertilizar os fundamentalistas muçulmanos e os fundamentalistas cristãos, estejam eles em Riade ou em Washington. Os líderes mundiais das várias referências religiosas opõem-se completamente a esse cenário medieval. Por que deixaram de os ouvir?! Por que deixaram de ouvir os líderes das várias referências religiosas?
A União Europeia tem a responsabilidade de se demarcar da política da administração Bush, de ter iniciativas positivas e concretas face ao Oriente Médio, ao Mediterrâneo, de cooperação económica e solvência dos fluxos comerciais com África e com a Ásia, de investir seriamente no combate às epidemias nestes continentes. E aqui a responsabilidade é de todos: dos que apoiam a guerra e dos que a desaprovam. É preciso investir seriamente na solidariedade. Perguntem aos eleitorados se não estão de acordo. Verão a resposta! Se há coisa que os espanhóis perceberam - e perceberam muito bem! - é que não basta investir em segurança, porque esse é sempre o anfiteatro de novos horrores.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O Governo português está em tempo de autocrítica. Bem podem achar que as ondas políticas de Espanha não chegam cá. Curiosamente, sempre acharam o contrário e até por excesso. Mas a mentira é insuportável e, a pouco e pouco, o choque da manipulação dá lugar à consciência de que o Governo é frívolo. O Primeiro-Ministro já não se ri, como o fazia, com o Primeiro-Ministro britânico, à porta do n.º 10 de Downing Street. Então, Durão Barroso explicava que Blair já sabia distinguir os Josés de Espanha e de Portugal. Hoje, até o Tony "está em maus lençóis".
A ironia maior é ver o Governo atrás do Presidente da República. O mesmo Governo que desafiou o Presidente da República nesta crise internacional, o mesmo Governo que, até hoje, não deu um contributo para a reforma das instituições internacionais, a não ser o seu apreço e o seu apego desmedido à NATO.
A retirada do contingente militar da GNR seria um primeiro passo. A presença desse contingente nem sequer tem nada a ver com um calendário de transição no Iraque. Há uma questão de dignidade nacional que tem de ser reparada. O povo português foi enganado e o Primeiro-Ministro tem de assumir essa responsabilidade.
Aqui ninguém cede ao terrorismo, mas também não cedemos à guerra e à mentira! Nesta mensagem, somos todos espanhóis!
Participando no eixo da mentira, Durão Barroso criou mais um défice, o pior, o mais gravoso, o que não lhe podemos perdoar, o défice de credibilidade e de verdade.
Dois anos depois de ter ganho as eleições, este Governo deve ser julgado todos os dias pelo que faz e, em particular, por este pesadíssimo défice: um défice na política externa, mas também um défice nas políticas internas. Dois anos depois, o País está muito pior: tem mais desempregados e tem menos investimento; tem mais pobres e tem mais injustiça; tem menos direitos e, sobretudo, tem mais irresponsabilidade; tem mais negocismo e tem menos transparência.
Estes foram dois anos annos horribilis para Portugal. A maioria tomou conta de tudo, os boys ocuparam o poder e os escândalos vão-se seguindo. O povo, esse, está pior.