I SÉRIE — NÚMERO 19
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resultar. É que pode iludir-se muita gente durante algum tempo mas não se pode enganar todos durante todo o tempo.
Aplausos do PSD.
Não há propaganda que convença os portugueses de que o senhor sempre defendeu a justiça da introdução de portagens nas SCUT para aqueles que as podem pagar, como não há propaganda que convença os portugueses que o senhor sempre defendeu o aumento dos impostos em catadupa.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Orador: — Não há propaganda que convença os portugueses que o senhor sempre defendeu o pagamento de taxas moderadoras diferenciadas e a introdução de taxas castigadoras a quem já tem a infelicidade de ter de ser internado ou operado num hospital.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Orador: — Não, Sr. Primeiro-Ministro! Houve muitos portugueses que confiaram em si mas não haverá, provavelmente, nenhum português que goste que o senhor o tome por parvo.
O senhor entrou neste debate com a nítida necessidade de falar da credibilidade da sua governação porque sente que a está a perder. Foi uma atitude defensiva de quem se sente acossado por uma insatisfação social crescente, de quem não compreende, de quem talvez até a considere injusta mas para a qual definitivamente não tem resposta nem projecto político mobilizador. É por isso que o senhor e o seu Governo transmitem hoje tantos sinais de insegurança.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Orador: — Podia falar-lhe do seu «cirúrgico» apagamento público quando as coisas correm mal ao Governo e da presença do primeiro responsável a assumir decisões e a corrigir disparates – mais se exigia! –, como podia falar-lhe do misto de irritação e de embaraço que o levam a cumprir compromissos da sua agenda «entrando, quase furtivamente, pela porta dos fundos». Mas não vou por aí. São, apesar de tudo, questões menores.
O que já não é uma questão menor é o ataque descabelado que, em evidente estado de necessidade por uma prova de autoridade, o senhor desfere contra a Região Autónoma da Madeira e os madeirenses.
Aplausos do PSD.
Não pense, Sr. Primeiro-Ministro, que não lhe percebemos a estratégia. O Governo está a passar um mau bocado. Sucedem-se as asneiras e as trapalhadas políticas, a quebra de compromissos eleitorais corrói-lhe a imagem de honestidade política, sente-se em apuros. Logo, toca de arranjar um alvo a abater, a concentrar as atenções num inimigo de estimação que lhe permita sublimar as frustrações da família socialista.
Aplausos do PSD.
Só que, nessa cruzada preconceituosa, o senhor espezinha um princípio fundamental. O senhor pode fazêlo, embora seja de gosto discutível, enquanto Secretário-Geral do Partido Socialista, mas não tem o direito de usar o cargo e a autoridade de Primeiro-Ministro para levar a cabo estratégias que são partidárias.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Orador: — A sua intervenção relativamente à Região Autónoma da Madeira foi a prova provada de que está a fazer política partidária de uma questão muito séria, que é de Estado e de regime. O ataque obsessivo e pessoalmente dirigido contra o Presidente do Governo Regional da Madeira, misturando funções de Estado com funções partidárias, não hesitando em lançar campanhas difamatórias eivadas de falsidades e alimentando um inusitado clima de crispação que vira portugueses contra portugueses é um acto de populismo primário profundamente recriminável.
Aplausos do PSD.
Revela, Sr. Primeiro-Ministro, uma visão claramente distorcida, quando não a total falência do sentido de Estado e de responsabilidade que se espera de um Primeiro-Ministro. É bom que o Sr. Primeiro-Ministro arrepie caminho, porque a sua estratégia está a levá-lo a passar das marcas.