59 | I Série - Número: 109 | 21 de Julho de 2007
Como estava a dizer, no «país de Sócrates», um idoso com uma pensão de 87 contos paga IRS, um jovem, na força da vida, recebe rendimento social de inserção, cada vez mais e cada vez maior.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
O Orador: — No «país de Sócrates, o Governo diz que os remédios baixaram, sobretudo todos os remédios, excepto aqueles que deixaram de ter comparticipação, que passaram a ter comparticipação menor ou que deixaram de ter majoração, ou seja, aqueles que mais atingem a população mais idosa.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
O Orador: — No «país de Sócrates», e permito-me terminar com isto, um eleitorado, há uma semana, penalizou o sistema político com 60% de abstenção,…
O Sr. Ministro dos Assuntos Parlamentares: — E não só!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Penalizou-o a si!
O Orador: — … o Parlamento, aprovando uma boa reforma do Parlamento, a primeira medida que tomou foi a de criar 230 assessores individuais para 230 Deputados.
Aplausos do CDS-PP.
Sr. Primeiro-Ministro, distinguem-nos políticas e, muitas vezes, valores. V. Ex.ª, um dia, definiu-se como um animal feroz. A mim, impressiona-me um pouco esse auto-retrato e não gostaria que o País passasse a considerar que o Primeiro-Ministro José Sócrates, para além de ser feroz, é perigoso.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Ana Drago.
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo, Sr. PrimeiroMinistro: Consta que quando Salazar já estava bastante envelhecido, depois de ter abandonado o poder, lhe escreviam jornais cheios de notícias edificantes sobre o regime. Depois deste debate, questiono-me sobre os seus serviços de assessoria de imprensa, se vivemos no mesmo País, se o Sr. Primeiro-Ministro lê os mesmos jornais que todos nós, se vê os mesmos telejornais… O Sr. Primeiro-Ministro não sabia sequer que o PS tinha perdido 17 000 votos nas eleições para a Câmara de Lisboa. Confundiu-se, com certeza, com os cidadãos que o PS trouxe de Cabeceiras de Basto e de Famalicão para celebrar a vitória do partido.
Vozes do BE: — Exactamente!
Protestos do PS.
Pareciam mais!… Mas este debate não trata sobre enganos, não deve tratar sobre ilusões, deve exactamente servir para reflectirmos e avaliarmos qual é a situação, o estado real do País, para avaliarmos o impacto das políticas que têm sido seguidas pelo Governo, para avaliar a vida dos portugueses. E para avaliar a vida dos portugueses, no meio de muita abstracção, há, por vezes, histórias, os chamados casos, que são exemplares.
A Maria do Carmo Rocha, auxiliar de acção educativa, foram-lhe diagnosticados quatro tumores cancerígenos e foi enviada para o trabalho 15 dias depois de ter sido operada à medula para extrair um tumor.
Um professor de Braga com 30 anos de serviço, já sem laringe, foi enviado para trabalhar e, aliás, trabalhou até morrer sem que lhe tenha sido atribuída uma reforma antecipada. Junta-se ao caso de uma professora de filosofia de Aveiro, que tinha leucemia e que também faleceu sem que lhe tenha sido concedida a reforma antecipada.
Todos estes casos aconteceram — e é um facto — no Ministério da Educação, e, com certeza, não é coincidência. Quando a Sr.ª Ministra da Educação disse que era necessário que todos os professores estivessem na escola nunca ninguém pensou que chegasse a esta situação.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Que vergonha!
A Oradora: — Ontem, ouvimos a indignação do Provedor de Justiça. As prestações sociais de emergência que devem acorrer aos que são os mais pobres dos pobres demoram, em média, dois anos para serem