22 | I Série - Número: 018 | 29 de Novembro de 2007
2008, deixa os norte-americanos muito chateados com Portugal! Isto vindo de um diplomata é, no mínimo, uma ousadia grave, que merecia uma resposta clara e atempada por parte do Governo português.
E o que o Governo português devia fazer era não apenas reduzir a presença do nosso país no Afeganistão (onde já perderam a vida dois nossos concidadãos soldados), como retirá-la em absoluto, de uma vez por todas, não como forma de retaliação ao que disse o representante dos Estados Unidos em Portugal, como é evidente, mas como reconhecimento de que estas invasões unilaterais são um erro inqualificável, que têm custado a vida a milhares de pessoas, e que não atingiram os objectivos a que se propuseram.
Portugal está em tempo de se demarcar desta política internacional bárbara liderada pelos Estados Unidos, que se arrogam donos do mundo e que apenas contribuem para tornar este planeta cada vez mais inseguro.
Assim, também deveria, já agora, o Governo português explicar à Administração Bush que essa de considerar despesistas as verbas utilizadas com o ensino da língua portuguesa nos Estados Unidos constitui uma minimização do nosso país, que vê a sua língua falada por mais de 200 milhões de pessoas, e um desrespeito aos luso-americanos em particular.
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Muito bem!
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Uma administração que já cobrou a cada família norte-americana 20 000 dólares com a guerra do Afeganistão e do Iraque deveria ter, simplesmente, outra noção de despesismo!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Uma vergonha!
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente e Srs. Deputados, temos assistido, um a um, aos quatro participantes da famigerada Cimeira das Lajes, nos Açores, a reconhecer publicamente que foram enganados quanto aos argumentos que justificaram o início da guerra do Iraque em 2003.
Sabiam todos que aquela guerra violava todas as regras de Direito Internacional, nenhum viu nenhuma prova concreta desses argumentos, que — é sempre bom relembrar — assentavam na existência e proliferação de armas de destruição em massa pelo regime iraquiano.
Os Estados Unidos forneceram durante anos armas ao regime de Saddam, mas aquelas armas biológicas estavam lá, em laboratórios móveis, o perigo era eminente, escreveram uma carta a outros líderes da União Europeia para se associarem à guerra, não lhes deram ouvidos, mandaram de peito aberto os seus concidadãos sozinhos salvar o mundo» Os resultados são hoje conhecidos. «Fomos enganados« — dizem eles! Até hoje, ainda não admitiram quem enganou quem ou, melhor dizendo, quem se deixou enganar por alma de quem! Por uma razão: todos quiseram enganar o mundo, todos construíram a mentira que envergonha a humanidade, mas vêm, depois, um a um, afirmar que se enganaram.
E, Srs. Deputados, dessa mentira colossal resultaram (apenas!) cerca de 70 000 mortos directos (a grossa maioria civis), mas, para além destes números oficiais, perspectiva-se que o número seja bem maior, e continua a crescer — ainda nos últimos dois dias foram nove os civis, entre os quais crianças e jovens, mortos por militares norte-americanos. Resultaram, ainda, (só!) dois milhões de refugiados iraquianos, mais outros dois milhões fugidos dentro do seu próprio país, mais quatro milhões com carência urgente de ajuda humanitária e a votação à pobreza de mais de 10 milhões de pessoas.
Foram avisados e alertados, por inúmeros relatórios e peritos que estiveram em missão no Iraque, de que os pressupostos daquela guerra eram falsos, mas não podiam acreditar nisso, porque o seu objectivo era fazer uma guerra no Iraque, e para isso esses relatórios e peritos não serviam! Construíram das maiores operações de intoxicação informativa e propagandística da opinião pública ao nível internacional.
Passados quatro anos e meio, a guerra no Iraque é ainda uma realidade, o drama humanitário é enorme, mas aqueles três membros da elite — Bush, Blair e Aznar — , mais um, que era o então Primeiro-Ministro português, actual Presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, o anfitrião, apenas dizem, a conta-gotas, que se enganaram, não perderam o sono por isso, e, eleitos ou não eleitos, mantêm, todos, lugar de destaque na cena política.
Sr. Presidente e Srs. Deputados, pode o mundo continuar a conviver com esta loucura? É esta a pergunta que Os Verdes hoje deixam. E é por considerarmos que Portugal deve demarcar-se disto mesmo que