36 | I Série - Número: 021 | 6 de Dezembro de 2007
criminalidade tem descido. Há fenómenos criminais preocupantes que se relacionam com a evolução da sociedade no seu conjunto, mas estamos a dar-lhes a resposta adequada.
O Sr. Paulo Portas (CDS-PP): — E os efectivos?
O Sr. Ministro da Administração Interna: — E eu confio que todos os Srs. Deputados se unam ao Governo nesse esforço de dar uma resposta adequada aos problemas de segurança e de criminalidade.
Aplausos do PS.
Vozes do CDS-PP: — E os efectivos?
O Sr. Presidente — Tem a palavra o Sr. Deputado João Oliveira.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados, a primeira preocupação que gostaríamos de manifestar nesta intervenção tem a ver com a falta de condições para que o sistema judicial cumpra a função que lhe compete, sobretudo no que diz respeito aos tribunais de trabalho e à garantia dos direitos dos trabalhadores.
Dou-lhe dois exemplos concretos do Tribunal de Trabalho de Lisboa.
Um despacho, datado de Setembro do corrente ano, refere o seguinte: «Dos quatro juízes que estiveram colocados neste 1.º Juízo até final das férias judiciais apenas o signatário se encontra em funções nesta data.
Para além da audiência de discussão e julgamento destes autos, estão designadas mais seis audiências nos dias 13 e 14 de Setembro de 2007. Assim, não sendo possível realizar a dos presentes autos, dá-se a mesma sem efeito, ficando adiada sine die». Isto passa-se num processo de 2004.
Num outro processo de 2006, pode ler-se o seguinte despacho: «A agenda do tribunal para o ano de 2008 encontra-se já totalmente preenchida com processos que deram entrada em tribunal em data anterior destes autos. Aguardem os autos até que se mostre disponível a agenda de 2009.» A segunda preocupação, Sr. Ministro da Justiça, tem a ver com o agravamento dos obstáculos no acesso ao direito e aos tribunais pelos cidadãos, sobretudo para aqueles que dispõem de menos recursos económicos.
Dou-lhe mais um exemplo.
De acordo com o novo Regime de Apoio Judiciário, proposto por este Governo e aprovado por esta maioria do Partido Socialista, um elemento de um agregado familiar que disponha, por mês, de 994,65 € não tem direito a apoio judiciário. Mas, de acordo com o Regulamento das Custas Processuais que este Governo se prepara para aprovar, um elemento desse mesmo agregado familiar tem de pagar, de uma só vez, 192 € de taxa de justiça, ou seja, quase um quinto do rendimento mensal disponível, para cobrar uma dívida. E mais: terá de pagar ainda todas as despesas do processo, como, por exemplo, uma peritagem, que pode atingir o «simbólico« valor de 960 €, isto ç, quase a totalidade do rendimento mensal disponível desse mesmo agregado familiar! Srs. Membros do Governo, para o PCP, a conclusão é óbvia: um sistema de justiça acessível a todos e que garanta os direitos e liberdades dos portugueses constitui um obstáculo para as políticas desenvolvidas pelo Partido Socialista e por este Governo. E é esta a razão que vos leva a atacar o sistema de justiça, por impedir que os portugueses a ele acedam.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Tiago.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo e Srs. Deputados, é cada vez mais óbvio — como o PCP tem vindo a denunciar — que o Governo age, sistematicamente, contra a participação cívica e democrática (com que, por vezes, até «enche a boca») e tem procurado limitá-la logo nas escolas.