23 | I Série - Número: 022 | 5 de Dezembro de 2008
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Sr. Presidente, Sr.ª Ministra da Educação, Srs. Membros do Governo, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados: Em 2006, José Sócrates abriu o ano lectivo garantindo que sem a «motivação dos professores e a mobilização das próprias escolas seria praticamente impossível» uma escola de qualidade. Parabéns, Sr.ª Ministra da Educação! Temos de reconhecer que ninguém fez mais pela mobilização das escolas do que a sua política. Falta a motivação dos docentes, mas este assunto, já o percebemos, não a faz perder um segundo do seu sono.
O que se passa dentro da escola, dentro das salas de aula, é secundário, desde que permita ao PrimeiroMinistro chegar às próximas eleições e dizer: avaliei os professores a qualquer preço! Pouco importa se, através de um modelo incompetente, a sua teimosia transforma o dia-a-dia nas escolas num autêntico inferno burocrático, se a perturbação sem nome que instaurou nas escolas perturba o rendimento dos alunos e obriga os docentes a horas intermináveis de trabalho.
O modelo é incompetente e imprestável, e já toda a gente percebeu. É tão incompetente que, em menos de um ano, já foi alterado por três vezes. Começou como uma experiência limitada, passou a provisório, na semana passada era «Simplex» e ficámos a saber que, agora, o «Simplex» já pode ser estendido até ao próximo ano, ou seja, até um momento mais oportuno, depois das próximas eleições.
Há duas semanas, a Sr.ª Ministra assegurava, e vou citá-la, que o modelo «é para levar até ao fim» e que «mesmo quando o estreito em que tenho de passar é apertado eu procuro passar».
«Passar pelo estreito», Sr.ª Ministra, com o seu «Simplex», é deixar cair a componente científica e pedagógica do trabalho docente?! O avaliador é avaliado porque avalia e nem precisa de ser bom professor?! E um professor é «Bom» porquê, Sr.ª Ministra? Porque foi a visitas de estudo e faltou pouco?! Passar pelo estreito é desistir, provisoriamente, dos resultados escolares dos alunos, em nome das próximas eleições?! Ou é mudar o acessório para manter um modelo em que já ninguém acredita e impô-lo aos professores depois das próximas eleições?! Diga aqui, hoje, Sr.ª Ministra, afinal de contas, o que pretende! Quando a Sr.ª Ministra acabar a sua passagem pelo «estreito da Avenida 5 de Outubro», o que sobrará, então, da escola pública?
Vozes do BE: — Muito bem!
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — A escola pública, que é hoje defendida por professores e por alunos! Ninguém seria capaz, Sr.ª Ministra, como a sua equipa foi, de pôr antigos formandos a avaliar os seus antigos professores de estágio e formadores ou colegas com menos classificação profissional, menos habilitações e menos currículo a avaliar outros colegas com melhores classificações, melhores currículos, mais experiência.
Os avaliadores são avaliadores porque foi assim que calhou na tômbola da sorte em que a Ministra tornou o Estatuto da Carreira Docente.
Vozes do BE: — Muito bem!
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — A verdade é que este modelo, Sr.ª Ministra, era o mais barato e o mais lucrativo que a senhora tinha à mão, porque, não existindo elementos externos às escolas, o Ministério poupa, obviamente, muito dinheiro e porque, como bem sabe, os resultados deste modelo vão produzir perdas nas expectativas salariais dos professores, entre 25% e 50%, impedindo mais de dois terços de atingir o topo da carreira. Esta é a verdade!
Vozes do BE: — Muito bem!
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Mas a Sr.ª Ministra, afinal, não quer avaliar, quer gerir carreiras e reduzir os custos de pessoal. Nada menos, nada mais! É por isso que o Governo não transige e insiste, contra tudo e contra todos, em denegrir e desvalorizar o trabalho de uma classe profissional em peso, desprezando e desvalorizando as maiores manifestações profissionais e a maior greve de sempre na educação.