19 | I Série - Número: 028 | 19 de Dezembro de 2008
o que falhou, sobre o que esteve em causa. E o Governo assumiu para si os riscos de uma operação comercial, que deviam ser assumidos pelas empresas.
Portanto, se não espero que o Governo adivinhe, esperava que o Governo tivesse alguma previsão e bom senso, e pudesse eventualmente fazer alguma análise dos mercados, para não passarmos pelo ridículo de ouvir o Sr. Primeiro-Ministro dizer que estamos perante um modelo único de investimento na Europa, um investimento que será exemplar para o mundo e de, seis meses depois, acabar por não existir nada.
Sr. Deputado, devo dizer-lhe o seguinte: só tenho a minha convicção pessoal, conheço a nova empresa, é da minha região, é uma empresa jovem e dinâmica, uma empresa que normalmente tem algum critério nos investimentos que faz. E, já agora, «puxando a brasa à minha sardinha», pois é uma empresa de Viseu, tenho alguma garantia de que a empresa fará um investimento sério. Até porque estamos a falar de umas minas que são o maior filão de zinco da Europa, para além da grande riqueza em ferro e em cobre, se juntarmos a mina do Gavião.
A minha pergunta vai, pois, no sentido de saber se o Sr. Deputado considera ou não que o que importa agora, para além de garantir a formação aos trabalhadores, é que o tempo de espera garanta a mobilização dos trabalhadores para que este investimento, desta vez, numa empresa portuguesa, uma empresa dinâmica, tenha algum sucesso.
O Sr. Presidente (Nuno Teixeira de Melo): — Faça favor de terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — É que se estivermos à espera que o Sr. Ministro da Economia venha garantir, como garantiu, um maior aumento dos postos de trabalho, temos uma certeza: o Ministro raramente diz a verdade e raramente acerta. A única garantia é que os trabalhadores têm de tomar nas suas mãos o futuro deste investimento e o futuro da exploração dessas minas.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (Nuno Teixeira de Melo): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado José Soeiro.
O Sr. José Soeiro (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Hélder Amaral, agradeço-lhe a sua pergunta, que, creio, suscita pelo menos duas questões muito pertinentes. Uma delas, que considero uma novidade desta governação do Partido Socialista, é esta: até há pouco tempo, o Governo dizia que o mercado devia funcionar, e justificou-o aqui várias através de diferentes ministros; agora, já ouvimos o Sr. Ministro da Economia dizer, como ontem, nesta Casa, que a Lundin Mining tinha sido surpreendida por vários factores, a saber, pela variação do preço dos metais, pela desvalorização do dólar face ao euro (imagine-se!) e pelo facto de o zinco não ter exactamente o teor que calculava que tinha quando apostou no seu investimento.
Lembro, Sr.as e Srs. Deputados, que a empresa que fazia as prospecções nesta zona era precisamente a Eurozinc, com a qual foi feito o primeiro negócio, ainda no tempo de um outro governo do Partido Socialista, que vendeu esta empresa à Eurozinc, em condições que hoje ainda não se conhecem.
Ora, não é aceitável que, cabendo aos Deputados fiscalizar a acção do Governo, haja uma recusa sistemática por parte do Governo de entregar a documentação que permita aos Deputados falar com rigor e objectividade sobre a matéria.
Ouvimos aqui, por vezes, a crítica de que a oposição trabalha em função do que dizem os media, mas a verdade é que, quando queremos trabalhar com os documentos que deviam ser fornecidos atempadamente para fiscalizarmos a acção governativa, invocam cláusulas de confidencialidade, quando não está em causa qualquer segredo de Estado — quanto muito, poderão estar em causa negociatas inconfessáveis, ou incompetência, negligência na gestão da coisa pública.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
O Sr. José Soeiro (PCP): — Ora, é isso que pensamos estar em jogo. É que, quando nos dizem «vejam na Internet», se víssemos na Internet, então, diríamos: andaram quatro anos a enganar o povo português,