22 | I Série - Número: 028 | 10 de Dezembro de 2010
Disse a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia que isto não se trata mais do que a mercantilização do comércio da poluição. Mas esta mercantilização do comércio da poluição — que no conceito da Sr.ª Deputada é «indigna» — foi subscrita por 180 países nas Nações Unidas, num acordo multilateral dos alguma vez mais sufragados pela comunidade internacional! E o que dizem estes dois acordos multilaterais? Dizem coisas simples: dizem que reconhecem o efeito antropogénico do Homem sobre o clima, o que é muitíssimo importante; definem os países entre esses malvados ricos poluidores, que estão no Anexo 1, que têm obrigações de redução de emissões, e todos os outros, onde se incluem a China, a Índia, o Brasil, a Indonésia e mais uns quantos, que, para a Sr.ª Deputada, pelos vistos, são uns coitadinhos, que têm de ser protegidos e que não têm obrigações rigorosamente nenhumas»!
Protestos da Deputada de Os Verdes Heloísa Apolónia.
E o impasse actual em Copenhaga é, justamente, o de perceber qual é o futuro desse princípio essencial do multilateralismo ambiental, perceber qual é o alcance dessas responsabilidades comuns, mas diferenciadas, numa altura em que pedimos tudo à Europa e aos Estados Unidos, e nada pedimos — tal como a Sr.ª Deputada nada pede — aos energívoros que estão a crescer a 7 ou 8% ao ano, sem qualquer respeito pelo ambiente, já agora, sem qualquer respeito pelos direitos humanos, já agora, sem qualquer respeito pelas leis laborais.
O futuro que a Sr.ª Deputada quer é o futuro em que as responsabilidades da mitigação, da redução de emissões, é só para o hemisfério norte e estes continuam a crescer e a poluir ao nível, ou até acima, dos Estados Unidos, sem nenhuma responsabilidade terem? Imagina que esse futuro pode existir, tem sucesso ou resolve os problemas a que a Convenção e o Protocolo de Quioto querem dar resposta? É porque o problema é o seguinte, Sr.ª Deputada: a temperatura se crescer mais de 2o acima das 280 partes por milhão de carbono equivalente na atmosfera, que tínhamos antes da Revolução Industrial, coloca verdadeiramente em causa a subsistência da Humanidade que, já agora, Sr.ª Deputada, só pôde crescer de 6 para 9 biliões de habitantes durante este século, porque dispõe de muita produção agrícola que já não é a produção agrícola natural que nós trouxemos à Terra. Trata-se, pois, de matar a fome, caso a Sr.ª Deputada não tenha percebido e uma coisa a que deveria ser sensível.
Mas qual é a posição do Partido Ecologista «Os Verdes»? Os senhores querem um futuro climático contra a vontade destes 180 países e sem troca de emissões? É esse o seu futuro climático? Como é que a Sr.ª Deputada espera atingir os resultados de temperatura globais previstas na Directiva IPPC, sem troca de emissões»? É com a solução do Partido Socialista? Com a miséria? É porque aquilo de que o Partido Socialista se gaba actualmente é que a nossa posição climática é melhor, porque como temos crise não temos produção, temos menos emissões.
Se a sua resposta para o futuro é a mesma do Partido Socialista, que é quando somos pobres estamos melhorezinhos no ambiente, desta bancada leva a resposta de que «não»! Nós queremos progredir, nós queremos ter mais prosperidade e isso significa, no futuro, uma partilha de responsabilidades entre os verdadeiros ricos e os verdadeiros pobres; não é entre aqueles que a sua cabeça organizou na Internacional Socialista, entre maus e bons, entre ricos e pobres, entre quem pode e quem não pode, que nós temos de dividir a responsabilidade futura na partilha de um mundo mais justo e de um mundo com menos emissões, um mundo mais limpo!
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (Luís Fazenda): — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr. Deputado José Eduardo Martins, então o senhor pensa que os outros não leram o Protocolo de Quioto — quando leram! — , mas não ouviu a intervenção que foi proferida e, se calhar, não ouviu outras intervenções que foram proferidas por parte de Os Verdes, a propósito desta matéria.